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Ex-responsável promete manter a Gazeta Mercantil em circulação

Grupo do empresário Nelson Tanure quer se desfazer do jornal e só continuará a editá-lo até o final deste mês; Luiz Fernando Levy promete solução

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

O diretor- presidente da GZM S/A e da GZM Participações Ltda, Luiz Fernando Levy, afirmou em comunicado que planeja manter em circulação o jornal Gazeta Mercantil, que corre o risco de ser extinto no final deste mês. "Não deixaremos de encontrar fórmulas negociadas que preservem a publicação do nosso jornal", afirmou Levy, que é filho do fundador da Gazeta Mercantil, Herbert Levy, e antigo responsável pela publicação.

Desde dezembro de 2003, o jornal tem sido editado pela Companhia Brasileira de Multimídia (CBM), do empresário Nelson Tanure. A CBM, no entanto, informou nesta segunda-feira que só manterá o jornal até o final deste mês. Depois desse prazo, Levy terá que encontrar uma maneira própria de editar, imprimir e distribuir o jornal.
 

 

A CBM está descontente com o negócio devido ao volume de dívidas – principalmente trabalhistas - da Gazeta Mercantil. Estimativas apontam que o endividamento seria de 200 milhões de reais, valor que nem a CBM nem o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo confirmam. Nas contas da entidade sindical, somente as questões trabalhistas custam cerca de 1 milhão de reais por mês para a Gazeta Mercantil.
 

"Essencialmente, o desinteresse em continuar o contrato de licenciamento e uso da marca Gazeta Mercantil é a imputação de dívidas que, absolutamente, não são da Editora JB [que pertence à CBM], e sim da GZM S.A., de propriedade de Luiz Fernando Levy", afirma o diretor-jurídico do grupo CBM, Djair de Souza Rosa.
 

O advogado também diz que, nos últimos cinco anos, a CBM realizou adiantamentos para cobrir compromissos da GZM S.A. superiores a 90 milhões de reais, devidamente certificados pela empresa de auditoria BDO Trevisan.
 

Luiz Fernando Levy tem outra versão para o desentendimento. Ele diz que a CBM quer devolver o jornal para não ter que arcar com as dívidas. “Terceiros credores, porém, passaram e pleitear que a CBM fosse considerada sucessora da GZM S/A e o Poder Judiciário tem acolhido a pretensão,o que parece ser o motivo principal da pretendida rescisão", afirma Levy em nota.
 

Ainda segundo Levy, o contrato de licenciamento da marca firmado em 2003 com a CBM previa que, durante 60 anos, a empresa de Nelson Tanure teria o direito de usufruir e explorar a marca Gazeta Mercantil mediante pagamento “de recursos para composição de passivos, principalmente, trabalhistas”.

Rosa, da CBM, afirma, no entanto, que a rescisão do contrato é plenamente justificável e não implica multa. Caso a Gazeta Mercantil deixe de circular, a CBM promete realocar os funcionários para suas outras empresas jornalísticas - a Editora Peixes e o Jornal do Brasil.
 

A CBM promete ainda colaborar para que o jornal continue a ser editado por Luiz Fernando Levy ou pelos próprios funcionários. A empresa não detalha de que forma seria concedida essa ajuda. Nem valores financeiros nem o prazo de apoio foram divulgados.
 

A possibilidade dos próprios jornalistas da Gazeta assumirem seu comando é remota. Funcionários consultados pelo Portal Exame afirmam não ter condições financeiras nem psicológicas para manter a publicação. A empresa tem atrasado salários constantemente e suspendeu as ajudas de custo às sucursais para pagamentos de telefone, internet e deslocamento para as reportagens.
 

História

Desde sua criação até o início desta década, a Gazeta Mercantil foi referência para empresários e para o mercado financeiro por ser o único jornal de circulação nacional dedicado exclusivamente a cobrir negócios e economia. Com isso, desfrutava de uma posição confortável no mercado de publicidade legal, uma vez que tinha a preferência das grandes empresas de capital aberto na hora da divulgação de seus balanços.
 

Os problemas financeiros tiveram origem nos anos 90, quando as grandes empresas de comunicação decidiram apostar suas fichas em novas tecnologias, em particular a Internet, e perderam dinheiro. A maioria dos sites jornalísticos não conseguiu atrair a publicidade para compensar os investimentos.
 

A situação piorou ainda mais quando o real se desvalorizou em 1999. As dívidas contraídas em dólar começaram a pesar para a Gazeta Mercantil. Em maio de 2000, quando o Valor Econômico fez sua estréia, o jornal passou a ter de enfrentar também um concorrente forte.
 

Além de ter o amparo de dois pesos pesados da mídia brasileira - os grupos Folha e Globo -, o Valor soube aproveitar os espaços deixados pela Gazeta que, em 2001, formalizou que estava em crise ao postergar o pagamento de fornecedores, atrasar salários e demitir jornalistas. Só naquele ano, foram dispensados ou deixaram a empresa, aproximadamente, 300 profissionais. Divisões como o Panorama e a Análise Setorial deixaram de existir.
 

É difícil dizer quanto ainda vale a marca e a estrutura da Gazeta Mercantil. Mas, caso saia mesmo de circulação, uma página do jornalismo econômico brasileiro terá sido virada.

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