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Qual será a cara dos EUA net zero, em 2050? Veja a resposta de Princeton

Conversamos com Eric Larson, pesquisador da universidade americana que elaborou estudo para antever como a maior economia do mundo se transformará com a neutralidade de carbono

Wind is blowing pollution from a coal burning power plant. (DWalker44/Getty Images)

Wind is blowing pollution from a coal burning power plant. (DWalker44/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 28 de julho de 2022 às 09h45.

O decreto foi assinado por Joe Biden: até 2050, os Estados Unidos precisam virar uma economia net zero. Para contribuir com a conquista dessa meta, a prestigiosa universidade de Princeton elaborou um grande estudo batizado de Net-Zero America. O objetivo é detalhar o que é necessário para o país atingir, de fato, a neutralidade de carbono no prazo almejado. Conversamos com um dos responsáveis pelo estudo, o engenheiro e pesquisador sênior Eric Larson, ligado ao Centro Andlinger de Energia e Meio Ambiente, que pertence à universidade de Princeton.

O que motivou a elaboração do estudo Net Zero América?

O estudo foi realizado com o objetivo de descrever de forma transparente, com alta resolução geoespacial e temporal, e o mais vividamente possível, qual será a cara da tecnologia industrial, do setor energético e da infraestrutura dos Estados Unidos ao longo da transição em direção ao fim das emissões de gases de efeito estufa, em 2050. O objetivo da análise era informar os formuladores de políticas públicas e os tomadores de decisão da iniciativa privada sobre as oportunidades e os desafios trazidos pela neutralidade de carbono.

Quando o assunto é neutralidade de carbono, quais são as principais dificuldades para traduzir promessas em progresso tangível?

São várias. Talvez a mais importante seja a falta de políticas e regulamentos governamentais que incentivem opções de baixo carbono. Existem várias, comercialmente falando. Mas elas ainda não são competitivas. Se os incentivos e as regulamentações estiverem devidamente alinhados com o caminho rumo à neutralidade de carbono, uma dificuldade adicional que dá para prever é essa: a taxa anual de implantação de uma ampla variedade de tecnologias e infraestruturas energéticas precisará ser muito mais alta do que se viu até aqui. Uma terceira e grande dificuldade é garantir e manter o apoio do público em geral e dos stakeholders. 

Quais foram as conclusões mais inesperadas do estudo?

Duas descobertas foram particularmente inesperadas. A primeira delas: o custo dos serviços de energia ao longo da transição para a neutralidade de carbono, até 2050, não será maior que os gastos com serviços de energia nos EUA nas últimas décadas. Deverá variar entre 4% e 6% do PIB. A segunda conclusão inesperada é a velocidade e a escala sem precedentes com as quais as tecnologias de baixo carbono precisarão ser implantadas em vários setores da economia. Só assim para atingirmos a neutralidade. 

Quais são os principais desafios para o setor energético?

São vários. Por exemplo, é preciso levantar e investir capital para atender o lado da demanda e da oferta em maiores quantidades e muito mais rapidamente do que os investidores estão acostumados. Os consumidores precisarão adotar veículos elétricos e outras tecnologias alinhadas à neutralidade de carbono. E num ritmo bem mais veloz com o qual costumam aderir a novas tecnologias. As companhias deverão desenvolver simultaneamente um número maior de projetos do que estão acostumadas, especialmente relacionados à geração e à transmissão de eletricidade de baixo carbono. Uma rede nacional de captura e armazenamento de CO2 deve ser construída do zero e operar a um nível de 1 bilhão de toneladas por ano ou mais até 2050. Interrupções significativas para comunidades construídas em torno das indústrias de combustíveis fósseis precisam ser minimizadas.

Com a pandemia resolvida, as empresas continuarão engajadas nas questões socioambientais ou, aos poucos, tudo voltará a ser como era antes?

Esta não é uma questão que o estudo abordou, mas dou minha opinião com alegria. Não acredito que tudo volte a ser como era antes, por duas razões principais. Primeiro, os impactos negativos das mudanças climáticas são cada vez mais vistos e sentidos em muitos países. E isso está fazendo com que a opinião pública esteja mudando fortemente em direção a ações reais para mitigar as mudanças climáticas. Uma maneira pela qual a população em geral pode transformar opiniões em ação é apoiando empresas que estão trabalhando por mudanças reais (e boicotando aquelas que não estão). Ações do tipo podem impactar a tomada de decisões corporativas. Em segundo lugar, há um reconhecimento crescente (em parte como resultado de estudos como o nosso) de que a urgência do problema requer ação de curto prazo e ações sustentadas, de longo prazo, que realmente resolvam. Isso significa que a ação climática precisará fazer parte das estratégias corporativas de longo prazo. Ajudará a fazer com que ações em prol do clima virem parte do “business as usual”.

Com tantas empresas anunciando metas de neutralidade de carbono, mas poucas ações concretas, dá para dizer que estamos diante de uma nova onda de greenwashing?

É outro ponto que o estudo não abordou, então só posso oferecer minha opinião. Certamente, há uma certa quantidade de greenwashing que continua. Mas, pelas razões que articulei na minha última resposta, acredito que haverá cada vez menos greenwashing e mais ações reais para combater as mudanças climáticas com o passar do tempo. Quanto à China, pode-se discordar de seu sistema político, mas ela tem uma capacidade maior, talvez superior à de qualquer outro país, de atingir sua meta de neutralidade de carbono. E isso por causa de seu sistema político.

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