Carros parados em estacionamento: atualmente, os negócios de longo prazo somam 30% da receita da Estapar, mais que o triplo dos 8% que representavam em 2009 (Stock.xchng)
Da Redação
Publicado em 23 de setembro de 2013 às 09h31.
São Paulo - Estacionar o carro de terceiros não é apenas uma prestação de serviço, mas um negócio de infraestrutura para transporte e mobilidade urbana. É com essa visão que o presidente da Estapar, André Iasi, lidera uma transformação na maior companhia de estacionamentos da América Latina. Isso significa que, além de alugar espaços para administrar estacionamentos, a Estapar está disposta a investir em projetos de incorporação imobiliária, assumir concessões públicas e até comprar shopping centers para ficar com as vagas de garagem.
O novo projeto da Estapar foi desenhado pelo banco BTG Pactual, que comprou uma fatia de 50% na empresa em 2009. De lá para cá, elevou sua participação para 72,7% e captou outros investidores.
Com dinheiro no caixa, a empresa pôde alçar voos mais altos. Antes, não tinha fôlego financeiro para entrar em projetos maiores e o negócio se restringia ao aluguel de imóveis para montar estacionamentos.
No ano passado, por exemplo, a empresa comprou o shopping Brascan Open Mall, que abriga o cinema Kinoplex no bairro Itaim Bibi, em São Paulo, só para ficar com as vagas de garagem. Nosso negócio não é administrar shopping, é estacionamento. A ideia é vender a área de lojas, explica Iasi.
O investimento imobiliário foi uma das portas que se abriram para a Estapar após o aporte feito pelos investidores. A empresa tem uma equipe de três arquitetos, apenas na área comercial, dedicados exclusivamente a projetar estacionamentos para empreendimentos imobiliários. A empresa passou a se associar a incorporadoras na construção de prédios comerciais. Além de garantir o ponto, a vantagem de entrar no projeto desde o início é desenhar uma garagem mais eficiente - e rentável.
A parceria com o mercado imobiliário é uma questão de sobrevivência para a Estapar, já que os estacionamentos em terrenos baldios estão fadados à extinção nas grandes cidades. Como não dá para competir com as incorporadoras, o melhor é se aliar. O estacionamento vai continuar existindo, mas vai migrar da superfície para o subsolo, diz Iasi.
Recentemente, a empresa perdeu um estacionamento que funcionava em um terreno vazio, no Itaim Bibi, em São Paulo, para dar lugar a um prédio comercial de 17 andares. A companhia, no entanto, fechou contrato com a administradora do imóvel para gerir a garagem do edifício e hoje fatura 40% mais no local do que faturava antes, com o terreno.
Concessões públicas também estão na mira da Estapar. A empresa está avaliando, por exemplo, disputar garagens públicas subterrâneas, estacionamentos de aeroportos e contratos com prefeituras para Zona Azul Digital. O foco é aumentar as receitas de longo prazo. Isso dá mais previsibilidade para o fluxo de caixa da empresa, explica Iasi, ex-executivo do BTG e presidente da Estapar desde agosto de 2012. Ele assumiu o cargo no lugar de Helio Francisco Cerqueira, um dos fundadores.
Atualmente, os negócios de longo prazo somam 30% da receita da Estapar, mais que o triplo dos 8% que representavam em 2009. No período, o faturamento da empresa saltou de R$ 160 milhões para os R$ 710 milhões projetados para este ano.
Na sexta-feira passada, 20, a Estapar recebeu o aval para avançar em nova frente. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou a joint venture da empresa com a WTorre e a britânica British Car Auctions (BCA) para entrar no ramo de pátios de carros apreendidos e organização de leilões.
Faltam vagas
A Estapar foi uma das grandes beneficiadas pela expansão da frota nacional de veículos, que cresceu 34% nos últimos cinco anos e atingiu 79 milhões de carros em julho, segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito.
A empresa, que nasceu em 1981 com apenas um estacionamento em Curitiba, tem liderado com folga o segmento. Hoje, ela mantém 900 estacionamentos no País, enquanto a Multipark, segunda colocada, tem 270. Ninguém sabe dizer ao certo quem é a terceira colocada porque o mercado é muito pulverizado. É difícil entrar nesse ramo porque as melhores áreas já estão ocupadas. Não dá mais para criar uma Estapar do zero, diz o economista Paulo Guedes, administrador de um fundo que comprou 10,5% da empresa em 2012.
Com mais carros nas ruas, a demanda por estacionamentos subiu e, nas regiões mais concorridas, o preço também. Nos últimos 12 meses encerrados em agosto, os preços de estacionamentos foram elevados em 12,06%, o dobro da inflação oficial no período, segundo dados do IBGE.
A frota subiu e faltam vagas nas grandes cidades, por isso, o preço sobe. É uma questão de oferta e demanda, diz o professor de Economia da Universidade de São Paulo (USP) Heron do Carmo. A explicação do fundador da empresa, Helio Francisco Cerqueira, vai nessa mesma linha: Quem dita o preço é o mercado. Se a garagem está cheia é sinal de que é hora de subir o preço ou reduzir o volume de mensalistas.
Tudo isso faz da empresa uma companhia com alto potencial de geração de caixa, um status que a coloca no patamar de queridinha dos investidores. O setor de estacionamentos é um caso clássico de cash cow, ou seja, é uma vaquinha leiteira, disse Guedes.
Os dados que o presidente da empresa tem na ponta da língua reforçam a definição de Paulo Guedes. Iasi costuma recitar estatísticas de mobilidade urbana para provar o potencial do negócio que comanda. Os carros brasileiros passam em média 90% de sua vida útil na garagem, é uma delas. Levando-se em conta o preço dos estacionamentos na grandes cidades e os 10 milhões de carros que passam por mês pela Estapar, fica fácil entender a tese da vaquinha leiteira. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.