Estácio: "vamos ouvir todas as propostas que vierem e, por obrigação fiduciária, vamos levar ao conselho pra que seja levado aos acionistas", disse o presidente (Eduardo Monteiro/Exame)
Da Redação
Publicado em 17 de junho de 2016 às 13h01.
São Paulo - Disputada pelas concorrentes Kroton e Ser Educacional, a Estácio tem novo comando e agora diz que vai analisar as propostas, mas pode terminar por não escolher nenhuma delas e seguir sozinha.
A mensagem foi transmitida em teleconferência com analistas e investidores nesta sexta-feira, 17, pelo novo presidente e o maior acionista individual da empresa, o empresário Chaim Zaher.
"Vamos ouvir todas as propostas que vierem e, por obrigação fiduciária, vamos levar ao conselho pra que seja levado aos acionistas", disse Zaher. "E por que não o contrário? Nós voltarmos a fazer aquisições", completou.
"Eu sempre fui consolidador", concluiu, acrescentando mais tarde que a Estácio "nunca esteve à venda".
A Estácio anunciou a ida de Zaher para a presidência por meio de fato relevante na noite de ontem no lugar de Rogério Melzi, que deixa a empresa. Desentendimentos de Zaher com a antiga gestão da Estácio são relatados por várias pessoas próximas.
O empresário, que se tornou acionista da Estácio ao vender para a empresa fluminense uma instituição de ensino, a UniSeb, sempre manifestou interesse em participar da gestão da companhia, conforme essas fontes.
Durante a teleconferência, Zaher considerou que a companhia avaliará propostas de fusão mas disse que não se pode "violentar" a empresa com propostas inadequadas.
"Vamos considerar todas as propostas, só não vamos violentar", disse. "Que venham propostas que de fato são dignas do tamanho da Estácio", completou.
A Estácio afirmou que até o momento a única proposta oficial é a da Ser Educacional. Já a da Kroton foi descrita como uma "pseudoproposta" pelo diretor Financeiro e de Relações com Investidores da companhia, Pedro Thompson.
Oficialmente, a Kroton apenas informou que está realizando estudos sobre uma combinação de negócios com a Estácio e mencionou uma relação de troca de ações que considerava o preço das ações da Estácio no mercado antes das primeiras notícias sobre uma negociação.
Fontes afirmam, porém, que a Kroton já iniciou conversas com um comitê interno da Estácio e que estaria disposta a pagar um prêmio pela empresa.
Sem mencionar se estava se referindo à proposta da Kroton, Zaher declarou que há oferta sobre a qual "não há nada na mesa". "Temos só pelo jornal uma proposta fora de qualquer sentido", declarou.
Ao assumir o cargo como executivo, Zaher deixou seu posto no Conselho de Administração da empresa e no comitê criado pela Estácio para avaliar as propostas de fusão.
Segundo a companhia informou, esse movimento ocorreu para evitar qualquer possível conflito de interesses. Zaher afirmou que "brigou" pelo interesse dos acionistas no comitê. "Agora vou brigar do mesmo jeito, mas do outro lado", declarou.
Operações
Zaher ainda fez elogios à operação da Estácio e contestou a perda de valor de mercado da companhia nos últimos meses.
Embora tenha elogiado a gestão anterior e mencionado o crescimento da companhia nos últimos anos, disse que "não é possível que uma empresa com a estrutura da Estácio possa ser sacrificada daquela maneira".
Para Zaher, a Estácio passou por um desgaste nos últimos anos em meio ao nervosismo dos acionistas diante de notícias como as restrições no programa de financiamento estudantil, o Fies.
Ele avaliou, porém, que o negócio segue bem. "Somos a noiva com quem todos querem casar e ninguém casa com uma noiva feia", disse.
O novo executivo da Estácio disse que já começa a avaliar iniciativas de curto prazo que reconquistem os acionistas. Entre as ações, mencionou esforços de controle de custos e captura de sinergias, mas não deu detalhes.
Para fontes do mercado, a Estácio veio perdendo valor em meio às disputas internas e à percepção de que a operação da Estácio é menos eficiente. Um fator chave nas grandes companhias privadas de ensino é a capacidade de manter um alto número de alunos por sala de aula, de forma a impedir que a formação de muitas turmas com poucos estudantes se torne onerosa.