Vale tudo (Choreograph/Thinkstock)
Karin Salomão
Publicado em 28 de fevereiro de 2018 às 16h15.
Última atualização em 28 de fevereiro de 2018 às 17h19.
No cardápio desta noite tem ceviche de banana-da-terra em leite de coco com lulas e camarão. O de amanhã poderia incluir bife bourguignon com açaí ou um guisado de cordeiro com cuscuz israelense. Se isso não conseguir aguçar seu apetite, talvez uma moqueca ou um ravióli de abóbora com molho bechamel consigam.
Esses pratos poderiam estar no cardápio de um novo restaurante exclusivo em alguma esquina do Brooklyn, mas na verdade eles foram criados por Thomas Troisgros, o chef franco-brasileiro do Olympe, restaurante com uma estrela Michelin no Rio de Janeiro. E são servidos em uma bandeja a mais de 9.000 metros de altitude.
Poucas refeições são menos apetitosas do que as comidas de avião. A Avianca Brasil está apostando que delícias culinárias e o sobrenome Troisgros - sinônimo de um império gastronômico de alto nível – conquistarão os brasileiros endinheirados.
A companhia com sede em São Paulo é a última das aéreas brasileiras a começar a voar para Nova York, entrando em um mercado já lotado. Assentos confortáveis e sistemas de entretenimento de última geração já não são suficientes, porque as companhias aéreas estão disputando acirradamente para conquistar os lucrativos passageiros da classe executiva. A comida do avião, infame por seu aspecto, consistência e sabor geralmente duvidosos, parecia uma maneira fácil de se destacar.
"Em voos longos, é da comida que você se lembra", disse o CEO da Avianca Brasil, Frederico Pedreira, em entrevista em Nova York após o voo inaugural da empresa para a cidade em dezembro.
As especialidades de Troisgros, cujo Olympe aparece frequentemente nas listas de melhores restaurantes do mundo, agora estão disponíveis nos voos internacionais da Avianca. A companhia aérea iniciou um voo diário sem escalas de São Paulo para Nova York em dezembro e agora tem quatro destinos internacionais, incluindo Miami, Bogotá e Santiago.
Mas oferecer uma experiência gastronômica no nível Michelin não é fácil, especialmente se a comida for preparada dentro dos limites da cozinha de um avião. Além disso, a altitude afeta as papilas gustativas e o olfato. Embora para alguns pratos uma pitada extra de sal tenha sido suficiente para equilibrar o sabor, outros foram mais complicados.
"Uma nova descoberta que fizemos é que as pimentas tendem a ficar ainda mais picantes por causa da altitude e da pressão. Percebemos isso quando experimentamos pela primeira vez a entrada, o ceviche", disse Pedreira, da Avianca. A receita foi então alterada para se adequar a paladares mais moderados.
Lançar um cardápio exótico ou convocar um chef renomado dificilmente poderia ser considerado uma inovação sem precedentes no setor da aviação, mas é verdade que uma refeição satisfatória é uma das principais prioridades para os passageiros em um voo internacional de longa duração.
"A boa comida é quase um requisito para muitas pessoas, porque em um voo de mais de três ou quatro horas, se você não tiver levado sua própria comida, você será obrigado a pedir algo ou a comer algo do que lhe for servido", Brian Foley, consultor de aeronaves executivas, disse em entrevista por telefone. "É importante que uma companhia aérea considere oferecer uma boa refeição, porque são necessários muitos assentos da classe econômica para igualar a receita gerada por um assento da classe executiva ou da primeira classe."