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Essa startup vai faturar R$ 3 milhões ajudando refugiados a achar emprego

Com esse negócio, a startup bateu o primeiro milhão em faturamento em 2022 e trabalha para triplicar de tamanho em 2023

Diogo Nogueira, Caio Rodrigues e Giulia Torres, Bruna Amaral, e Eduardo Caldeira, da Toti: startup quer ajudar refugiados a achar empregos (Toti/Divulgação)
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 23 de novembro de 2023 às 15h13.

Última atualização em 25 de novembro de 2023 às 09h08.

Poucos mercados cresceram tanto durante a pandemia como o de tecnologia. Só em 2022, o setor de tecnologia da informação (TI) cresceu 22,9% no Brasil comparado a 2021, que já vinha de um crescimento de 23% sobre 2020. E de acordo com a Advance Consulting, 2023 deve fechar no azul, com aumento de 23,8% sobre 2022, puxado por fortes demandas de nuvem e cibersegurança.

É verdade que há desafios no caminho. Alguns mais pontuais, como o forte inverno de poucos investimentos e reduções de tamanho das startups, principalmente no primeiro semestre do ano. Outros, mais sistêmicos, como a dificuldade para encontrar profissionais qualificados.

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É nesse segundo ponto que a startup Toti trabalha. A empresa é uma plataforma de capacitação tecnológica para aquecer a oferta de pessoas capacitadas a trabalhar com tecnologia da informação. Mas não são quaisquer pessoas profissionalizadas pelo negócio. O foco da Toti são as pessoas refugiadas e imigrantes.

Para se ter uma ideia do tamanho desse mercado, atualmente, 108 milhões de pessoas vivem em situação de migração pelo mundo, de acordo com a Acnur (Agência da ONU para Refugiados). Somente no Brasil, há cerca de 1,5 milhão de imigrantes, sendo que cerca de 650.000 são refugiados ou solicitantes de refúgio.

Com esse negócio, a startup bateu o primeiro milhão em faturamento em 2022 e trabalha para triplicar de tamanho em 2023. A projeção é que fechem o ano com receitas de 3 milhões de reais, quadruplicando o número de alunos migrantes.

Como a Toti nasceu

São cinco os fundadores da Toti, entre eles a CEO Bruna Amaral. Natural do Rio de Janeiro, começou a se interessar por trabalhar com refugiados durante a faculdade de relações internacionais.

Participando de um projeto de extensão, desenvolveu, com colegas, um plano de negócios entrelaçado a um projeto social. “Na época, nosso objetivo era desenvolver um projeto social para apoiar famílias refugiadas no Brasil”, diz.

Como a empreendedora tinha uma relação forte com educação  - sua avó é professora e sempre teve a casa rodeada de alunos -, quis trabalhar com isso. “A educação sempre teve um peso na minha vida, e no projeto de extensão, todos toparam trabalhar com refugiados”, afirma. “Foi assim que começamos a história da Toti, no Rio de Janeiro, em 2017”.

Inicialmente, mapearam três problemas que refugiados enfrentam no Brasil:

Foi nesse terceiro ponto que a Toti quis atuar. “Pesquisamos muito sobre empregabilidade e entendemos que o setor de tecnologia é muito aquecido, com muitas vagas que não exigem, necessariamente, um diploma universitário”, afirma.

Como a Toti funciona hoje

A primeira prova de fogo da startup foi um ano depois que surgiram. A primeira turma de alunos começou o ano letivo com 14 estudantes e terminou com quatro. A desistência no meio do caminho surpreendeu os empreendedores. A estratégia? Entender o que fizeram de errado. “Olhamos para os 10 que não se formaram”, diz Bruna. “Focamos nos aprendizados. Entendemos que precisávamos desenhar uma trilha para que a pessoa não desista do curso”.

Para ajudar no desenvolvimento do negócio depois da primeira falha, a Toti se vinculou ao BNDES Garagem, programadesenvolvido pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e executado pelo Consórcio AWL (Artemisia, Wayra e Liga Ventures) para acelerar negócios.A ideia era, além de estruturar bem a operação, encontrar novas fontes de receita que não o crowdfunding, como era até então.

Hoje, a Toti oferece cursos como de

Cada programa dura entre dois e seis meses. A seleção conta com quatro etapas: a inscrição, que é aberta sempre que novas vagas são disponibilizadas; a etapa de programação, em que uma breve demonstração do conteúdo abordado no curso é apresentada aos candidatos para que eles possam se preparar para um desafio final proposto, que também conta com uma análise de perfil e teste de linguístico em português. Na sequência, os candidatos passam por entrevista individual e seleção final.

Entre os aprovados, 65% se autodeclaram pretos ou pardos; 40,5% são trilíngues; 43,1% são bilíngues e 10,2% são poliglotas.

Como a empresa fatura

Depois de passar pela aceleração e estruturar um novo modelo de negócio, a startup desenhou três frentes de faturamento.

Um deles é prestando serviços voltados para empresas (B2B). Nele, a Toti faz o desenvolvimento do projeto para empresas que querem focar mais no lado social, dentro do report de ESG, ou que querem contratar profissionais específicos de alguma área. Um exemplo de cliente da Toti é o hospital Albert Einstein, que tinha uma demanda alta por uma linguagem de programação específica. A Toti desenvolveu o projeto e, depois de profissionalizar os estudantes, mais de 90% da turma foi contratada.

O outro serviço é para o governo, olhando pelo espectro da política pública. A empresa desenvolve programas para secretarias de cidadania, por exemplo.

E a última frente é a de organizações internacionais. A Toti faz, por exemplo, feiras de talentos e projetos educacionais.

Quais os números da Toti hoje

Com formação gratuita, a Toti já apoiou mais de 1.000 pessoas. As aulas podem ser ao vivo ou gravadas, a depender do projeto financiado pelas empresas empregadoras.

Desde que passou pela remodelação do negócio e estruturou as frentes de negócio, viu um salto no faturamento. Em 2020, as receitas eram de 250.000 reais anuais. Agora em 2022, foram 1,2 milhão de reais faturados.

Para 2023, vão fechar o ano com 3 milhões de reais em receita - ou seja, triplicando de tamanho. Daqui para frente, querem ampliar o público para o qual o serviço é prestado, chegando, por exemplo, a institutos sociais financiados por empresas. Além disso, querem desenvolver a própria plataforma proprietária de educação.

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