Escritórios compartilhados conquistam empreendedores no Brasil
Segmento de coworkings segue crescendo em ritmo acelerado no país. Flexibilidade e networking são os principais atrativos do novo modelo
paulacbezerra
Publicado em 17 de setembro de 2018 às 11h00.
Última atualização em 17 de setembro de 2018 às 11h00.
Empreender no Brasil, como sabemos, não é uma tarefa fácil. Burocracia para a abertura de empresas, alta carga tributária, custo do capital elevado e os pesados encargos trabalhistas são só alguns dos desafios que os microempresários precisam enfrentar. A boa notícia é que outras despesas – até outrora inevitáveis, como a locação de um escritório, a compra do mobiliário, instalação de linhas telefônicas e internet – hoje são totalmente dispensáveis graças ao crescente número de escritórios compartilhados à disposição no país, em especial nas grandes cidades.
Diante de uma demanda crescente, a oferta de espaços corporativos compartilhados no Brasil vem aumentando em ritmo acelerado. Após obter um crescimento de 114% no número de coworkings no ano passado, o segmento registrou nova alta de 48% em 2018, alcançando um total de 1 194 escritórios em todo o país. Entre os novos players do mercado brasileiro está o Spaces, fundado na Holanda em 2008 e hoje presente em mais de 40 países. Há pouco mais de um ano no Brasil, a empresa já conta com mais de 1 000 clientes fixos e milhares rotativos.
O Spaces possui atualmente quatro prédios inteiros no Brasil: três em São Paulo, nos bairros da Vila Madalena, Vila Olímpia e Berrini, e um recém-inaugurado no Rio de Janeiro, localizado em um antigo cinema tombado como patrimônio histórico com arquitetura art déco no bairro da Cinelândia, região central da cidade, com fácil acesso ao metrô e ao aeroporto Santos Dumont. Todas as unidades da rede funcionam 24 horas por dia, sete dias por semana, e oferecem desde endereços virtuais até espaços de trabalho built-to-suit de larga escala, com internet de alta velocidade, salas privativas para reuniões e equipamentos audiovisuais de última geração.
Com a crescente procura por espaços colaborativos de trabalho, o Spaces tem como meta quase dobrar de tamanho até o fim de 2019 – saltando dos atuais 111 para 200 espaços de coworking em 150 cidades nos cinco continentes. No Brasil, o potencial de crescimento também é gigantesco. De acordo com o Censo Coworking Brasil, há atualmente pouco mais de 88 000 estações de trabalho compartilhadas no país. Os estados de São Paulo e do Rio de Janeiro concentram quase metade dos espaços, mas já existem escritórios compartilhados em todos os estados brasileiros, como os da gigante Regus, outra marca do grupo IWG, detentora de mais de seis marcas mundiais de coworking.
“Ainda há muito espaço para crescimento. O modelo caiu como uma luva no Brasil, onde existe uma dificuldade muito grande para empreender”, explica Fernando Aguirre, cofundador da Coworking Brasil, responsável pelo censo. “Quando um empresário vai para um coworking, ele já começa a trabalhar no mesmo dia, não precisa se amarrar a contratos longos e, caso precise cancelar, é muito mais fácil”, diz.
O executivo também avalia que a maior parte dos clientes de coworkings no país ainda são profissionais liberais ou pequenas empresas com até seis funcionários, mas essa realidade deve mudar nos próximos anos, a exemplo do que já acontece no exterior. “Lá fora já existem companhias que deslocam setores inteiros para um espaço compartilhado, às vezes com 50 profissionais. Isso tende a começar a acontecer no Brasil”, afirma Aguirre, chamando a atenção para a estrutura, em alguns casos ainda modesta, de alguns escritórios no país. “Hoje nós não temos muitos coworkings que comportam grandes equipes. O Spaces é um dos poucos com estrutura para isso.”
Tendência global
O compartilhamento de espaços corporativos já é comum em todo o mundo. Estima-se que atualmente cerca de 3% de todo o mercado global de escritórios já seja ocupado por espaços de coworking – número que deve chegar a impressionantes 30% até 2030. Por aqui, muito mais do que racionalizar os custos dos empreendedores, o modelo também tem atraído um grande número de pequenas e médias empresas e até algumas multinacionais que já veem nos escritórios compartilhados uma excelente opção para a alocação de equipes em projetos de curta duração.
Mas não é somente a questão financeira que tem atraído cada vez mais profissionais autônomos e empresas para os coworkings. A liberdade para trabalhar em um local descontraído e propício para o networking também é apontada como diferencial dos escritórios compartilhados. “É uma opção melhor do que o home office, já que permite que as pessoas se relacionem, troquem ideias e experiências ao longo do dia. Esse é um formato que já vem sendo adotado até mesmo dentro de algumas empresas, com o objetivo de melhorar a fluidez da comunicação”, afirma Hamilton dos Santos, diretor-geral da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje).