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Entidades criticam patrocínio do McDonald's para Copa

Entidades representativas de trabalhadores são contra o fato de a rede de restaurantes ser uma das patrocinadoras da Copa do Mundo

Loja do McDonald's: empresa adota "práticas ilícitas de jornada de trabalho", dizem entidades (Germano Lüders/EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 30 de maio de 2014 às 17h10.

Brasília -Entidades representativas de trabalhadores enviaram carta aberta à Federação Internacional de Futebol ( Fifa ) contra o fato de a rede de restaurantes McDonald's ser uma das patrocinadoras da Copa do Mundo de 2014 no Brasil.

De acordo com o documento, as uniões de sindicatos e de associações da sociedade civil signatárias repudiam a escolha do McDonald's como patrocinador oficial da Copa do Mundo.

As organizações pedem a exclusão da rede da lista de patrocinadores do evento, pois entendem que a empresa adota "práticas ilícitas de jornada de trabalho, submissão dos trabalhadores, alimentação inadequada, descontos indevidos na folha de pagamento, salários inferiores ao mínimo legal e o mais gritante, o trabalho infantil, entre outras práticas degradantes de exploração da mão de obra".

Endereçada ao presidente da Fifa, Joseph Blatter, a carta é assinada pela Confederação dos Trabalhadores em Turismo e Hospitalidade (Contratuh), União Internacional dos Trabalhadores da Alimentação e Agricultura (Uita), Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST), pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH), pela Associação Latino-Americana de Advogados Laboristas (Alal) e pelo Centro Humanitário de Apoio à Mulher (Chame).

As entidades argumentam que a federação qualificou como patrocinadora oficial uma empresa conhecida pela "escassa salubridade de muitos dos alimentos do seu cardápio, como também por explorar, maltratar e discriminar seus trabalhadores e trabalhadoras".

"Esperamos no mínimo que o McDonald's seja descredenciado como patrocinador. A Fifa tem de ser coerente com seu discurso, ou que cobre o posicionamento [da rede para] que se adeque aos bons costumes e aos bons hábitos trabalhistas", informou à Agência Brasil o presidente da Contratuh, Moacyr Auersvald.

De acordo com ele, a rede de restaurantes é geradora de muitos empregos no país - estima-se entre 40 mil e 42 mil postos de trabalho.

Para o presidente da confederação, as condições em que as pessoas trabalham, no entanto, são questionáveis.

"Quarenta e quatro mil pessoas trabalhando é bom? Sim, não resta dúvida. Mas quais são as condições em que elas trabalham? Normalmente é o primeiro emprego, em que as pessoas não têm experiência e eles se aproveitam dessa possibilidade", disse Auersvald.

Na carta, as entidades alegam que o Código de Ética da Fifa prevê que a federação deve zelar pela integridade e a imagem do futebol no mundo, assim como proteger a imagem do esporte "evitando condutas e práticas ilegais, imorais ou contrárias aos princípios éticos reguladores e que poderiam manchá-la ou prejudicá-la".


Segundo o presidente da Contratuh, uma das questões que mais preocupam os sindicatos é o emprego de mão de obra de adolescentes nas lanchonetes.

Conforme explicou Auersvald, menores de 14 anos a 16 anos são contratados em regime de aprendizagem - em que o trabalho tem de ser restrito a determinadas atividades -, o que não seria respeitado.

De acordo com ele, o Ministério Público do Trabalho do Paraná (MPT) tem documentos que comprovam a situação de menores de 14 anos nessas condições e corre um processo na Justiça do estado.

A ação cobra multa de R$ 10 milhões para que McDonald's se adeque.

"No Paraná, há uma ação em questão em que há menores apreendidos trabalhando na chapa, com gordura e contato com produtos químicos, o que não é permitido. Sem considerar a questão da pressão a que essas pessoas são submetidas", informou.

Na carta à Fifa, que será traduzida para inglês, espanhol e francês e enviada à Organização Internacional do Trabalho (OIT), ao Ministério Público do Trabalho (MPT), ao Ministério do Trabalho e à Anistia Internacional, as entidades retomam casos em que o McDonald's foi condenado pela Justiça trabalhista no Brasil - como o em que a rede foi condenada a pagar R$ 7,5 milhões por danos morais coletivos - e de discriminação e repressão antissindical.

Segundo o presidente da Uita, Gerardo Iglesias, a mesma situação denunciada no Brasil ocorre em outros países da América Latina - em especial a questão da repressão sindical.

De acordo com Iglesias, o Sindicato dos Trabalhadores do McDonald's do Uruguai, que fazia parte da Uita, encerrou as atividades em 2008 por pressão da empresa.

"A discriminação sindical é emblemática. Fizemos essa carta ao senhor Blatter porque a Fifa fala de discriminação racial, mas o McDonald's faz discriminação sindical. Houve manifestações em mais de 40 cidades do mundo em maio deste ano com trabalhadores denunciando a precariedade laboral, os baixos salários e a falta de política de negociação da rede", informou Iglesias.

Para ele, a carta aberta à Fifa é uma estratégia para fazer que a empresa abandone "a política de baixos salários e antissindical".

Em resposta à carta, a Arcos Dourados, rede à qual pertence o McDonald's no Brasil, informou que o documento foi recebido com "um misto de surpresa e repúdio".

"A empresa [Arcos Dourados] rechaça a tentativa das entidades de induzir a Fifa e a opinião pública a acreditarem que existem más condições de trabalho em nossa rede ou má qualidade dos produtos oferecidos".

A empresa informou que esclarece, com tranquilidade e transparência, as acusações feitas pelas entidades e que há plena convicção da legalidade das práticas laborais e do cumprimento de todas as normas e legislações trabalhistas.

"Todos os empregados são registrados de acordo com a legislação e remunerados conforme as convenções coletivas propostas pelos sindicatos; recebem refeição e benefícios, como assistência médica e odontológica".

Sobre os casos citados pelas entidades, como a decisão da Justiça no Brasil, a Arcos Dourados informou que os questionamentos estão apaziguados e as determinações, sendo rigorosamente cumpridas ou em andamento.

De acordo com a empresa, o McDonald's investe R$ 40 milhões em treinamento e cursos aos funcionários; desenvolve diversos programas de incentivo; oferece, nas salas de break – onde fazem suas refeições e intervalos -, computadores com acesso à internet; e busca incentivar a conscientização e a prática da responsabilidade social, dentro e fora da empresa.

A Agência Brasil entrou em contato com a Fifa, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem.

São Paulo - Como parte de sua campanha “Além da Cozinha”, o McDonald's lançou o site http://www.alemdacozinha.com.br em fevereiro de 2013, uma plataforma para os internautas perguntarem qualquer coisa para a rede de fast food . Passados dez meses, as perguntas (e as respostas) contidas no site chamam a atenção. Conforme ressaltou Roberto Gnypek, diretor de Marketing da Arcos Dourados, empresa que opera a marca McDonald’s no Brasil, à época de lançamento da iniciativa, ela foi feita para ser o “símbolo máximo” da “transparência e preocupação” da rede em relação aos seus consumidores. O Adnews separa abaixo 10 perguntas "cabeludas" que alguns consumidores da rede tinham vontade de fazer, mas nunca tiveram a oportunidade. É claro que, com a possibilidade de perguntar qualquer coisa, as questões bizarras e com toques de humor não seriam uma raridade. O McDonald’s, num exemplo de transparência, tem respondido todas elas. Em tempos de SAC 2.0 e mídias sociais, a campanha pode servir de exemplo para muitas empresas.
  • 2. 2. “Muitos falam que a carne é feita de minhoca. Isso é verdade?”

    2 /9(Ines Zgonc/Wikimedia Commons)

  • Veja também

    Resposta do McDonald's: “Olá, Marcos, isso é um mito. Nossa carne é 100% bovina :)”
  • 3. 3. “Não seria mais higiênico se os funcionários utilizassem luvas durante a fabricação dos lanches? Eles suam.”

    3 /9(Guang Niu/Getty Images)

  • Resposta do McDonald's: “Usamos luvas para preparar alguns itens do nosso cardápio como as saladas, e quando se manuseia itens crus. No entanto, não usamos luvas na fila de preparação (onde preparamos nossos hambúrgueres). Cumprimos os requisitos sanitários obrigatórios de cada país em relação aos procedimentos para a preparação dos alimentos de maneira segura e para manter as mãos limpas. Acreditamos que um procedimento eficaz de higienização das mãos é mais eficiente que as luvas (que podem sujar, contaminar ou rasgar). No McDonald's, nos certificamos de capacitar todos e cada um de nossos funcionários sobre como e quando lavar as mãos adequadamente como também manipular os alimentos de forma segura. Os Ministérios da Saúde de cada região inspecionam nossos restaurantes de maneira rotineira para verificar que se cumpram os procedimentos, além das nossas verificações internas. Obrigado pela sua pergunta.”
  • 4. 4. “Por que os seus hamburgueres são tão deliciosos? Qual é o segredo?”

    4 /9(Getty Images / Allison Shelley)

    Resposta do McDonald's: “null”
  • 5. 5. “A carne que vocês usam é Friboi?”

    5 /9(Divulgação)

    Resposta do McDonald's: “Nossa carne é fornecida pelas empresas JBS e BRF. Obrigado por sua mensagem :)”
  • 6. 8. “É verdade que as vacas que vocês usam não têm cabeças?”

    6 /9(Getty Images)

    Resposta do McDonald's: “Não, isso não é verdade.”
  • 7. 9. “Na minha cidade os atendentes são muito preguiçosos e pouco motivados. Quais são as políticas de motivação?”

    7 /9(Getty Images)

    Resposta do McDonald's: “A empresa atua e treina continuamente todos os funcionários dentro dos mais altos padrões de qualidade, saúde e limpeza e está dentro de todas as normas da vigilância sanitária. Atualmente, são realizados treinamentos e cursos em todos os restaurantes, centros de treinamento e em nossa universidade corporativa para garantir o que há de melhor para nossos clientes. Eventuais manifestações são analisadas pontualmente e caso seja identificada alguma irregularidade são aplicadas sanções disciplinares.”
  • 8. 10. “Como vocês cuidam dos animais que são utilizados nos hambúrgueres?”

    8 /9(Cate Gillon/Getty Images)

    Resposta do McDonald's: "No McDonald's acreditamos no trato ético de animais e que os animais devem ser criados, transportados e abatidos em um ambiente sem crueldade, abuso ou negligência. Nossos fornecedores são auditados de forma contínua para assegurar que cumpram tais normas. Estas auditorias são exaustivas e reconhecidas mundialmente pelo seu rigor e liderança, sendo o McDonald´s o pioneiro e líder neste campo. Todas as fazendas que fornecem aos fornecedores do McDonald's, motoristas e funcionários das instalações devem participar de um treinamento sobre bem-estar animal. Além disso, há auditorias externas anuais que garantem o cumprimento das nossas normas e medidas por parte dos nossos fornecedores. Se não são aprovados na auditoria, pode significar o fim da relação comercial com o fornecedor. Todos os nossos fornecedores de proteínas, devem ser aprovados, sem exceção.”
  • 9. Agora veja bordões publicitários que caíram na boca do povo

    9 /9(Reprodução)

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