Negócios

Empresas gigantes não são boas em promover mudanças, diz John Kotter

Em entrevista a EXAME.com, o guru de gestão e liderança John Kotter fala sobre como uma empresa pode plantar a semente da mudança

Para guru John Kotter, processo da mudança precisa ser institucionalizado   (Divulgação)

Para guru John Kotter, processo da mudança precisa ser institucionalizado (Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 4 de abril de 2011 às 06h36.

São Paulo – Mudar é difícil, exige dedicação, esforço e boa dose de coragem para sair da inércia e romper padrões. Mesmo assim, mudar é necessário, principalmente dentro de uma organização que quer chegar ao topo ou se manter lá por mais tempo. O professor emérito de liderança na Harvard Business School, John Kotter, afirma que, até em empresas onde os resultados são positivos, a mudança é sempre necessária, diante da rapidez com que o mercado se movimenta.

No entanto, ele diz que as “gigantes” dificilmente sabem como adotar um processo de mudança, geralmente associado a um líder específico e quase nunca ligado à cultura da organização. Para ele, as companhias que realmente são experts na arte de se reinventar são as menores, que estão entre a primeira e a terceira geração a partir dos fundadores. Nesta semana, o guru vem ao Brasil para o Fórum HSM de Gestão e Liderança, mas, antes, falou com exclusividade a EXAME.com sobre como até as grandes empresas podem mudar.

EXAME.com - Por que as empresas e pessoas resistem tanto à mudança?

John Kotter - Por muitas razões. Primeiro, eles não veem a necessidade para isso, literalmente. De onde eles se sentam, todas as coisas parecem estar bem. Se eles veem a necessidade de mudança, pensam que ela precisa ser feita pelo outro, não por eles. Eu acho que as pessoas resistem à mudança porque elas não são confiantes em relação àqueles que falam sobre a necessidade de mudar as coisas. Resistem porque não entendem onde ou como mudar, pois seguem seus estatutos, discursos e documentos. Resistem porque um dia tentaram fazer algo novo, e, em contrapartida, seus chefes falaram “pare com isso”. Ou porque já tentaram ajudar seu departamento ou empresa antes, mas falharam e por isso ficaram muito céticos. Porque põem esforços mas não veem resultados, então, ficam cansados, não querem se esforçar mais. Enfim, porque é difícil.

EXAME.com – Há exemplos de grandes empresas que fazem mudanças constantemente?

Kotter – Você não conheceria a maioria das empresas que realmente são boas, porque são de médio porte. As empresas grandes tendem a mudar por um período de tempo, mas isso cessa, depois que o grande líder sai. As gigantes dificilmente conseguem mudar sempre. Quem mais faz isso são empreendedores de primeira, segunda ou até terceira geração, mas não são gigantes. A Apple é um gigante que inova muito, mas não sabemos o quanto dessa mudança realmente faz parte de sua cultura ou o quanto vem de Steve Jobs.

EXAME.com - Quais são as qualidades necessárias para uma pessoa guiar a mudança?

Kotter - Bons líderes tendem a ser bons para guiar a mudança, então, quase todas as qualidades associadas a bons líderes se aplicam. Pessoas que têm o desejo de desafiar as regras, desejosas de procurar novas oportunidades, trabalhar com outros para clarear a visão do que pode ser feito, tirar vantagens dessas oportunidades, com vontade e habilidade para comunicar muito e efetivamente, pessoas que não têm medo de dar poder a outros colegas, e têm a capacidade de inspirar outras e acabar com as barreiras que os impedem de comprar uma ideia e fazer acontecer.


EXAME.com – Quais são os passos para um líder criar um processo de mudança?

Kotter – Primeiro, o gestor deve criar um senso de urgência sobre alguma grande oportunidade, para ser visto e sentido por um grande número de pessoas. A partir disso, um poderoso grupo deve emergir, formado por pessoas de diferentes partes da organização e que sentem essa urgência. Neste segundo passo, as pessoas mais indicadas começam a trabalhar como um grupo, um motor poderoso para fazer algo acontecer. Depois, eles precisam clarear a visão de mudança: o que precisamos para mudar, como ela vai parecer daqui a alguns anos, como precisamos parecer daqui a alguns anos, como tirar vantagem das coisas que temos e que tipo de iniciativas temos que tomar para mudar?

EXAME.com – E depois disso?

Kotter – O próximo passo é dar suporte à comunicação e comunicar, comunicar, comunicar. Há milhares de jeitos diferentes para as pessoas comprarem a ideia e, quando isso acontece, você começa a agir. O passo de número cinco consiste em ajudar os integrantes do grupo a seguirem seu caminho, mover os obstáculos e sair da frente deles, para terem algum progresso. No sexto passo, é preciso garantir que você tenha grandes vitórias no curto prazo, para que a mudança que você propõe seja factível. É importante celebrar essas vitórias, recompensar as pessoas por trabalhar duro, pois isso diminui as tensões dos outros que, talvez, não estejam tão atentos ao que está acontecendo.

EXAME.com – E o próximo passo?

Kotter – No sétimo passo, você deve repetir todo esse ciclo de novo e de novo, reforçando o time, deixando-o mais forte, sempre checando as pessoas, as barreiras, recrutando mais gente para comprar a ideia, trazer outra vitória e trabalhando até que a mudança se torne realidade. Depois disso, é preciso lembrar que a mudança é frágil e precisa ser institucionalizada, absorvida pela cultura da empresa. Assim, você garante o fim de todas as barreiras que a instituição coloca para a mudança.

EXAME.com – A mudança é algo sempre bom, mesmo quando a empresa está em um momento positivo?

Kotter – É claro que você pode mudar as coisas de um jeito estúpido, mas, com a onda da mudança se movendo rapidamente, também por causa da tecnologia, está ficando cada vez mais perigoso não pensar sempre em como mudar e criar a nova versão dos processos, mesmo se você for o número um no seu negócio. Porque, se você não muda e outra pessoa muda, você sai da posição que está e se move para outro patamar pior em pouco tempo. Não é seguro não mudar. A mudança se torna mais forte a cada momento. Mesmo se você está indo bem, não importa, se você não muda, você começa a ficar irrelevante, a ficar menor.

EXAME.com – Qual é a relação entre a razão e o sentimento no processo da mudança?

Kotter – Muitos gestores tentam ser muito racionais, analisar situações, entender os problemas, descobrir soluções, pensar, pensar, pensar, mas há muitas mudanças que precisam ser feitas. A emoção é algo muito importante para a mudança. Quando as pessoas veem ou têm a experiência de algo que, de fato, afeta no modo como sentem, isso muda seu comportamento. Esse tipo de emoção é muito importante e isso não é algo ensinado nas escolas de negócios.

Acompanhe tudo sobre:gestao-de-negociosGurusInovaçãoLiderança

Mais de Negócios

15 franquias baratas a partir de R$ 300 para quem quer deixar de ser CLT em 2025

De ex-condenado a bilionário: como ele construiu uma fortuna de US$ 8 bi vendendo carros usados

Como a mulher mais rica do mundo gasta sua fortuna de R$ 522 bilhões

Ele saiu do zero, superou o burnout e hoje faz R$ 500 milhões com tecnologia