Thiago Marrachini, fisioterapeuta intensivista (à esq.), e Guilherme Thiago de Souza, idealizador do projeto (à dir.) (Life Tech Engenharia/Divulgação)
Juliana Estigarribia
Publicado em 4 de maio de 2020 às 12h01.
Última atualização em 4 de maio de 2020 às 17h27.
Um empresário da capital paulista decidiu reunir esforços para criar uma solução no combate ao novo coronavírus. O engenheiro Guilherme Thiago de Souza, presidente da empresa de tecnologia Roboris, conseguiu desenvolver localmente um capacete de ventilação não invasiva que pode evitar a intubação de pacientes com covid-19 e, consequentemente, reduzir a necessidade de ventiladores mecânicos.
Um aparelho similar já é usado em países como a Itália para casos de internação por doenças respiratórias, incluindo a Síndrome Respiratória Aguda Severa (sars). Estudos sobre o capacete de ventilação não invasiva vêm sendo feitos desde a década passada para o tratamento da sars em instituições como a Universidade de Chicago. No Brasil, a Universidade Federal da Paraíba também está trabalhando em projeto semelhante.
Desde o início da quarentena no país, Souza resolveu procurar médicos e colegas do mercado para descobrir uma forma de ajudar no combate à covid-19 por meio da engenharia. O empresário recebeu a ajuda principalmente do cluster aeroespacial brasileiro, conjunto de empresas que integram a cadeia de fornecimento de peças e serviços para a Embraer.
Após semanas de exaustivos testes, o grupo de trabalho conseguiu chegar ao protótipo definitivo do capacete de ventilação, que começou a ser produzido na sexta-feira, 01.
O capacete de ventilação brasileiro, batizado de Bric (Bolha de Respiração Individual Controlada), tem como objetivo proteger pacientes da contaminação cruzada e a equipe do hospital, que também fica bastante exposta.
No caso da covid-19, inúmeros pacientes que ainda não estão em estágio grave da doença acabam ficando expostos a outros tipos de contaminação no ambiente hospitalar e, por esse motivo, estão suscetíveis à intubação.
“Este capacete pode mudar os rumos do combate ao novo coronavírus, porque vai deixar os respiradores para quem realmente precisa”, diz o empresário em entrevista à EXAME.
Ele afirma que profissionais da saúde, de hospitais a universidades, acompanharam o projeto de perto. A única restrição é para pessoas alérgicas ao látex (borracha). O aparelho é uma espécie de “bolha” ligada a um ventilador, que cria uma atmosfera rica em oxigênio para o paciente, que fica acordado.
Com filtros, o aparelho permite a dosagem contínua do oxigênio sem a necessidade da intubação. Por se tratar de um aparelho não invasivo, o capacete de ventilação aguarda apenas um cadastro na Anvisa.
"Estamos negociando com operadoras de saúde, que estão interessadas no produto, e vamos destinar uma parte do primeiro lote de produção para estudos e testes", diz Souza.
A Roboris, que atua na área de robôs industriais, destinou recursos próprios e dedicação, em tempo integral, para desenvolver o projeto e colocá-lo em prática o mais rapidamente possível.
“Muitas empresas quiseram nos ajudar, mas para uma tomada rápida de decisão, precisávamos que o processo fosse o mais simplificado possível”, conta Souza.
O primeiro lote de produção deve ficar pronto ainda nesta semana. Alguns processos produtivos envolvidos no projeto devem ser patenteados.
De acordo com o empresário, o capacete de ventilação será fabricado sob uma nova marca, Life Tech Engenharia, por questões legais. Outros cinco produtos da área de terapia intensiva já estão sendo desenvolvidos a pedido de empresas de saúde.
Souza afirma que só aguarda o retorno da Anvisa para acelerar o processo. "Estamos trabalhando todos os dias, inclusive aos finais de semana e feriados, para poder entregar o produto o mais rapidamente possível."