Em nova sede, Walmart quer mostrar por que é diferente da Amazon
Enquanto a Amazon fez concurso nacional para escolher sua nova sede, o Walmart, sem alarde, escolheu cidade onde a primeira loja da rede foi criada
Carolina Riveira
Publicado em 26 de maio de 2019 às 08h00.
Última atualização em 26 de maio de 2019 às 10h35.
São Paulo - Quando a varejista americana Amazon anunciou que construiria uma nova sede nos Estados Unidos, a história tornou-se um grande concurso para escolher o local do empreendimento, com 238 cidades apresentando suas candidaturas e competindo, literalmente, para ver quem concedia mais incentivos fiscais à varejista.
O maior concorrente americano da Amazon, o Walmart , também pretende construir uma nova sede a partir de 2019. Mas o projeto se mostra muito diferente do concurso de talentos fiscais promovido pela concorrente.
O Walmart anunciou que vai construir um novo campus na cidade de Bentonville, no estado do Arkansas, no sul dos Estados Unidos. Não por acaso: o Arkansas foi onde a varejista, fundada em 1962 pelo empresário Sam Walton, abriu sua primeira loja na história, e onde ainda tem sua sede atualmente. O novo campus, que deve ficar pronto em 2024, terá mais de 1.000 metros quadrados, alta tecnologia e inspiração vinda dos empreendimentos modernos do Vale do Silício.
Embora sem concorrer em um concurso nacional público, o empreendimento em Bentonville também deve contar, é claro, com generosos incentivos fiscais do governo local -- valores ainda não foram divulgados. O Walmart pagou em 2019 mais de 300 milhões de dólares ao governo do Arkansas, sendo uma das principais empresas instaladas na região.
A novela pela sede da Amazon
Na busca por sua "sede 2" (projeto batizado de "HQ2", sigla para headquarters, em inglês), que durou por mais de um ano desde 2017, a Amazon acabou desistindo de levar o projeto para a cidade de Nova York, uma das duas sedes escolhidas.
Políticos de oposição e sindicatos da região não gostaram das exigências da empresa de Jeff Bezos e dos mais de 3 bilhões de dólares em incentivos fiscais oferecidos pelo governador Andrew Cuomo e pelo prefeito Bill de Blasio à Amazon -- Cuomo chegou a brincar dizendo que mudaria seu nome para "Amazon Cuomo" caso a cidade de Nova York fosse escolhida.
Embora 70% dos moradores nova-iorquinos apoiassem o empreendimento, também havia o medo de que uma empresa do tamanho da Amazon pudesse atrapalhar os negócios locais. Em decisão difícil e até hoje debatida pela opinião pública local, Nova York abriu mão também dos 2.500 novos empregos e 27 bilhões de dólares em impostos que receberia nos próximos 20 anos.
A Amazon, agora, vai se restringir à outra sede escolhida ao lado de Nova York, a cidade de Arlington, no estado da Virgínia e nos arredores da capital americana, Washington DC. A região, assim como Nova York, fica na rica e desenvolvida costa leste dos Estados Unidos.
Ainda antes da rejeição sofrida em Nova York, a Amazon já havia sido criticada por ter escolhido a cidade, com políticos e americanos preferindo que a gigante do varejo levasse os investimentos para desenvolver áreas ainda necessitadas dos Estados Unidos.
A escolha por Nova York, por sua vez, era uma clara mensagem da Amazon de que estava crescendo para o outro lado do país e para além dos polos de tecnologia do Vale do Silício e de sua atual sede, em Seattle -- e que esse crescimento não encontrava limites nem mesmo na mais rica e importante cidade americana.
Por outro lado, a escolha do Walmart por Arkansas foi feita sem muito alarde e mostrou apego às raízes da empresa. Também pegou bem na opinião pública, levando novos empregos para uma região pouco desenvolvida. Os 17.000 empregados atualmente no Arkansas vão ser alocados no novo espaço, que também vai abrigar a criação de novos empregos uma vez pronto.
Brigas além da sede
Não é a primeira vez que Amazon e Walmart ficam em lados distintos e entram em polêmicas, diretas ou não, pelas decisões das empresas. No mês passado, os executivos das duas varejistas entraram em um bate-boca sobre quem pagava os maiores salários aos empregados.
Em abril deste ano, o presidente da Amazon, Jeff Bezos, aumentou o salário mínimo de seus empregados para 15 dólares por hora, e desafiou outras varejistas a fazerem o mesmo ou, "melhor ainda, ir a 16 dólares e jogar a pressão de volta a nós", conforme escreveu o executivo em carta aos acionistas.
Em resposta, o vice-presidente executivo de relações corporativas do Walmart, Dan Bartlett, compartilhou um artigo dizendo que a Amazon não pagou impostos ao governo federal em 2018, embora tenha lucrado 10 bilhões de dólares. "Olá, competidores varejistas aí fora (vocês sabem quem são), que tal pagarem seus impostos?", escreveu em seu Twitter.
A Amazon respondeu que, conforme a lei americana, não paga impostos federais por ter margens de lucro ainda pequenas. A legislação também reembolsa a empresa pelos prejuízos tomados nos últimos anos, quando a companhia ainda não havia conseguido alcançar lucratividade, e pelos investimentos feitos, com base em cortes de impostos estabelecidos em 2017 pelo governo do presidente americano, Donald Trump.
Já o Walmart pagou em 2018 mais de 3 bilhões de dólares em impostos federais.
Walmart e Amazon são as duas maiores varejistas dos Estados Unidos. Em 2018, o Walmart faturou 514 bilhões de dólares, enquanto a Amazon faturou 233 bilhões. O lucro da Amazon, que cresceu 232% entre 2017 e 2018, superou o do Walmart pela primeira vez na história, chegando a 10,1 bilhões de dólares, ante 6,7 bilhões do Walmart, que viu o lucro cair 32% no ano.
Embora o Walmart, mais tradicional, vença em faturamento e no segmento de lojas físicas, a empresa vem tentando crescer sua participação no e-commerce, onde a Amazon responde por metade das vendas nos Estados Unidos. Essa briga, ao que parece, vai continuar nos próximos anos -- do balanço trimestral aos salários e novas sedes.