Em negócio de R$ 20 milhões, empresa de SP compra startup para agilizar comércio exterior
Companhia detém cerca de 24% do market share do Brasil, e segue um crescimento de faturamento de 28% anuais nos últimos cinco anos
Repórter de Negócios
Publicado em 23 de fevereiro de 2024 às 11h06.
Última atualização em 28 de fevereiro de 2024 às 07h58.
Vender coisas entre países -- por mais que pareça algo tranquilo quando vemos as centenas de lojas globais espalhadas pela internet -- é, na verdade, bem complexo. Cada nação tem regras tributárias únicas. Além disso, é preciso fazer toda a logística da entrega de materiais e os pagamentos em dezenas de moedas diferentes.
Foi para tentar resolver tudo isso num sistema só que a eCOMEX NSI foi criada em 1986. Sediada em Limeira, no interior de São Paulo, a empresa tem um sistema que permite às companhias gerirem todo fluxo de vendas e importações. Na lista de clientes estão grandes marcas como:
- GE
- Petrobras
- Stellantis
- Siemens
"São clientes que importam e exportam muito. Estão no topo da balança comercial e usam ERP para controlar processos industriais e financeiros", diz André Barros, CEO da eCOMEX NSI. "Mas não conseguem lidar com a gestão tributária e logística do comércio exterior, é nisso que atuamos".
Um exemplo prático é a indústria automotiva, que depende da importação de peças. A eCOMEX resolve questões logísticas, financeiras e tributárias, facilitando a integração desses componentes na produção nacional. Também ajuda no passo seguinte, que é exportar os carros prontos para outros países, como a Argentina.
Para automatizar esses processos, a empresa está adquirindo a startup D2P, de automação da gestão de comércio exterior, numa negociação avaliada em cerca de 20 milhões de reais.
Qual a história da eCOMEX NSI
Fundada em 1986, a eCOMEX NSI desenvolve aplicativos para ajudar na gestão de processos de comércio exterior. Além disso, ela integra esses sistemas nos principais softwares de gestão do mundo. Conta hoje com 250 funcionários e 150 clientes.
"Quando eu entrei, a companhia tinha seis anos”, diz Barros. “Mas fui criando soluções que fizeram com que eu me tornasse sócio, e hoje sou um dos cofundadores. O fundador principal já saiu da companhia”.
A receita da companhia é gerada por meio de uma mensalidade recorrente de quem usa o sistema e uma tarifa de implantação. Atualmente, detém cerca de 24% do market share do Brasil, e segue um crescimento de faturamento de 28% anuais nos últimos cinco anos.
Por que fazer a aquisição agora
O movimento de agora é acompanhado por uma transformação digital que está em andamento no setor de comércio exterior.
Processos antigos de trocas comerciais entre países eram caros e extremamente burocráticos. O Brasil está atualmente na 124ª posição no ranking Doing Business do Banco Mundial, que avalia o ambiente de negócios global. O ranking considera a burocracia imposta aos empreendedores, analisando aspectos como facilidade de abertura de negócios, permissões de construção, registro de propriedades, obtenção de crédito, proteção a investidores, pagamento de impostos, negociação transfronteiriça e resolução de insolvência. A Nova Zelândia lidera o ranking.
“Mas melhores práticas estão sendo adotadas neste momento, como redução do custo operacional e uma onda de simplificação que está transformando positivamente o setor”, diz. “Além disso, a tecnologia está acelerando muito o processo, trazendo redução de custos. E soma-se a isso uma nova leva de gestores que apostam na tecnologia”.
“Quando simplifica, com tecnologia e novos interlocutores, do lado de cá, tem empresas que entregam tecnologia, podemos criar soluções mais inovadoras”, continua.
“E aí, como uma incumbente do mercado, temos dois caminhos. Ou desenvolvemos novas tecnologias ou adquirimos empresas que têm tecnologias novas, que atendem melhor e que trazem tecnologia embarcada”.
Optaram pela segunda opção. Com isso, fizeram a aquisição da D2P. A startup tem uma solução complementar à empresa compradora, que usa plataformas e dashboards para estudar soluções que podem aumentar a eficiência e reduzir custos de logística.
Na prática, ela estuda o mercado, olhando o que já aconteceu em termos logísticos, e projeta uma forma mais econômica e inteligente de você planejar e executar a logística internacional dali para frente.
“Tem muito dinheiro que a indústria brasileira perde por não ter inteligência no comércio exterior”, diz Barros. “O comércio exterior é olhado como centro de custo, mas deveria ser um centro de resultado. Essa startup começa a trazer soluções para fazer essa virada de chave nas áreas”.
Quais os planos futuros da eCOMEX NSI
Daqui para frente, a eCOMEX quer seguir adquirindo empresas nos próximos anos. A ideia é que elas ajudem a compradora a ganhar escala e market share no país. A estrutura da D2P será mantida, inclusive com sua marca. Internamente, será feita a integração dos sistemas.
“Quando uma indústria como a nossa trás uma empresa como essa, o maior risco é matar a operação da companhia a longo prazo”, diz. “Isso é o que a gente menos quer. Vamos manter a estrutura no valor, seu ritmo da startup e a permitindo errar e criar soluções disruptivas”.