Negócios

Em êxtase, parceiro brasileiro de Trump prevê grandes negócios

Bellino quer agendar uma reunião entre Trump, seu amigo Marcos Pereira, ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços do Brasil, e Temer

Donald Trump e Ricardo Bellino: o multimilionário com casas em Miami e Barcelona, Ricardo Bellino, fez carreira vendendo o nome Trump (Carlo Allegri/Reuters Brazil)

Donald Trump e Ricardo Bellino: o multimilionário com casas em Miami e Barcelona, Ricardo Bellino, fez carreira vendendo o nome Trump (Carlo Allegri/Reuters Brazil)

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Da Redação

Publicado em 12 de dezembro de 2016 às 21h28.

Última atualização em 12 de dezembro de 2016 às 21h37.

São Paulo - O negócio mais lucrativo da vida de Ricardo Bellino foi o Villa Trump, um resort de golfe de meio bilhão de dólares que nunca saiu do papel.

Bellino vendeu a ideia a Donald Trump em 2003, no escritório do bilionário em Manhattan, sob a pressão de um prazo de três minutos.

O negócio, que contava com um campo desenhado por Jack Nicklaus e Bill Clinton como membro-celebridade honorário, caiu por terra quando os investidores brasileiros do projeto recuaram -- mas não sem antes pagarem taxas de rescisão.

Trump ficou com US$ 7 milhões e Bellino e seus sócios com o dobro desse valor.

Quando isso aconteceu, Bellino já havia transformado seu encontro com Trump em um livro sobre a arte do discurso de venda. Ele o chamou de “3 minutos para o sucesso”, com prefácio de Trump.

Agora multimilionário com casas em Miami e Barcelona, Bellino, 51, fez carreira vendendo o nome Trump. Ele está atordoado com os planos de transformar sua proximidade em algo maior.

Assim como os intermediários e sócios de mais de duas dezenas de países onde Trump fez negócios, Bellino está competindo para ter um papel em uma presidência cheia de potenciais conflitos de interesse em termos de política externa.

Na quinta-feira, Trump deverá delinear o plano para se separar de seus negócios para poder assumir a presidência.

Sheri Berman, professora de Ciência Política da Barnard College, nos EUA, disse que sócios como Bellino, que se oferecem para intermediar acordos políticos, podem criar novos conflitos.

“Mesmo se não houver uma compensação direta, você não quer ter essa ambiguidade, nem ser obrigado a retribuir favores”, disse ela.

Bellino reivindica o crédito por ter ajudado a levar o reality show O Aprendiz para o Brasil, por criar o primeiro Trump Open (com um marqueteiro esportivo recentemente indiciado no escândalo da Fifa) e por lançar as bases para o Trump Towers Rio, o maior complexo urbano de escritórios em um país em desenvolvimento (suspenso).

Como mostra de sua admiração, ele certa vez presenteou seu sócio bilionário com um retrato pixelizado em grande escala -- de Trump. A peça foi feita com centenas de cápsulas de café.

O Aprendiz

Trump disse que possui participação na franquia O Aprendiz; a MGM revelou que ele será mantido como produtor executivo também da nova temporada de Aprendiz Celebridades.

Bellino diz que não é um adulador, que ele apenas reconhece um negócio quando vê um. Ele é uma pessoa de ideias e acredita na capacidade de Trump de pensar grande.

É por isso que, após anos defendendo Trump dos céticos em seus círculos de negócios, ele está pronto para atacar.

A maioria dos projetos de Trump na América Latina está atrasada ou fracassou, mas isso não deverá impedir que sua revolução política tenha espaço aqui, ou que pelo menos estimule um pouco a venda de bonés, diz Bellino.

Ele vê uma chance não apenas de construir uma franquia para a mercadoria política de Trump, mas também de participar das relações políticas de Trump como costumava fazer em suas negociações comerciais.

"Coisa diplomática delicada"

Ele quer agendar uma reunião entre Trump, seu amigo Marcos Pereira, ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços do Brasil, e o presidente brasileiro, Michel Temer, “para criar uma agenda de colaboração em termos de comércio”, no que chamou de “uma coisa diplomática muito delicada”.

O objetivo? “Tornar a América do Sul grande novamente!”, disse Bellino, em entrevista em São Paulo. “Eu encomendei os bonés. Vai ser fantástico.”

A Trump Organization não respondeu a um pedido de comentário.

Para Bellino, a vitória política de Trump é mais fácil de vender do que seus negócios comerciais na América do Sul. O único projeto de Trump totalmente concluído na América Latina foi o Trump Panama. O Villa Trump de Bellino e um resort na península de Baixa Califórnia, no México, fracassaram e diversos outros projetos estão atrasados ou inacabados.

O hotel Trump da Barra da Tijuca estava previsto para a Olimpíada do Rio. Embora tenha feito uma pré-inauguração, apenas metade dos quartos está em uso e a unidade ainda está sendo terminada quatro meses após o fim do evento.

Enquanto isso, o Trump Towers Rio, um projeto de maior porte no centro da cidade, ainda não começou devido a atrasos.

Ambos os projetos foram citados em uma investigação do Ministério Público Federal sobre corrupção em fundos de pensão brasileiros.

O procurador da República em Brasília Anselmo Henrique Cordeiro Lopes abriu uma investigação para apurar US$ 40 milhões em investimentos feitos por dois pequenos fundos de pensão brasileiros no Trump Hotel Rio, que era de propriedade da parceira brasileira de Trump, a LSH Barra.

Investigação sobre propinas

Um documento judicial de 21 de outubro de Cordeiro também citou o Trump Towers Rio, projeto de escritórios corporativos de R$ 5 bilhões formado por cinco torres, que faz parte da área de revitalização portuária do centro da cidade.

Cordeiro disse que a Trump Organization foi favorecida de forma suspeita pelo fundo de investimento de um banco estatal acusado em um suposto esquema de pagamento de propinas envolvendo o ex-presidente da Câmara dos Deputados.

Ninguém da organização Trump foi implicado na investigação e a organização Trump afirmou que não está envolvida diretamente no desenvolvimento dos projetos.

Bellino, que gerenciava uma agência de modelos antes de conhecer Trump, diz que foi o primeiro a propor a vinda de Trump ao projeto de revitalização portuária, mas que não está mais envolvido no projeto, que parece estar no mesmo caminho do Villa Trump para lugar nenhum -- a construtora havia prometido terminar as duas primeiras torres antes da Olimpíada do Rio.

Passou mais de uma década desde que Jack Nicklaus visitou o Villa Trump, a uma hora de viagem de São Paulo, para preparar o campo de golfe que levaria sua assinatura, mas atualmente o lugar é apenas uma fazenda com 300 cabeças de gado e o único sinal do campo de golfe abandonado é o viveiro de grama mantido pelos paisagistas.

As famílias brasileiras Depieri e Meyerfreund, que fizeram fortuna nos ramos farmacêutico e de chocolates, abandonaram o negócio em 2006 após uma briga com Bellino a respeito de quem era de verdade o sócio local de Trump.

Terreno fértil

São Paulo, a maior cidade do Brasil, com um histórico de políticos conservadores, é terreno fértil para o desenvolvimento dos negócios de Trump.

Em outubro, o empresário João Dória, ex-apresentador da versão brasileira de O Aprendiz, foi eleito prefeito. Foi um prenúncio da vitória de Trump, um mês depois, e um sinal da guinada maior da América Latina à direita.

Bellino afirma que com a chegada de Trump à Casa Branca ele se posicionará para lucrar.

“O negócio com o qual mais ganhei dinheiro na vida foi algo que nunca saiu do papel”, disse ele. “Mas nós construímos uma relação, o que é ótimo. Meu amigo agora é CEO dos EUA.”

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