Plano de saúde: novas operadoras apostam em plano individual (BrianAJackson/Thinkstock)
Mariana Desidério
Publicado em 29 de dezembro de 2020 às 09h44.
Última atualização em 29 de dezembro de 2020 às 16h59.
A pandemia de covid-19 está transformando o setor de planos de saúde. De janeiro a junho de 2020, o segmento perdeu cerca de 300.000 beneficiários, impactado pela alta do desemprego – o número de clientes dos planos foi de 47 milhões em janeiro para 46,7 milhões em junho. Parte significativa deste impacto se deve ao fato de que esse é um setor que depende principalmente dos planos de saúde empresariais, os mais afetados pela crise.
Em meados do ano, no entanto, o cenário mudou. Dados da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) mostram que de junho a novembro o número de beneficiários de planos cresceu, com ganho de cerca de 650.000 beneficiários. A agência destaca principalmente o crescimento nos planos individuais ou familiares, modalidade que teve alta de 0,19% entre março e novembro de 2020, ante queda de -0,10% entre março e novembro de 2019.
Com isso, algumas empresas têm apostado no nicho dos planos individuais, que nos últimos anos foi deixado de lado pelos gigantes do setor. Os planos individuais têm seus reajustes regulados pela ANS. Nessa modalidade, a operadora não pode rescindir o contrato com o beneficiário, a não ser por falta de pagamento.
Para fugir dessas regras, a maior parte das grandes operadoras deixou de comercializar esse tipo de plano, focando apenas planos empresariais ou coletivos, modalidades em que os reajustes são negociados livremente entre as partes e pelas quais a operadora tem mais liberdade para rescindir o contrato.
Em 2020, esse quadro começou a mudar. Só nesse ano pelo menos duas empresas nasceram com a proposta de vender os planos de saúde individuais. Para fazer a conta fechar com um reajuste mais restrito e mais limitações no contrato, elas apostam em medicina preventiva e no uso de dados para acompanhar de perto seus beneficiários. Com isso, pretendem evitar desperdícios no sistema (como a realização de exames desnecessários) e tratar problemas de saúde antes que se tornem mais graves e mais custosos.
Lançada em julho deste ano, a startup Alice vende plano de saúde individual aliado a uma equipe de saúde dedicada ao beneficiário. Quando decide contratar o plano, o usuário baixa o aplicativo da operadora e marca uma conversa com uma enfermeira, que vai entender o perfil do usuário e suas necessidades. O plano de saúde pode ser modulado, ou seja, o usuário pode escolher se quer ter um ótimo hospital e um laboratório mais básico, compondo assim o preço final do plano.
Os valores partem de 375 reais por mês para beneficiários de até 18 anos e 639 reais mensais para quem tem a partir de 30 anos. Os hospitais disponíveis são Oswaldo Cruz, Sabará e Pró-Matre e o laboratório é o A+, com possibilidade de incluir o Fleury.
O plano também tem médicos especialistas credenciados – alguns deles atendem só pacientes da operadora – e oferece o serviço de uma equipe formada por médicos, enfermeiros, nutricionista e preparador físico dedicados aos beneficiários do plano. Essa equipe monta um plano de ação para o cliente de acordo com suas necessidades e objetivos, e o encaminha a um especialista caso necessário.
“Quando optamos por esse formato, percebemos que havia um grande gap no mercado. Profissionais autônomos, por exemplo, acabam muitas vezes fazendo coisas mirabolantes para conseguir contratar um plano de saúde. Seja criar um CNPJ sem necessidade ou se associar a uma entidade só para esse fim. Para nós, a saúde é como um CPF: pessoal e intransferível”, diz André Florence, CEO do Alice.
Outra empresa que nasceu em 2020 com foco nos planos individuais foi a QSaúde, criada pelo empresário José Seripieri Filho, que fundou a administradora de planos Qualicorp nos anos 1990. Pela QSaúde, o plano custa a partir de 246,39 reais para quem tem até de 18, e a partir de 561,77 reais para quem tem 34 anos ou mais.
O beneficiário tem acesso a hospitais como Albert Einstein, Oswaldo Cruz, HCor, Santa Catarina (pediatria), H.Olhos e as maternidades Pro Matre, Santa Joana e Santa Maria. Os laboratórios são Delboni, Salomão Zoppi, Lavoisier e o do próprio Einstein, além das clínicas de saúde primária Einstein, DaVita e a clínica Q, localizada no Hospital Oswaldo Cruz.
A QSaúde também trabalha com foco na prevenção como forma de atender melhor o cliente e gerir melhor os recursos para fazer a conta fechar. Para isso, tem programas de acompanhamento de doenças crônicas, peso e dores crônicas. Também trabalha com médicos de família, e com enfermeiros que instruem o beneficiário na mudança de hábitos.
“Ao comercializar planos individuais, cabe a nós, a operadora, a responsabilidade de ser eficiente no cuidado com a gestão da saúde do cliente para conseguir ser sustentável. Com isso, proporcionamos maior segurança para o consumidor, na medida em que há previsibilidade financeira”, diz Anderson Nascimento, vice-presidente executivo do Qsaúde.
Além das novatas, outras companhias consolidadas também têm dado mais atenção ao segmento. No ano passado, o Grupo Notredame Intermédica, uma das maiores empresas do setor, criou um produto voltado para o público com 50 anos os mais, baseado nos planos individuais, com preço a partir de 564 reais.
A Prevent Senior, focada no público idoso, sempre trabalhou com planos individuais. O preço parte de 687 reais mensais para quem tem a partir de 49 anos. O público idoso é o que mais cresce entre os beneficiários de planos de saúde. De março a novembro deste ano, os contratos para pessoas acima de 59 anos cresceram mais do que os de pessoas até 59 anos de idade em todas as categorias, seja em planos empresariais, seja em planos coletivos por adesão, seja em planos individuais.