Negócios

Elon Musk leva internet à Ucrânia em meio à nova corrida espacial

Fundador da empresa de internet por satélite Starlink, o bilionário quer usar mais o espaço a favor da Ucrânia na guerra contra a Rússia, mas especialistas alertam para riscos da medida

Receptor de sinal de internet da Starlink em Odessa, na Ucrânia: redes de satélite serão capazes de fornecer acesso de banda larga a dezenas de milhões de pessoas em lugares que de outra forma não teriam acesso a redes móveis e fixas mais convencionais (Future Publishing/Getty Images)

Receptor de sinal de internet da Starlink em Odessa, na Ucrânia: redes de satélite serão capazes de fornecer acesso de banda larga a dezenas de milhões de pessoas em lugares que de outra forma não teriam acesso a redes móveis e fixas mais convencionais (Future Publishing/Getty Images)

B

Bloomberg

Publicado em 20 de março de 2022 às 08h00.

Última atualização em 21 de março de 2022 às 09h40.

Enquanto os Estados Unidos e seus aliados fornecem ajuda à Ucrânia, o governo do presidente Volodymyr Zelensky também está recebendo assistência de uma fonte menos provável: Elon Musk. Logo depois que o presidente russo, Vladimir Putin, iniciou a guerra e a Ucrânia pediu ajuda publicamente, a SpaceX de Musk ativou seu serviço de banda larga por meio de seu satélite, Starlink, na Ucrânia e começou a enviar antenas parabólicas adicionais.

Essas antenas são especialmente valiosas agora que os militares da Rússia estão atacando a infraestrutura ucraniana. “Recebi a segunda remessa de estações Starlink!” Mykhailo Fedorov, ministro da transformação digital da Ucrânia, twittou em 9 de março: “@elonmusk é homem de palavra!”

Garanta o seu lugar entre as melhores do Brasil, entre no Ranking Negócios em Expansão 2022

As antenas que Musk providenciou para a Ucrânia e Tonga, após o tsunami de janeiro, deram mais alcance aos satélites em órbita baixa da Terra (LEO), uma nova geração de espaçonaves que podem dar a volta ao mundo em apenas 90 minutos e conectar os usuários à Internet. Elas são pequenas e baratas: um satélite Starlink pesa 260 kg (573 libras) e custa de US$ 250.000 a US$ 500.000, enquanto um satélite geoestacionário da Inmarsat Group Holdings pode chegar a 4 toneladas e ser vendido por US$ 130 milhões.

As redes de satélite serão capazes de fornecer acesso de banda larga a dezenas de milhões de pessoas em lugares como a Índia rural, que de outra forma não teriam acesso a redes móveis e fixas mais convencionais. “Existe uma grande oportunidade de superar a exclusão digital em áreas remotas onde o custo da comunicação terrestre é alto e, portanto, a comunicação de voz e banda larga não foi estabelecida”, diz Anil Bhatt, diretor geral da Associação Espacial Indiana.

Em 9 de março, Musk se vangloriou de que a SpaceX havia colocado mais 48 satélites em órbita, somando-se aos mais de 2.000 já circulando a Terra. Mas Musk tem rivais em relação às próprias ambições de satélites LEO. Esses incluem o bilionário espacial Jeff Bezos. A Kuiper Systems, da Amazon, quer lançar mais de 7.000 satélites. Em 5 de março, um foguete chinês lançou seis satélites LEO para o GalaxySpace, com sede em Pequim, que planeja uma constelação com até 1.000.

A União Europeia anunciou em fevereiro um plano para uma constelação que custaria cerca de € 6 bilhões (US$ 6,6 bilhões). E a Bharti Global, do bilionário indiano Sunil Mittal, em conjunto com o governo britânico, é investidora da OneWeb, que planeja começar a operar sua constelação LEO de 648 satélites este ano. Ele pretendia lançar seu último grupo de satélites em 5 de março a bordo de um foguete russo, mas cancelou depois que a agência espacial do Kremlin exigiu que o Reino Unido vendesse sua participação. A OneWeb está procurando serviços alternativos para seis lançamentos futuros.

Ao contrário de operadoras mais antigas, que têm um número relativamente pequeno de satélites em locais fixos a cerca de 36.000 quilômetros (22.369 milhas) acima do nível do mar, as empresas que lançam satélites LEO colocam-nos em altitudes de 550 a 1.200 km. Isso torna mais fácil para os satélites fornecerem serviços rápidos do que aqueles mais altos no espaço, diz Marco Caceres, analista do Teal Group, empresa de análise de mercado aeroespacial e de defesa. “Essas operadoras vão produzir muitos desses sistemas tradicionais tipo dinossauros da noite para o dia”, diz ele, acrescentando que só a Starlink provavelmente terá 4.500 satélites em operação até meados da década. “Eles estão se movendo na velocidade da luz.”

Em alguns casos, talvez rápido demais. A SpaceX começou a cadastrar clientes na Índia em 2021, embora não tivesse licença para oferecer o serviço Starlink no país. Em janeiro, o governo da Índia exigiu que a empresa devolvesse dinheiro de possíveis clientes. Enquanto a SpaceX elabora sua estratégia de entrada na Índia, a Reliance Jio Infocomm, operadora de telecomunicações controlada por Mukesh Ambani, a pessoa mais rica da Índia, — formou em fevereiro uma joint venture com a operadora de satélite SES SA, com sede em Luxemburgo, para fornecer acesso à Internet via satélite em condições geoestacionárias e órbitas médias da Terra.

Embora as novas empresas de satélites se vangloriem de sua capacidade de alcançar comunidades carentes, muitas terão dificuldades para tornar seus equipamentos acessíveis para alguns mercados-alvo, diz Matthew Bloxham, analista da Bloomberg Intelligence. De acordo com a BI, um plano Starlink padrão custa US$ 499 pelo hardware, mais uma taxa mensal de US$ 99. Mas há outras razões pelas quais os governos provavelmente fornecerão apoio financeiro à internet via satélite, diz Bloxham: “Ele fornece resiliência no caso de um ataque cibernético que derrube a internet comum que hoje utilizamos”.

Ainda assim, críticos dizem que Musk e outros não estão considerando os riscos de ter muitos satélites em uma banda relativamente estreita acima da Terra. “O que está acontecendo agora é que há uma corrida para colocar o maior número possível de direitos implícitos em ter esses satélites, mesmo que não seja economicamente justificado, seguro ou sustentável”, diz Mark Dankberg, presidente da Viasat, operadora de satélites geoestacionários com sede na Califórnia, que em novembro concordou em comprar a rival Inmarsat por US$ 4 bilhões.

À medida que as operadoras tentavam aumentar o volume em resposta ao desafio dos recém-chegados, o volume de negócios de fusões e aquisições para o setor de satélites em 2021 atingiu seu nível mais alto desde 2007, segundo dados compilados pela Bloomberg, com empresas fechando 60 acordos no valor de US$ 18 bilhões.

A China disse em dezembro que dois dos satélites da Starlink chegaram perigosamente perto de sua estação espacial. Os EUA disseram que não havia "probabilidade significativa" de uma colisão do Starlink com a estação chinesa, mas alguns especialistas temem que a situação seja um sinal do que está por vir. Os acordos internacionais que regem o espaço datam das décadas de 1960 e 1970, quando os bilionários não tinham seus próprios programas espaciais. “Temos muitos desses novos protagonistas a bordo e não temos uma lei global suficientemente forte”, diz Maria Pozza, diretora da Gravity Lawyers, em Christchurch, Nova Zelândia, que aconselha clientes sobre leis e regulamentos espaciais. “Está tudo um pouco bagunçado”.

Tradução de Anna Maria Dalle Luche.

Assine a EMPREENDA e receba, gratuitamente, uma série de conteúdos que vão te ajudar a impulsionar o seu negócio.

Acompanhe tudo sobre:Elon MuskEspaçoEXAME-no-InstagramUcrânia

Mais de Negócios

'E-commerce' ao vivo? Loja física aplica modelo do TikTok e fatura alto nos EUA

Catarinense mira R$ 32 milhões na Black Friday com cadeiras que aliviam suas dores

Startups no Brasil: menos glamour e mais trabalho na era da inteligência artificial

Um erro quase levou essa marca de camisetas à falência – mas agora ela deve faturar US$ 250 milhões