Eletrobras: "Não há nenhum comprometimento, seja na agenda de privatizações, seja na venda de ativos" (Nadia Sussman/Bloomberg)
Reuters
Publicado em 23 de maio de 2017 às 17h31.
São Paulo - A Eletrobras continuará trabalhando em seus planos de privatizar subsidiárias e vender ativos para reduzir dívidas mesmo com o agravamento da crise política no Brasil, disse nesta terça-feira o presidente da companhia, Wilson Ferreira Jr..
Apesar disso, ele admitiu que o cenário do país pode impactar em alguma medida as metas da estatal.
O executivo estava em Nova York e participava de diversas reuniões com investidores para apresentar o programa de desinvestimentos da companhia quando surgiram as acusações dos donos da empresa de alimentos JBS contra o presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves, que levaram o Brasil novamente a um momento de forte tensão política.
Segundo Ferreira, as reuniões promovidas nos Estados Unidos estavam todas lotadas na última quarta-feira, demonstrando forte interesse na empresa, mas no dia seguinte, após as notícias, o clima era de "preocupação" e busca por informações.
Ainda assim, ele garantiu que a empresa seguirá com o cronograma e deverá encontrar interessados em comprar os ativos que deseja colocar no mercado.
"Não há nenhum comprometimento, seja na agenda de privatizações, seja na venda de ativos. O que sempre preocupa é se o ambiente político acaba arrastando o ambiente econômico... a gente acaba tendo mais dificuldade de fazer isso pelo menos nos preços que se poderia atingir", disse Ferreira.
"Num processo de venda (de ativos) em energia, por óbvio esses ativos ficam mais valorosos se a economia cresce mais", explicou ele, que falou com jornalistas após evento da Universidade Mackenzie, em São Paulo.
A Eletrobras já anunciou um plano de vendas de fatias em ativos de geração e transmissão de eletricidade para levantar até 4,6 bilhões de reais, que serão utilizados para pagamento de dívidas.
Em apresentação recente, a estatal estimou que pode obter 2,2 bilhões de reais com as vendas de ativos em energia em 2017 e mais 2,4 bilhões de reais em 2018.
O presidente da Eletrobras também evitou comentar especulações sobre sua continuidade à frente da estatal, caso as denúncias contra Michel Temer ganhem força a ponto de inviabilizar a continuidade do atual governo.
"Vim aqui para fazer um trabalho de resgate e recuperação da Eletrobras que está em curso... meu mandato vai até abril de 2019. Claro que sou indicado pelo controlador, o governo brasileiro, mas não vou especular sobre a saída de um ou de outro", disse.
O presidente da Petrobras, Pedro Parente, disse algo semelhante ao ser questionado sobre o assunto na semana passada. Afirmou que pretende cumprir seu mandato até abril de 2019.
O CEO da Eletrobras afirmou que o governo Temer vem apoiando a reestruturação da estatal e mudanças nas regras do setor elétrico para favorecer a atração de investidores, em um movimento conduzido pelo ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho.
"O ministro é muito importante nessa agenda, torço para que ele continue, assim como o presidente Temer", afirmou.
O PSB, partido de Coelho Filho, passou a apoiar a renúncia de Temer após as últimas acusações contra Temer, e por isso tem defendido que o ministro entregue o cargo.
Mas Coelho Filho disse à Reuters nesta terça-feira que irá continuar no ministério mesmo após a decisão de sua legenda. Segundo ele, o momento de crise política no país exige "lealdade" e sua saída não contribuiria para melhorar o cenário.
A permanência de Coelho Filho garante que técnicos do alto escalão do ministério também continuem no governo.