Luiz Ramalho, da Magie: "Quando a própria empresa de infraestrutura te dá esse acesso, facilita muito” (Luiz Ramalho/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 10 de setembro de 2024 às 12h00.
Última atualização em 10 de setembro de 2024 às 13h39.
No último domingo, 8, durante um painel sobre inovação na Bienal Internacional do Livro de São Paulo, a reportagem da EXAME provocou Guilherme Horn — um dos nomes mais conhecidos do setor de tecnologia e inovação do país — a falar exemplos de startups que estejam aplicando inteligência artificial e chacoalhando o mercado.
Entre os exemplos, Horn citou a Magie, um banco digital que funciona pelo WhatsApp. Nessa fintech, não tem aplicativo nem nada. Todas as transações acontecem num chat no WhatsApp.
Na prática, funciona assim: você começa a conversa com o chat da Magie no WhatsApp e cria uma conta. A partir disso, você consegue depositar nesta conta e fazer a gestão do dinheiro por ali -- como se fosse qualquer outro banco. Aí, na hora de pagar, basta escrever (ou encaminhar, ou mandar um áudio) as instruções, e o chat vai realizar a transação. Depois, quase que instantaneamente, você recebe, no WhatsApp mesmo, o comprovante do pagamento.
Quem está por trás dessa ideia, funcionando há cerca de quatro meses no mercado, é o carioca Luiz Ramalho. A EXAME foi a primeira a noticiar o surgimento do aplicativo, no último mês de abril.
De lá para cá, o banco já está celebrando números superlativos. Já recebeu 28 milhões de reais em aportes, sendo 22 milhões de reais numa captação liderada pelo fundo de venture capital norte-americano Lux Capital, e 6 milhões de reais recebidos anteriormente do fundo brasileiro Canary. E, o mais importante: já movimentou 130 milhões de reais em pagamentos.
Agora, celebra uma novidade. A startup foi uma das selecionadas, entre 4.500 candidatas, para participar do AWS Generative AI Accelerator. O programa da Amazon Web Services (AWS) é destinado a startups que estão na vanguarda da IA generativa, oferecendo suporte exclusivo para acelerar o crescimento e a inovação tecnológica.
Nesse programa, a Magie terá acesso a mentoria técnica e de negócios, além de sessões de treinamentos com líderes da indústria, capacitação de vendas, captação de recursos e desenvolvimento de produtos.
Além disso, vai receber até 1 milhão de dólares - cerca de 5,6 milhões de reais -- em crédito para usar os serviços da AWS.
“Hoje em dia, para empresas de tecnologia, ter acesso a essas plataformas de tecnologia é quase tão importante quanto receber um aporte financeiro”,diz Luiz. “Isso porque boa parte do capital de startups vão para tecnologia, mas às vezes, não há infraestrutura para receber esse dinheiro. Quando a própria empresa de infraestrutura te dá esse acesso, facilita muito”.
A AWS é o servidor da Amazon que ajuda empresas a terem seus sistemas tecnológicos em nuvem. Para startups que usam inteligência artificial, ter um processamento rápido e em nuvem é fundamental.
O carioca Luiz Ramalho tem no seu currículo uma jornada que vai do trabalho no mercado financeiro, principalmente em bancos de investimentos como Goldman Sachs e Blackstone, à NFT. Ele ajudou a criar a Fingerprints, uma galeria de arte em NFT que fez captações milionárias.
Desde o final do ano passado, porém, Ramalho trabalha num novo negócio, lançado ao mercado no final de abril. É a Magie, uma instituição financeira digital no WhatsApp.
A ideia de Ramalho foi criar um negócio simples e prático para ajudar, inicialmente, pessoas que precisam fazer muitos pagamentos ao longo do dia. Hoje em dia, porém, o negócio já é usado para todos os tipos de perfil, não só aquelas que precisam fazer dez pagamentos por dia, por exemplo.
“O Brasil é um dos países mais avançados em tecnologias de pagamento, mais do que a própria Índia”, diz Ramalho. “Esse avanço também trouxe muita tecnologia e muita segurança. Agora queremos dar um novo passo colocando essas facilidades e seguranças no aplicativo mais usado pelos brasileiros”.
Tudo que envolve a instituição financeira acontece no WhatsApp. Se você quer fazer um Pix para um amigo, por exemplo, pode simplesmente gravar um áudio no chat da Magie e pedir para ela operar a transação por você.
Para que o banco entenda todas as mensagens enviadas pelo cliente, o chat da aplicação recebe tecnologia de inteligência artificial. Assim, por exemplo, é possível enviar uma foto com o código Pix escrito à mão, que a IA da Magie irá entender e processar o pagamento.
“É como se os clientes estivessem falando com um amigo ou com seu gerente do banco”, diz Ramalho. “Com a evolução Open Finance, nossa expectativa é que possamos nos conectar a todos os bancos, expandindo as funcionalidades do serviço para outras atividades financeiras”.
Para a parte de segurança, um dos grandes desafios do setor, Ramalho conta que as próprias aplicações do WhatsApp, como reconhecimento facial, ajudarão nas transações.
No futuro, a ideia é faturar com outros serviços integrados, inclusive gestão de investimentos.
Recentemente a fintech Magie recebeu um aporte de 22 milhões de reais liderado pelo fundo de investimentos norte-americano Lux Capital. Somando ao investimento anterior de 6 milhões de reais do fundo brasileiro Canary, concluiu sua rodada seed com um montante total de 28 milhões de reais.
Um dos aplicativos mais populares do país, o WhatsApp está presente nos celulares de 92% dos brasileiros, segundo um levantamento do Datafolha. A Meta não divulga o total de usuários do WhatsApp no Brasil, mas fontes do mercado apontam o país como o segundo maior mercado em número de usuários, atrás da Índia.
Na estratégia de Ramalho, somam-se dois fatores extremamente populares no país, então. Além do WhatsApp, o Pix.
Os brasileiros realizaram em 2023 quase 42 bilhões de transações por Pix, o que representa um crescimento de 75%, em relação ao ano anterior. Os dados sobre meios de pagamento são da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), baseados em levantamentos divulgados pelo Banco Central.
Se considerado somente o número de transações do Pix, elas superaram todas as de cartões de crédito e débito, boleto, Transferência Eletrônica Disponível (TED), Documento de Crédito (DOC), cheques e TEC no Brasil, que, juntas, somaram quase 39,4 bilhões de operações.