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Eike é julgado sob olhares da indignada classe média

Se for considerado culpado, empresário poderá ser condenado a até 13 anos de prisão

Eike Batista durante julgamento por crimes no mercado de capitais, no Rio de Janeiro (Ricardo Moraes/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 18 de novembro de 2014 às 17h04.

Rio de Janeiro - Quando um promotor do Rio de Janeiro apresentou acusações criminais contra Eike Batista em meados de setembro, o ex-bilionário resolveu desabafar, quebrando um ano de silêncio público e dando algumas entrevistas.

Foi um “baque gigantesco” voltar à classe média, disse ele ao jornal Folha de S. Paulo no dia 17 de setembro. Assim como a estratégia comercial do empreendedor de 58 anos de idade, o tiro saiu pela culatra de forma espetacular.

Os comentários de Eike foram recebidos com indignação e escárnio em um país onde o salário mínimo mensal é de menos de US$ 300.

Entre os que mostraram reprovação estava o juiz Flávio Roberto de Souza, o homem que preside o julgamento contra o ex-bilionário por uma acusação de insider trading e manipulação do mercado.

“Ele não é da classe média brasileira porque ninguém na classe média ganha um milhão de reais (US$ 380.000) por mês” como ele, disse Souza, em entrevista, no dia 9 de outubro, em seu escritório na 3ª Vara Federal Criminal do Rio, decorado com obras de arte budistas.

“Existe uma pressão social criada pelo réu porque ele é uma pessoa que sempre gostou de aparecer na mídia”.

A primeira audiência do julgamento está programada para começar hoje, às 14 horas, no Rio.

Se for considerado culpado, Batista poderá ser condenado a até 13 anos de prisão, além de sofrer a ignomínia de ser o primeiro detento do Brasil culpado por crimes no mercado de capitais.

Os advogados do empreendedor disseram várias vezes que Eike é inocente e ontem não responderam a um e-mail enviado em busca de comentários.

Sem intimidação

O juiz Flávio Roberto de Souza, um devoto do budismo que diz ter aprendido o idioma tibetano para participar de retiros espirituais no Nepal e na Índia, disse que não se sente intimidado pela publicidade que rodeia o caso.

Ele disse em uma entrevista por telefone, no dia 9 de novembro, que espera ter um veredicto até o início de 2015, depois que novas testemunhas forem convocadas para depor.

Embora sejam desencorajados a expressar opiniões a respeito de julgamentos em entrevistas, os juízes do Brasil têm permissão para discutir informações que não sejam consideradas potencialmente prejudiciais.

O julgamento está repercutindo entre os brasileiros porque não é comum ver um famoso homem de negócios sendo julgado por acusações de insider trading, disse Leonardo Theon de Moraes, chefe da área corporativa e de falência do escritório de advocacia Theon de Moraes Britto Sociedade de Advogados, com sede em São Paulo.

Os brasileiros estão exigindo evidências de que “a lei funciona, de que as infrações estão sendo punidas”, disse ele, por telefone. Essa pressão “recairá principalmente sobre o juiz”.

Eike Batista está longe de ser o único alvo da indignação pública no Brasil nos últimos tempos.

Investigação de corrupção

Uma investigação sobre corrupção na Petrobras, a companhia de petróleo estatal do Brasil, causou um alvoroço nas redes sociais e ajudou, no mês passado, a polarizar os votos em uma eleição na qual a presidente Dilma Rousseff conquistou mais quatro anos no cargo.

A Petrobras disse que está colaborando com as investigações e que é vítima no caso.

Os empreendimentos de petróleo e construção de navios e as principais mineradoras de Eike Batista foram forçados a pedir proteção contra falência depois que o acúmulo de dívidas, um déficit de caixa e a queda da confiança dos investidores o levaram ao colapso no ano passado.

Em setembro, os escritórios do Ministério Público Federal no Rio e em São Paulo acusaram o magnata de violar as regras ao vender ações de suas unidades OGX e OSX em três oportunidades em 2013.

Quando abordado pela Bloomberg News na entrada de um restaurante japonês no bairro do Botafogo, no Rio, no dia 12 de novembro, Eike Batista disse que estava em modo de “reestruturação”.

Com a barba por fazer e vestido com um jeans azul e uma camisa de brim, o empreendedor, que era uma celebridade quando era a pessoa mais rica do Brasil e que sumiu dos olhos do público após o desaparecimento de seu império monetário, preferiu não dar detalhes.

Em 2011 ele prometeu se tornar a pessoa mais rica do mundo. Em setembro, ele disse na entrevista à Folha que tem um patrimônio líquido negativo de US$ 1 bilhão.

Ele também disse ao jornal que nunca tinha tido nenhuma intenção de enganar os investidores e que não usou informação privilegiada para fazer negócios.

São Paulo – O empresário Eike Batista , que já foi o sétimo homem mais rico do mundo pela Forbes, se desfaz hoje de uma série de ativos com o objetivo de acertar as contas com os credores ou, pelo menos, economizar um pouco. O mais recente deles foi o Hotel Glória, vendido pra o grupo suíço Acron, e parte da CCX para a turca Yildirim. A seguir, relembre quais negócios tiveram que ser passados para frente por ele desde a decadência de seu império X no ano passado.  * Atualizado às 9h, do dia 4/02
  • 2. CCX

    2 /11(Divulgação)

  • Veja também

    Na segunda-feira, 03 de fevereiro, Eike assinou um acordo para vender ativos da empresa de carvão CCX na Colômbia para a turca Yildirim por 125 milhões de dólares. O valor é 72% abaixo do previsto em um memorando assinado entre as duas companhias no final de outubro, de 450 milhões de dólares.
  • 3. OGX (agora OGP)

    3 /11(Divulgação)

  • A Óleo e Gás Participações, ex- OGX , está atualmente tendo suas documentações analisadas pela agência reguladora do setor de petróleo. O objetivo é saber se a companhia tem capacidade financeira para manter blocos exploratórios sob concessão. Rebatizada de OGP, a petroleira entrou em recuperação judicial em 30 de outubro, com dívidas de quase 14 bilhões de reais – trata-se do maior processo de recuperação judicial já feito na América Latina.
  • 4. MMX

    4 /11(Rich Press/Bloomberg)

    A companhia holandesa Trafigura é o novo dono do principal ativo da mineradora MMX desde setembro, quando pagou 400 milhões de dólares por 65% do Porto Sudeste, em Itaguaí, no Rio de Janeiro. A companhia já vendeu ativos no Chile para a chilena Cooper Mining e ainda colocou outros em seus classificados, segundo informações divulgadas pelo mercado – o sistema Serra Azul, em Minas Gerais, é um dos que estaria à venda.
  • 5. LLX (agora Prumo)

    5 /11(Divulgação)

    Desde outubro, a empresa de logística de Eike mudou de comando e, pouco tempo depois, também de nome. A companhia, cujo principal ativo é o Porto de Açú, no Rio de Janeiro, foi vendida para o grupo EIG, que irá injetar 1,3 bilhão de reais na reestruturação da empresa, agora rebatizada de Prumo. Com a venda, o empresário viu sua fatia cair de estimados 53% para 21%.
  • 6. OSX

    6 /11(Divulgação)

    Uma das empresas mais dependentes da petroleira OGX, a OSX teve uma série de pedidos de plataforma de construção naval cancelados pela petroleira do mesmo grupo, motivo pelo qual passou a atrasar o pagamento de fornecedores. O BTG estaria negociando a venda do estaleiro desde julho, inclusive com conversas com Jurong e a Fels, ambos de Cingapura, e a Odebrecht, mas nada foi fechado por enquanto. A empresa segue em recuperação judicial, com uma dívida bilionária.
  • 7. Pink Fleet

    7 /11(Divulgação)

    O luxuoso iate do empresário, o Pink Fleet, era usado para eventos corporativos e passeios turísticos na Baía de Guanabara até ter de entrar no acerto de contas de Eike com os credores. Porém, a venda não gerou interesse e passou-se a cogitar então a doação do iate para a Marinha – que também rejeitou a oferta. No fim das contas, Pink Fleet deve virar sucata – ao menos para reduzir os custos elevados de mantê-lo funcionando.
  • 8. Rock in Rio

    8 /11(Buda Mendes/Getty Images)

    Roberto Medina já afirmou em alto e bom que não quer mais Eike como sócio no festival Rock in Rio e até já já contratou o BTG Pactual para tocar a negociação. O que o empresário não sabia, no entanto, era que Eike teria oferecido sua fatia de 50% no festival ao fundo Mubadala como garantia de empréstimos, de acordo com a coluna Radar, de Veja.
  • 9. Marina da Glória

    9 /11(GettyImages)

    No início de março, a MGX Empreendimentos Imobiliários e Serviços Náuticos, do empresário, já havia anunciado que a Marina da Glória, no Rio de Janeiro, passaria por uma reformulação e seria liderada por uma nova equipe. Meses depois, no final de setembro, o controle do negócio já tinha mudado de mãos. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou sem restrições a venda do controle para uma holding do setor, a BRM Holding de Investimento Glória.
  • 10. Jato

    10 /11(Divulgação/Gulfstream)

    Ainda em janeiro, o empresário teria vendido seu jato Gulfstream 550 a um milionário chinês por 41 milhões de dólares. Vale lembrar que ex-homem mais rico do Brasil chegou a ter uma frota de seis jatos e helicópteros. Agora, só sobrou o helicóptero Agusta Grand, também à venda.
  • 11. Agora, veja os 10 bilionários que mais perderam dinheiro em 2013

    11 /11(Flickr)

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