Câmbio: dólar teve valorização de mais de 7% no ano (Nelson_A_Ishikawa/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 21 de setembro de 2019 às 13h13.
Última atualização em 21 de setembro de 2019 às 13h18.
Com valorização de mais de 7% no ano e sem deixar o patamar dos R$ 4, fora da expectativa de boa parte dos economistas e dos empresários, o dólar está pressionando o custo e o lucro das empresas, mas alta deve ter poucos reflexos para o consumidor final.
Com a demanda fraca, a possibilidade de repassar esse aumento de custos para os preços de produtos e serviços é pequena, reconhecem empresários e economistas ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo.
Sócio da Ecosan, fabricante nacional de médio porte de equipamentos de tratamento de água para a indústria, o empresário André Telles diz que está trabalhando com prejuízo em função da alta da moeda americana. Os componentes importados representam até 30% do custo dos equipamentos que ele fabrica.
Seis meses atrás, Telles fechou contratos de fornecimento de equipamentos sob encomenda com o câmbio a R$ 3,70. E, na hora de entregar os produtos, o dólar passava de R$ 4. "Não dá para repassar a alta."
De acordo com José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, o principal impacto do aumento do câmbio é justamente a elevação de custos de importação e o achatamento das margens de lucro das empresas. "Para o importador, a alta do dólar é aumento de custo efetivo: ele tem de pagar o produto e os tributos pela taxa do dia do desembaraço da mercadoria", explica.
Ao mesmo tempo, explica, o comportamento atual da moeda americana também não aumenta a competitividade das exportações. "O movimento do câmbio hoje é mais especulativo e não pode ser considerado na hora de fechar as exportações."
De acordo com economistas, o patamar ideal para o dólar no Brasil oscila entre R$ 3,60 e R$ 3,80. Mas, segundo eles, a moeda só vai voltar para essa faixa quando as reformas forem aprovadas e houver redução do déficit fiscal. Pressões do mercado internacional também têm afetado a cotação.
A principal é o risco de recrudescimento da guerra comercial entre EUA e China. Junta-se a isso a redução dos juros no País, que diminui a rentabilidade dos investidor estrangeiro. Com isso, eles preferem aplicar o dinheiro em outros mercados, com taxas maiores de retorno, como México.
Diante desse cenário, indústria, comércio e prestadores de serviços têm de enfrentar as oscilações da moeda americana.
A CVC, uma das gigantes do setor de turismo, reativou neste mês a venda de pacotes turísticos com o câmbio reduzido em destinos específicos para atenuar os impactos negativos do sobe e desce da moeda estrangeira nas suas vendas. "O problema para nós não é o valor da moeda estrangeira, mas a volatilidade que gera insegurança no consumidor", afirma Sylvio Ferraz, diretor da operadora.
A oscilação do dólar já mudou a percepção dos empresários da indústria eletrônica, cujos componentes importados respondem por 60% dos custos. Humberto Barbato, presidente da Abinee, conta que de julho para agosto aumentou em 50% o número de indústrias que se declararam pressionadas por aumentos de custos.
Segundo ele, essa alta não deve ser repassada aos preços porque, além de o consumo estar fraco, as companhias têm estoques de componentes para bancar a produção de 3 a 4 meses.
Enquanto a alta do câmbio também é sinônimo de elevação de custos para os derivados de petróleo, como nafta e gás natural, a indústria química vê nessa pressão uma oportunidade para aumentar a fabricação local de produtos intermediários, como resinas e fibras. "O dólar tem impacto tanto para o bem como para mal", diz Fátima Ferreira, diretora da Abiquim.