São Paulo - A recuperação da Petrobras e do setor de óleo e gás no Brasil vai exigir muito mais do que o combate à corrupção, estimada em R$ 6 bilhões no balanço divulgado ontem.
Esses R$ 6 bilhões equivalem a menos de 3% do aumento de endividamento da empresa nos últimos 4 anos.
Algumas providências já começaram a ser tomadas pelo governo. Uma delas é não repassar a queda do petróleo aos preços dos combustíveis, para recuperar parte das perdas geradas por anos de subsídio.
A mudança no comando da empresa, outra demanda dos investidores, foi encaminhada.
Nos dois casos, o mercado ainda se ressente de uma mudança perene de política, que assegure que práticas como congelar preços antes de eleições ou nomear diretores indicados por políticos não serão retomadas assim que a poeira baixar.
O endividamento acelerado também põe na berlinda o chamado regime de partilha, implantado no 2º mandato de Lula, que exige participação mínima de 30% da Petrobras na exploração do pré- sal.
A regra do conteúdo nacional, que limita a busca da empresa por fornecedores externos com preços menores, também se torna um fardo extra no momento atual.
O aumento do controle do Estado levou a Petrobras a buscar no mercado recursos para bancar os investimentos, tornando-a a petrolífera mais endividada do mundo. No balanço divulgado ontem, o endividamento total chegou a R$ 351 bilhões. Esse valor é mais do triplo dos R$ 116 bilhões devidos pela estatal no final de 2010.
Para piorar sua capacidade de financiar investimentos, a Petrobras viu seu valor de mercado no período despencar de R$ 380 bilhões para R$ 172 bilhões. Uma empresa que em seu auge valia mais do triplo de sua dívida, agora está na situação oposta: se fosse vendida a valor de mercado, a cifra arrecadada não pagaria sequer metade da dívida.
Os números em dólar mostram um retrato ainda pior, dado que no mesmo período o real teve uma desvalorização de mais de 40%.
A adoção do regime de Partilha pela Petrobras ocorreu em um cenário externo favorável que não existe mais.
O petróleo em Nova York custava mais de US$ 90 o barril no final de 2010 quando foi aprovado o projeto que tornava a Petrobras operadora única do pré-sal. Após oscilar na faixa US$ 90-US$ 100 até junho do ano passado, o barril entrou em queda livre, oscilando agora ao redor de US$ 50.
A baixa capacidade de investimento da Petrobras é um obstáculo à recuperação de um setor que inclui de grandes construtoras a estaleiros. Todos abalados pela má coincidência das investigações da Lava Jato com o declínio do petróleo, que torna a exploração de parte das reservas brasileiras em águas profundas anti-econômica.
Abrir espaço a uma maior participação privada poderia trazer um alívio ao setor e também reforçar os ganhos de confiança que começam a aparecer na política econômica.
O governo, envolto em seus próprios problemas de déficit e rating ameaçado, tem capacidade reduzida de reanimar a empresa.
A possibilidade de regime de partilha ser “revisitado” foi admitida em 8 de abril pelo ministro das Minas e Energia, Eduardo Braga. Embora a mudança no modelo seja defendida por setores da oposição, o PT é contra.
Recentemente, no entanto, não é mais o governo que dita o ritmo da agenda no Congresso, como está demonstrado na tramitação de projetos indigestos para o Planalto como os da terceirização, dívidas dos estados e redução dos ministérios.
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1. Tempos difíceis
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1/9 (Divulgação/EXAME)
São Paulo – De suspeitas de corrupção a multas bilionárias, a
Petrobras tem sido protagonista de algumas das principais - más - notícias do Brasil nos últimos tempos. Alvo de uma das maiores investigações de corrupção corporativa do país, a petroleira hoje sofre uma crise de credibilidade que a faz perder valor de mercado a cada novo fato divulgado. E tem sido um exemplo de que realmente tudo pode dar errado ao mesmo tempo agora. Listamos oito fatos recentes sobre a Petrobras que comprovam que o ruim pode sempre piorar.Veja nas fotos.
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2. Operação Lava Jato
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2/9 (Arquivo/Agência Brasil)
Deflagrada em março de 2014, a
Operação Lava Jato investiga um esquema de corrupção dentro da Petrobras em que um possível esquema de lavagem de dinheiro e contratos irregulares por meio de licitações beneficiaria partidos políticos. Desde então, pessoas, grandes transações e contratos fechados com irregularidade são alvo de investigação da Polícia Federal. A operação em curso ainda tem muito que apurar – e a lista de possíveis envolvidos no escândalo só aumenta. Inclui grandes empreiteiras, fornecedores e políticos.
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3. Fornecedores na mira
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3/9 (Germano Lüders/Exame)
Até agora, 23 empreiteiras foram indiciadas por envolvimento na operação. Em uma segunda etapa, mais recente, outras 82 empresas de setores diversos foram indiciadas. Além de executivos presos, algumas das companhias citadas passam por dificuldades de acesso a crédito, falta de pagamentos de aditivos de contratos com a Petrobras e contam com muitas obras paradas e prejuízo. Algumas dessas empresas já
decretaram falência. Outras, como a Camargo Correa, fizeram
demissão em massa. O estrago até o fim da operação pode ser ainda maior. A estimativa é que a Petrobras tenha hoje cerca de 6.000 fornecedoras no país.
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4. Balanço incompleto
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4/9 (REUTERS/Paulo Whitaker)
O atraso na divulgação de resultados da companhia, previsto inicialmente para outubro do ano passado, acabou criando uma expectativa negativa no mercado sobre o que estaria por vir. Mas o estrago foi ainda maior que o previsto quando a empresa fez a efetiva publicação do balanço, no final de janeiro. No relatório, a estatal divulgou uma diferença de quase R$ 62 bilhões entre o valor real dos ativos e o contabilizado no balanço anterior, do segundo trimestre. A diferença não foi identificada como perdas com corrupção e a auditoria de todos os ativos não foi feita de maneira independente. A revelação do número assustou e gerou ainda mais incertezas nos investidores. Acabou criando uma situação insustentável para a Petrobras, que viu suas ações desabarem.
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5. Mudança de comando
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5/9 (Ueslei Marcelino/Reuters)
Dias depois da divulgação dos resultados,
Graça Foster e outros cinco diretores da companhia
renunciaram ao comando da Petrobras. Por dois dias, ficou no ar a dúvida sobre quem assumiria a responsabilidade de liderar a maior empresa do país em meio a um turbilhão de incertezas e denúncias. A expectativa era a de que o governo escolhesse alguém do mercado, que tivesse independência para decidir os rumos da empresa de agora em diante. Dilma Rousseff anunciou o nome de
Aldemir Bendine para o cargo. Tido como
um perito em crises e aliado do governo, Bendine deixou o comando do Banco do Brasil para assumir como presidente da Petrobras. A notícia azedou ainda mais o humor dos investidores.
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6. Acidente fatal
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6/9 (REUTERS/Gabriel Lordello)
Uma semana depois da troca de comando, um novo desastre atingiu a empresa – esse vindo dos mares e com consequências fatais. A explosão a bordo do navio-plataforma FPSO Cidade de São Mateus, no Espírito Santo, causou a
morte de cinco pessoas e deixou outras dez feridas – duas delas em estado grave. A norueguesa BW Offshore era a proprietária da embarcação e trabalhava para a petroleira brasileira. Ainda não se sabe o que causou a explosão.
A única certeza é a de que o acidente foi o terceiro maior desse tipo na história da empresa e que ela terá de arcar com uma multa, caso fique comprovado erro de operação.
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7. Revolta dos acionistas
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7/9 (Scott Eells/Bloomberg)
Além dos problemas internos, a Petrobras e seus acionistas no Brasil podem enfrentar uma possível revolta dos investidores estrangeiros. A estatal tem ações na Bolsa de Nova York e, se as denúncias de corrupção forem comprovadas, uma multa bem pesada pode chegar. Nos Estados Unidos,
uma ação simultânea da Securities and Exchange Comission (SEC), do Departamento de Justiça (DoJ) e dos tribunais americanos já fez com que técnicos fossem enviados ao Brasil para analisar o caso da Petrobras. A punição para a Petrobras, caso se comprove fraudes contra os acionistas, pode superar os valores de casos emblemáticos, como o da elétrica Enron, fechado em US$ 7,2 bilhões em 2006.
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8. Dívidas em dólar
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8/9 (Scott Eells/Bloomberg)
O momento ruim da Petrobras ainda conseguiu piorar com ajuda da alta do dólar. A valorização da cotação, a mais alta desde 2004, fez com que a dívida da companhia explodisse ao patamar da maior de toda a sua história. Calcula-se que 70% do endividamento da Petrobras estejam atrelados à moeda estrangeira, por isso um baque tão grande. Além do aumento do endividamento, fica mais caro para a Petrobras importar insumos, o que, por consequência, reduz seu caixa.
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9. Agora, veja 14 fatos incríveis sobre a Apple
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9/9 (Divulgação)