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Segmento de distribuição de energia elétrica irá investir R$ 52 bilhões em modernização até 2027

Religadores automáticos, que aceleram o restabelecimento de energia em casos de interrupção, entre outras inovações do gênero, aumentam a qualidade do serviço prestado pelas concessionárias

Investimentos em automação de rede reduziram significativamente as interrupções no fornecimento de eletricidade. (EDP/Divulgação)
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Publicado em 31 de julho de 2024 às 09h00.

Última atualização em 31 de julho de 2024 às 11h26.

Muita gente acredita que, quando falta energia, só uma equipe presencial da concessionária pode resolver. Mas nem sempre é assim. No ano passado, a Neoenergia conseguiu resolver 550 interrupções no Distrito Federal, ajudando mais de 1 milhão de pessoas e 300 mil residências e estabelecimentos comerciais, sem precisar enviar nenhum funcionário ao local.

Isso se deve aos investimentos de automação de rede que ampliaram a implantação do sistema self-healing (ou de “autorrecomposição”, numa tradução livre) e, assim, reduziram o número de interrupções no fornecimento da eletricidade, que pode ser restabelecida em até 60 segundos.

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O self-healing é atualmente o que existe de mais moderno em automação e inteligência de redes. A tecnologia é projetada para que os religadores identifiquem o defeito e façam o restabelecimento da energia ou a transferência do cliente para outra rede, sem a intervenção humana e em segundos.

Assim, os religadores automáticos são capazes de reverter as suspensões provocadas por defeitos temporários — motivadas, por exemplo, por raios ou galhos de árvores que caíram sobre a fiação, sem ocasionar maiores danos. Caso seja preciso redirecionar os endereços afetados para outras redes, o sistema faz isso automaticamente.

“Essa tecnologia permite que as concessionárias, em situações de crise, desloquem suas equipes só para onde a reconstrução da rede elétrica for necessária — em razão, por exemplo, da queda de árvores”, explica Ricardo Brandão, Diretor-Executivo de Regulação da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee).

Com a implantação dessa tecnologia no Distrito Federal, a Neoenergia reduziu o tempo médio que a população local ficou sem energia em 1 hora. A concessionária investiu mais de R$ 25 milhões nesta inovação. De 2021 a 2023 foram instalados 517 religadores em Brasília, sendo que 61% com a tecnologia de self-healing. A meta, para 2024, é instalar mais 110 novos equipamentos do tipo.

A aposta da Neoenergia nessa tecnologia é só uma das iniciativas do segmento de distribuição de energia elétrica para modernizar as redes do país, garantindo a prestação de um serviço cada vez melhor. “As concessionárias foram muito bem-sucedidas em ampliar o acesso à eletricidade no país e em melhorar a qualidade da energia distribuída”, diz Brandão. “O desafio agora é modernizar as redes do país, para torná-las mais resilientes, e ampliar a digitalização.”

Atualmente, o segmento atende a 99,98% da população em todas as regiões do Brasil — estamos falando de quase 90 milhões de unidades consumidoras. Registre-se que, há duas décadas, a abrangência era de 93%. E que havia uma enorme discrepância entre as regiões do país: em cidades no Norte e no Nordeste, a cobertura de energia elétrica não passava de 16%.

A mudança se deve aos R$ 18 bilhões que o segmento investiu por ano, em média, ao longo da última década. E esse valor vem subindo. Só no ano passado, as distribuidoras investiram R$ 31 bilhões na modernização da rede, o que envolve expansão, melhoria e renovação. Trata-se do dobro do que foi investido em 2021.

A meta atual do segmento é direcionar R$ 130 bilhões entre 2024 e 2027 para expandir, renovar e melhorar o fornecimento de energia elétrica no Brasil. Desse total, R$ 52 bilhões, que correspondem a 40%, serão gastos com a modernização da rede — o objetivo final é torná-la mais resistente, reduzindo as interrupções de energia.

Outra empresa que está determinada a tornar suas redes mais inteligentes é a Energisa. Em janeiro de 2022, ela inaugurou uma nova fábrica em Atibaia, em São Paulo, em parceria com a HartBR, para produzir religadores monofásicos.

Conhecidos como Rocket 1, equipamentos do tipo protegem o sistema elétrico ao isolar áreas com falta de energia, permitindo o fornecimento em outras partes da rede. Essa inovação melhora significativamente a qualidade do serviço, aumentando os índices de continuidade (entre 60% e 70%) nos pontos de instalação.

Além de operarem remotamente sem componentes adicionais nos postes, os religadores armazenam energia em supercapacitores, eliminando a necessidade de substituições periódicas e reduzindo os custos de manutenção. Após operações de religamento, eles permanecem conectados à rede, facilitando a restauração remota do fornecimento de energia.

Outra iniciativa da Energisa que não poderia passar sem registro ganhou o nome de VERA. Trata-se de um sistema que faz uso de inteligência artificial (IA) para otimizar o planejamento e a execução de poda preventiva de vegetação próxima da rede de energia da distribuidora.

O sistema combina imagens diversas, inclusive de satélites, com algoritmos de predição que ajudam a identificar as espécies das árvores e a distância que elas estão das fiações. Tudo para diminuir as falhas no fornecimento de energia em razão do contato da vegetação com a rede elétrica e reduzir os gastos com podas desnecessárias.

Outra novidade da Energisa é o Sistema Avançado para Gerenciamento da Distribuição. Em resumo, ele vai conectar os sistemas de atendimento ao cliente da concessionária com as equipes de campo e com a operação remota das redes e das subestações. Visa permitir a recomposição automática da rede de distribuição de energia elétrica, reduzindo a quantidade de consumidores afetados e o tempo de restabelecimento de energia.

A implantação desse novo sistema irá acontecer de forma faseada. A conclusão do projeto, orçado em R$ 125 milhões, está prevista para 2026. Só o novo data center, construído em Cataguases, para viabilizá-lo custou R$ 9,7 milhões.

Também focadas em oferecer uma rede de distribuição segura, confiável, monitorada e flexível aos quase 4 milhões de clientes, as distribuidoras da EDP nos estados do Espírito Santo e de São Paulo projetam um investimento de cerca de R$ 4,5 bilhões em seu plano estratégico, entre 2024 e 2026.

Desde 2021, foram energizadas 23 novas subestações, sendo oito na área de concessão em São Paulo e outras 15 no Espírito Santo, e a previsão é que até o final de 2026 mais 14 novas subestações entrem em operação. O aumento da capacidade da rede vem permitindo maior flexibilidade com a implantação de novas lógicas de self-healing (transferência automática de cargas), que já beneficia mais de 82 % dos clientes em São Paulo e 69% no Espírito Santo.

A construção, ampliação e modernização de subestações e linhas de distribuição, bem como a redução de perdas, combate ao furto de energia, investimento em digitalização e atendimento, criam as condições para o desenvolvimento econômico e social das áreas onde a EDP atua, por meio de uma rede elétrica robusta para o enfrentamento de eventos climáticos adversos e mantendo a qualidade do serviço oferecido.

Na Enel, os investimentos nas redes de distribuição vão alcançar mais de R$ 14 bilhões entre este ano e 2026, com foco na modernização e digitalização da infraestrutura. A empresa tem ampliado o uso de tecnologias de automação da rede em suas áreas de atuação, que reúnem 274 municípios nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará, para tornar o serviço prestado à população cada vez mais eficiente.

Para enfrentar as consequências de eventos climáticos cada vez mais extremos no país, os investimentos que estão sendo realizados pela Enel também buscam tornar o sistema de distribuição mais robusto e resiliente. A estratégia da empresa prevê ainda o reforço do plano operacional da companhia para casos de contingências; a ampliação da contratação de eletricistas próprios para atuar em campo e o aumento das ações de manutenção preventiva, como o incremento expressivo de podas de árvores; e a ampliação da capacidade dos canais de atendimento.

A Light, além de estar investindo na automatização de suas redes, permitindo o restabelecimento de energia de forma remota, direciona boa parte de seus esforços para modernizar sua rede de atendimento. Daí o aperfeiçoamento dos canais digitais da companhia. “No passado, as distribuidoras eram demandadas a abrir cada vez mais agências físicas”, lembra Ricardo Brandão, Diretor-Executivo de Regulação da Abradee. “Hoje, a maioria dos consumidores prefere recorrer aos canais digitais, que são bem mais ágeis.”

Uma das metas da CPFL, por sinal, é fazer com que esses canais digitais respondam por pelo menos 90% dos atendimentos realizados anualmente. O percentual alcançado em 2023 já superou essa meta, registrando 90,32%. Para estimular a digitalização, a companhia instalou totens digitais em suas centrais físicas de atendimento. Eles dispõem dos mesmos recursos encontrados no site e no aplicativo da distribuidora.

Para tornar sua rede mais inteligente, a CPFL anunciou investimentos até 2027 que totalizam R$ 580 milhões. A modernização já começou. No ano passado, sua rede inteligente foi responsável por 59,5% da energia distribuída pela concessionária. Em 2022, o percentual havia sido de 56,3%. Até o final de 2023, a empresa dispunha de quase 18 mil religadores automáticos. E o plano é chegar a 23,8 mil até o final de 2027.

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