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Família de brasileiros encontra na cannabis o 'sonho americano'

Marca de canabidiol USA Hemp foi fundada por família que emigrou do Brasil em busca de uma vida melhor; em 2021, exportação para o Brasil cresceu 60% em relação a 2020

Família Mendes, rebatizada de Redwood assim que mudou para os Estados Unidos: No mundo, o mercado de cannabis medicinal deve movimentar 62,7 bilhões de dólares até 2024 (USA Hemp/Divulgação)

Victor Sena

Publicado em 10 de janeiro de 2022 às 10h50.

Última atualização em 11 de janeiro de 2022 às 14h18.

Entre as 50 primeiras fazendas de cannabis nos últimos anos que foram licenciadas nos Estados Unidos uma delas tem as mãos de três irmãos brasileiros e dos seus pais.

José Rocha e a esposa Corina se mudaram para os Estados Unidos em busca do sonho americano há 20 anos com as crianças. Moraram em Nova Jersey e Carolina do Sul, estados em que imigrantes costumam buscar por oportunidades... Enquanto isso, José trabalhava principalmente como motorista de caminhão.

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Depois de a família ter se estabilizado, ele atuou principalmente no setor de construção civil e tinha uma empresa bem sucedida no ramo. Mas um novo tipo de negócio começou a chamar a atenção dos filhos. Um atrás do outro, os estados do Estados Unidos começavam a permitir a prescrição médica de derivados de cannabis e até o uso recreativo, como aconteceu em Washington e Colorado no ano de 2015.

Foi a partir daí que os irmãos Ana, Rafael e Gustavo convenceram o pai a vender a empresa de transportes e investir em uma fazenda para plantar pés de cannabis no estado do Oregon. Antes de produzir o próprio derivado medicinal canabidiol, que viria a ser batizado com a marca USA Hemp, a família Mendes comprou 35 hectares apenas para plantar e produzir derivados sob encomenda para outras marcas.

Primeiro, a ideia era vender cannabis para o uso adulto, mas a produção não podia ser interestadual e o mercado medicinal começou a se mostrar um pouco mais promissor que o recreativo.

Com isso, os irmãos Ana, Rafael e Gustavo — que decidiram rebatizar seu sobrenome para Redwood —  passaram a investir totalmente nos derivados medicinais e entenderam que o mercado brasileiro seria uma fronteira a ser explorada.

Com o apoio do pai, eles investiram mais e mais. Em pouco tempo, a fazenda da família pulou para 120 hectares.

Como o mercado dos Estados Unidos é mais competitivo, o Brasil era um destino ideal para as vendas da empresa e, em 2019, eles começaram a vender para pacientes daqui já com a marca USA Hemp. Na América Latina, segundo dados da The New Frontier Data, o Brasil domina 24% do potencial deste mercado.

Hoje, a marca é uma das principais exportadoras de canabidiol para pacientes brasileiros. Desde 2014, o uso do canabidiol é permitido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e desde 2020, (com a chamada RDC 327), já é possível comprar alguns produtos em farmácias físicas, mas a principal forma de compra ainda é via importação.

Independentemente da forma de compra, é necessário ter receita médica no Brasil. E, no caso da importação online, uma autorização da Anvisa.

Em 2021 a USA Hemp teve um crescimento de vendas no Brasil em torno de 60% em relação a 2020. Desde 2015, toda a empresa já teve uma receita acumulada de 25 milhões de dólares em vendas.

Segundo dados da Anvisa reunidos pela Associação Brasileira da Indústria de Canabinoides, as solicitações individuais para a importação de canabidiol dispararam entre 2015 e 2021. Em 2015, elas foram 781. Em 2021, foram 33,1 mil, um crescimento de mais de 100% na comparação com 2020, que havia atingido um número de cerca de 15 mil.

"Nos Estados Unidos você encontra o CBD até em postos de gasolina, e com isso você perde um pouco em qualidade na oferta de certas marcas porque têm produtos de todo o tipo. Nosso desejo de oferecer o produto para o Brasil é porque a legislação do país coloca o CBD onde a gente entende que ele tem que estar, que é dentro da regulação medicinal", explica Ana Redwood, uma das irmãs sócias da empresa."O mercado do Brasil não é importante só pelo dinheiro mas pela legislação medicinal."

Nos Estados Unidos, o consumo de canabidiol está dentro da categoria dos suplementos alimentares.  Já no Brasil, as restrições são bem maiores e é necessário um médico prescritor.

Fazenda da USA Hemp: produção de cannabis ocupa espaço de 120 hectares (USA Hemp/Divulgação)

Além da marca de canabidiol USA Hemp, a família também criou a Redwood Reserves, de cigarros feitos com as flores da planta e que contém também o CBD, mas não tem nicotina e tabaco.

Segundo Ana Redwood, que tem a função de representar as marcas, a empresa tem em média de 6 a 10 mil pedidos desses cigarros de canabidiol por mês dentro dos Estados Unidos, incluindo maços e pacotes.

O primeiro lugar no mundo a autorizar o uso medicinal da cannabis foi o estado da Califórnia, nos Estados Unidos, nos anos 1990. Depois, em 2001, o Canadá entrou na onda, assim como o estado do Havaí.

Hoje, já são cerca de 40 paí­ses que permitem o uso de ­derivados medicinais, com regras que variam. Nessa lista estão o Brasil, vizinhos como Argentina, Colômbia, Uruguai e Chile, a maior parte da Europa e dos estados dos Estados Unidos.

No mundo, o mercado de cannabis medicinal deve movimentar 62,7 bilhões de dólares até 2024, segundo a empresa de inteligência de dados Proibition Partners.

"Eu tomo canabidiol todos os dias, de 6000 mg, para ansiedade, o que me ajudou a parar de fumar. Ajuda meu pai, minha mãe, que tem insônia. Se você não acredita no seu produto, você não vai conseguir vender", diz Ana.

O canabidiol não é tem propriedades psicoativas e estudos já comprovam sua eficácia para tratar dor crônica, convulsões e espamos musculares em doenças como epilepsia.

A próxima fronteira da empresa para aumentar a presença no mercado brasileiro, que hoje só existe com a presença online, é conseguir a autorização da Anvisa para chegar às farmácias. Hoje, poucas empresas conseguiram essa autorização, como a farmacêutica paranaense Prati-Donaduzzi, a Verdemed e Nunature. Para isso, a USA Hemp precisa ter instalações físicas no Brasil. O investimento previso é de 15 milhões de reais, e que deve gerar 300 contratações no país.

 

 

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