David Neeleman é novo CEO da Azul (Marie Hippenmeyer / Divulgação/Divulgação)
Karin Salomão
Publicado em 25 de setembro de 2018 às 06h00.
Última atualização em 25 de setembro de 2018 às 08h41.
São Paulo - David Neeleman, fundador da JetBlue Airways e um empreendedor em série do setor aéreo, enxerga uma forma de fazer sua próxima empresa aérea americana se destacar em um mercado no qual concorrentes grandes e pequenas parecem decididas a enfiar passageiros com orçamentos limitados em cabines apertadas.
A empresa proposta, de codinome Moxy, não será apenas mais uma aérea de baixo custo. Neeleman planeja reinventar o cardápio de serviços oferecendo aos passageiros novas maneiras de personalizar a experiência, do espaço para as pernas até a refeição e o preço. Em entrevista, ele descreveu uma empresa aérea “tecnologicamente avançada” que operará um misto de viagens curtas e rotas diretas mais longas, tudo no mais novo jato de corredor único da Airbus, o A220.
“A JetBlue era uma empresa de serviço ao cliente que por acaso operava aviões”, disse Neeleman, investidor majoritário do novo empreendimento, ao falar pela primeira vez publicamente do plano. “A Moxy levará isso um pouco além. Será uma empresa de tecnologia que por acaso opera aviões.”
Neeleman pretende aproveitar seu talento para criar empresas aéreas de sucesso em um setor repleto de fracassos. Ele ajudou a fundar a Morris Air nos EUA antes de vendê-la à Southwest Airlines. Ele também criou a canadense WestJet Airlines e a brasileira Azul e faz parte de uma parceria dona de 45 por cento da empresa aérea nacional de Portugal, a TAP.
Investidores e concorrentes observam a mais nova empresa aérea de Neeleman ganhar forma, a começar pelo acordo revelado em julho por 60 jatos A220, que foram desenvolvidos pela Bombardier e antes eram conhecidos como C Series. A empresa entrará em um mercado no qual as quatro maiores aéreas estão presas a uma batalha feroz com concorrentes que oferecem preços baixíssimos, como a Spirit Airlines e a Allegiant Air.
“Penso que provavelmente haja espaço para um custo ultrabaixo, mas não austero”, disse o consultor de aviação Robert Mann. “Ele não começará com o mesmo equipamento velho e usado. Ele fará o que fez com a JetBlue: investirá o dinheiro para deixá-la nova, jovem.”
Ainda assim, há riscos. Neeleman está usando uma aeronave nova, relativamente pouco provada, com capacidade para cerca de 150 passageiros, menos do que a quantidade comum entre as empresas aéreas de baixo custo. Os aeroportos congestionados, o aumento dos preços dos combustíveis e o déficit de pilotos estão levando outras empresas aéreas a encomendar modelos maiores da Airbus e da Boeing em massa.
“Estamos vendo um mundo no qual as empresas aéreas precisam de aviões maiores para cobrir os custos”, disse George Ferguson, analista da Bloomberg Intelligence. “Não do A220 -- e sim do A321”, o jato de corredor único mais longo da Airbus.
Neeleman prometeu “abordagens inovadoras” para o recrutamento de pilotos e disse que o A220, em si, ajudou a motivá-lo a criar outra empresa aérea. Os novos jatos são projetados para proporcionar mais conforto aos passageiros, mesmo nos lugares mais baratos, com janelas maiores e uma configuração de cabine que deixa apenas um único assento do meio por fileira.
“O avião tornou a proposta mais interessante”, disse Neeleman. “A combinação da oportunidade com o avião me obrigou a fazê-la.”
A empresa se concentrará em voos diretos que driblam grandes hubs aeroportuários das aéreas maiores. Cerca de 800 possíveis pares de cidades estão sendo avaliados, inclusive destinos internacionais, disse Neeleman.
“O mantra será tentar transportar as pessoas até duas vezes mais rapidamente com passagens 30 por cento a 50 por cento mais baratas do que elas pagam hoje”, disse. “Eu ficaria surpreso se houver alguma rota na Moxy com algum concorrente em voos diretos.”