Quando investiu US$ 300 milhões no Brasil, no começo da década, a empresa italiana de serviços petrolíferos Saipem SpA se uniu a uma longa lista de empresas estrangeiras que disputavam negócios com a Petrobras.
Agora, ela está tendo dificuldades para ser paga.
A Saipem é uma das pelo menos cinco empresas europeias que falaram a respeito de atrasos em pagamentos, adiamentos de entregas ou outras dificuldades no Brasil durante as teleconferências de lucro do quarto trimestre.
Embora as operações do dia a dia estejam funcionando, os parceiros da Petrobras também estão enfrentando obstáculos na tomada de decisões que estão inibindo o planejamento, disseram funcionários das parceiras Galp Energia SGPS SA, BG Group Plc e Repsol SA, que pediram anonimato.
Trata-se de uma dura inversão em relação a cinco anos atrás, quando uma leva de empresas de serviços petrolíferos europeias e americanas migraram avidamente para o Brasil para construir fábricas e estabelecer escritórios.
Na época, a Petrobras estava ampliando os investimentos para mais de US$ 100 milhões por dia depois de realizar a maior descoberta de petróleo do Hemisfério Ocidental em décadas.
Hoje, a Petrobras está cortando investimentos em meio à queda dos preços do petróleo e está praticamente sem acesso aos mercados de crédito por causa de um escândalo de corrupção arrebatador.
“O Brasil é um grande mercado”, disse Terje Soerensen, CEO da operadora norueguesa de navios de apoio a plataformas Siem Offshore Inc., em entrevista por telefone. “Quando ele para, afeta todo o setor”.
Atrasos na entrega
A Siem não sabe se os quatro a seis navios que a empresa separou para contratos brasileiros serão necessários agora, disse Soerensen.
Executivos da Saipem disseram em uma teleconferência de lucros no dia 16 de fevereiro, que alguns pagamentos da Petrobras estavam atrasados. O CEO da norueguesa Aker Solutions ASA, Luís Araújo, disse em entrevista no dia 17 de março, que a empresa recebeu um pedido para adiar entregas de equipamentos.
A Vallourec SA, uma fabricante de oleodutos francesa, e a Alfa Laval AB, uma firma sueca de engenharia para a indústria petrolífera, também citaram um ambiente difícil para os negócios em teleconferências em fevereiro.
As fornecedoras americanas de serviços para campos de petróleo Halliburton Co. e Schlumberger Ltd. revelaram preocupações similares. A Halliburton, que tem sede em Houston, prevê que as atividades continuarão caindo no Brasil, disse o presidente Jeff Miller em uma teleconferência no início do ano.
Os cortes de investimento anunciados pela Petrobras criarão “desafios” neste ano, disse o CEO da Schlumberger, Paal Kibsgaard.
Um assessor de imprensa da Petrobras não pôde comentar imediatamente. Assessores de imprensa da BG, com sede em Londres, e da Repsol, com sede em Madri, preferiram não comentar, e um assessor da Galp, com sede em Lisboa, não respondeu a um pedido enviado por e-mail.
Turbulências do escândalo
A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, disse na terça-feira que a recuperação da Petrobras prosseguiria com a publicação de um comunicado financeiro auditado, bastante atrasado, até o fim de abril.
Em uma entrevista exclusiva no Palácio do Planalto, em Brasília, Dilma negou que soubesse do escândalo de propinas que sacudiu a empresa da qual ela foi presidente do Conselho de Administração entre 2003 e 2010. No mesmo dia, as ações e bonds subiram depois que a empresa assinou um acordo de empréstimo de US$ 3,5 bilhões com o Banco de Desenvolvimento da China.
Na semana passada, a Odfjell Drilling Ltd., da Noruega, disse que poderá encerrar uma parceria com a Galvão Óleo Gás SA, uma unidade da holding brasileira Grupo Galvão, e que está revendo suas operações no Brasil depois que a empresa foi ligada ao escândalo da Petrobras. Um assessor de imprensa da Galvão em São Paulo preferiu não comentar.
A incerteza para as fornecedoras estrangeiras continuará enquanto elas esperam que a nova equipe de gestão da Petrobras analise contratos e investimentos, disse Karl-Johan Bakken, CEO da Farstad Shipping ASA.
“Nós apreciaríamos que esse processo fosse concluído de forma eficiente e que tivéssemos um esclarecimento logo para que o mercado possa voltar ao normal”, disse Bakken em entrevista por telefone.
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1. Tempos difíceis
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1/9 (Divulgação/EXAME)
São Paulo – De suspeitas de corrupção a multas bilionárias, a
Petrobras tem sido protagonista de algumas das principais - más - notícias do Brasil nos últimos tempos. Alvo de uma das maiores investigações de corrupção corporativa do país, a petroleira hoje sofre uma crise de credibilidade que a faz perder valor de mercado a cada novo fato divulgado. E tem sido um exemplo de que realmente tudo pode dar errado ao mesmo tempo agora. Listamos oito fatos recentes sobre a Petrobras que comprovam que o ruim pode sempre piorar.Veja nas fotos.
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2. Operação Lava Jato
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2/9 (Arquivo/Agência Brasil)
Deflagrada em março de 2014, a
Operação Lava Jato investiga um esquema de corrupção dentro da Petrobras em que um possível esquema de lavagem de dinheiro e contratos irregulares por meio de licitações beneficiaria partidos políticos. Desde então, pessoas, grandes transações e contratos fechados com irregularidade são alvo de investigação da Polícia Federal. A operação em curso ainda tem muito que apurar – e a lista de possíveis envolvidos no escândalo só aumenta. Inclui grandes empreiteiras, fornecedores e políticos.
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3. Fornecedores na mira
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3/9 (Germano Lüders/Exame)
Até agora, 23 empreiteiras foram indiciadas por envolvimento na operação. Em uma segunda etapa, mais recente, outras 82 empresas de setores diversos foram indiciadas. Além de executivos presos, algumas das companhias citadas passam por dificuldades de acesso a crédito, falta de pagamentos de aditivos de contratos com a Petrobras e contam com muitas obras paradas e prejuízo. Algumas dessas empresas já
decretaram falência. Outras, como a Camargo Correa, fizeram
demissão em massa. O estrago até o fim da operação pode ser ainda maior. A estimativa é que a Petrobras tenha hoje cerca de 6.000 fornecedoras no país.
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4. Balanço incompleto
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4/9 (REUTERS/Paulo Whitaker)
O atraso na divulgação de resultados da companhia, previsto inicialmente para outubro do ano passado, acabou criando uma expectativa negativa no mercado sobre o que estaria por vir. Mas o estrago foi ainda maior que o previsto quando a empresa fez a efetiva publicação do balanço, no final de janeiro. No relatório, a estatal divulgou uma diferença de quase R$ 62 bilhões entre o valor real dos ativos e o contabilizado no balanço anterior, do segundo trimestre. A diferença não foi identificada como perdas com corrupção e a auditoria de todos os ativos não foi feita de maneira independente. A revelação do número assustou e gerou ainda mais incertezas nos investidores. Acabou criando uma situação insustentável para a Petrobras, que viu suas ações desabarem.
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5. Mudança de comando
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5/9 (Ueslei Marcelino/Reuters)
Dias depois da divulgação dos resultados,
Graça Foster e outros cinco diretores da companhia
renunciaram ao comando da Petrobras. Por dois dias, ficou no ar a dúvida sobre quem assumiria a responsabilidade de liderar a maior empresa do país em meio a um turbilhão de incertezas e denúncias. A expectativa era a de que o governo escolhesse alguém do mercado, que tivesse independência para decidir os rumos da empresa de agora em diante. Dilma Rousseff anunciou o nome de
Aldemir Bendine para o cargo. Tido como
um perito em crises e aliado do governo, Bendine deixou o comando do Banco do Brasil para assumir como presidente da Petrobras. A notícia azedou ainda mais o humor dos investidores.
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6. Acidente fatal
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6/9 (REUTERS/Gabriel Lordello)
Uma semana depois da troca de comando, um novo desastre atingiu a empresa – esse vindo dos mares e com consequências fatais. A explosão a bordo do navio-plataforma FPSO Cidade de São Mateus, no Espírito Santo, causou a
morte de cinco pessoas e deixou outras dez feridas – duas delas em estado grave. A norueguesa BW Offshore era a proprietária da embarcação e trabalhava para a petroleira brasileira. Ainda não se sabe o que causou a explosão.
A única certeza é a de que o acidente foi o terceiro maior desse tipo na história da empresa e que ela terá de arcar com uma multa, caso fique comprovado erro de operação.
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7. Revolta dos acionistas
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7/9 (Scott Eells/Bloomberg)
Além dos problemas internos, a Petrobras e seus acionistas no Brasil podem enfrentar uma possível revolta dos investidores estrangeiros. A estatal tem ações na Bolsa de Nova York e, se as denúncias de corrupção forem comprovadas, uma multa bem pesada pode chegar. Nos Estados Unidos,
uma ação simultânea da Securities and Exchange Comission (SEC), do Departamento de Justiça (DoJ) e dos tribunais americanos já fez com que técnicos fossem enviados ao Brasil para analisar o caso da Petrobras. A punição para a Petrobras, caso se comprove fraudes contra os acionistas, pode superar os valores de casos emblemáticos, como o da elétrica Enron, fechado em US$ 7,2 bilhões em 2006.
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8. Dívidas em dólar
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8/9 (Scott Eells/Bloomberg)
O momento ruim da Petrobras ainda conseguiu piorar com ajuda da alta do dólar. A valorização da cotação, a mais alta desde 2004, fez com que a dívida da companhia explodisse ao patamar da maior de toda a sua história. Calcula-se que 70% do endividamento da Petrobras estejam atrelados à moeda estrangeira, por isso um baque tão grande. Além do aumento do endividamento, fica mais caro para a Petrobras importar insumos, o que, por consequência, reduz seu caixa.
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9. Agora, veja 14 fatos incríveis sobre a Apple
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9/9 (Divulgação)