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Coronavírus expõe valor da saúde mental nas empresas, diz empreendedor

Para Rodrigues, sócio diretor em fundo e ex-presidente do Buscapé, preocupação com o bem estar dos funcionários é mais importante que nunca com a covid-19

Romero Rodrigues, cofundador e ex-presidente do Buscapé, fala sobre saúde mental nas empresas (Fabio Sarraf / EXAME/Exame)

Romero Rodrigues, cofundador e ex-presidente do Buscapé, fala sobre saúde mental nas empresas (Fabio Sarraf / EXAME/Exame)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 20 de maio de 2020 às 08h00.

Última atualização em 21 de maio de 2020 às 14h00.

Nos últimos anos, as empresas começaram a ter uma nova preocupação, que pode parecer óbvia: é preciso cuidar dos colaboradores. A ansiedade e a estafa, ou burn out, causam bilhões de dólares em prejuízos para as companhias em todo o mundo. Com a pandemia do novo coronavírus, essa preocupação fica ainda mais evidente, diz Romero Rodrigues, sócio diretor da empresa de venture capital Redpoint eventures e cofundador e ex-presidente do Buscapé.

A crise de saúde e econômica, bem como as instabilidades e incertezas que traz, aceleraram a busca das empresas por cuidar da saúde mental de seus colaboradores, diz. "Com a pandemia, ficam mais evidentes as várias enfermidades de saúde mental, como ansiedade e depressão e até burn out, de quem não consegue ter hábitos saudáveis de parar de trabalhar, dividir o tempo", afirma.

O assunto de saúde mental já tomava cada vez mais espaço dentro das empresas antes da pandemia. A razão é a transformação nos modelos de consumo, produção e geração de valor para as empresas. Se até então o principal ativo das empresas eram fábricas, máquinas ou imóveis, com o aumento da tecnologia o maior ativo passa a ser o capital intelectual e humano.

Embora empresas tenham cuidado de seus outros ativos, não cuidaram de seus funcionários nos últimos anos, diz Rodrigues. O fenômeno é global — e o Brasil, infelizmente, é um dos destaques. Por aqui, 72% da população brasileira tem alguma sequela de estresse e 30% sofrem de burnout. O burnout custa para os empregadores cerca de 80 bilhões de dólares ao ano no país, que fica atrás apenas do Japão, em que o burnout acomete 70% da população economicamente ativa.

Ambiente de trabalho

Até então, a preocupação das startups com a saúde mental poderia ser camuflada com ambientes divertidos e descolados. "Vivi isso no Buscapé, que tinha beliche para quem queria passar a noite no trabalho e campeonatos de videogame durante a madrugada", diz o empreendedor, um dos cofundadores da empresa de comércio eletrônico em 1999. Segundo ele, essa era uma característica comum das primeiras startups, copiando ambientes de grandes empresas de tecnologia como Google e Facebook - e ainda é bastante habitual no mercado. 

No entanto, hoje Rodrigues é mais crítico em relação a esse tipo de ambiente. "Ninguém vai desestressar por jogar 15 minutos de pingue pongue", diz. O número de horas no escritório não era o ideal e havia ineficiência na gestão do tempo e produtividade.

Hoje, com todos os funcionários em casa, essa situação se tornou ainda mais evidente. "As empresas e funcionários percebem que o espaço físico não era tão relevante", diz.

Há companhias que permitiram a prática de home office de forma permanente, como o Twitter e a corretora XP, assim como a empresa de produtos para animais de estimação Zee.Dog. A fintech Nubank vai manter home office até o final de 2020, bem como a Pipefy.

"Fica claro que mesa de pingue pongue e videogame eram máscaras. O que uma empresa precisa mesmo é de proximidade, cultura de gestão e cuidar do bem estar das pessoas", diz. Nesse momento, esse cuidado ficará mais claro entre as empresas, acredita.

Tecnologia a serviço da saúde mental

A tendência é que benefícios como atendimento psicológico se tornem mais atraentes para os funcionários. De acordo com Rodrigues, mesmo empresas que estão cortando custos e enxugando o quadro de funcionários estão aumentando benefícios nesse sentido. "As pessoas que sobram precisam ser bem cuidadas para cuidar da sobrevivência do negócio", afirma. 

Entre os investimentos do fundo Redpoint eventures, está a Vittude, startup para democratizar o atendimento psicológico por plataformas digitais. Segundo Rodrigues, a tecnologia será essencial para ajudar empresas a cuidar da saúde mental dos funcionários - assim como foi essencial para que as empresas olhassem os colaboradores como ativos essenciais.

Embora a taxa de psicólogos por habitante no Brasil seja alta, há uma má distribuição e muitas cidades não contam com esse serviço. "Entre todas as enfermidades da medicina, a psicologia é uma das que menos perde qualidade com a tecnologia", diz.

Com a pandemia, a saúde mental deve ser uma preocupação maior para as empresas - e o atendimento psicológico, físico ou virtual, um benefício mais comum para colaboradores.

Pressão por resultados

Funcionários de diversos níveis e setores sentem a pressão por resultados mas, em startups, essa pressão pode ser maior e atinge todos os níveis. Mesmo que a cultura interna seja de mais colaboração entre as pessoas, a competição externa é maior, assim como os riscos ao negócio. 

"O segredo de uma startup é falhar rápido e barato", diz Rodrigues. "O empreendedor precisa viver num ambiente propício ao fracasso." Esse perfil não é para qualquer pessoa e muitos podem desistir de algo facilmente, aos primeiros sinais de falha. Outros acabam insistindo em uma solução que não é a mais adequada. "É um ambiente caótico, confuso e com muita incerteza. Por isso as pessoas precisam tentar buscar tranquilidade".

Depois de sair do papel de empreendedor e sair da presidência do Buscapé em 2015, Rodrigues passou ao de investidor e entrou no fundo no mesmo ano. "Minha atividade hoje também é cheia de incertezas. Investimos em empresas novas, sobre as quais não temos muitos dados e nem podemos auditar", diz.

Hoje, as incertezas ganham mais um fator de complexidade com a crise gerada pelo novo coronavírus. Assim, a preocupação com a saúde mental da equipe precisa ser ainda maior.

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