Coronavírus: compras online crescem e empresas adaptam operações e entrega
Com o isolamento por causa da pandemia, vendas de mercados e itens de saúde pela internet crescem até cinco vezes
Karin Salomão
Publicado em 18 de março de 2020 às 12h37.
Última atualização em 18 de março de 2020 às 13h42.
Sem poder ir a shoppings ou a lojas de rua por causa da pandemia do coronavírus, consumidores estão se voltando ao comércio eletrônico . Para lidar com o aumento da demanda, e ainda proteger funcionários e entregadores, empresas do setor estão ajustando a operação.
A startup Eu Entrego, que conecta entregadores autônomos a empresas, viu um aumento de cinco vezes nos pedidos de supermercados e mercearias. O restante das categorias se manteve estável, de acordo com a empresa. "Como trabalhamos com motoristas autônomos, temos escalabilidade para atender a essa demanda", diz Vinicius Pessin, cofundador e presidente da Eu Entrego. São cerca de 80.000 entregadores cadastrados.
Já no gigante de marketplace Mercado Livre , as categorias de saúde, cuidado pessoal e alimentos e bebidas registraram crescimento de 15% quando comparado ao mês todo de fevereiro deste ano. Na comparação com a primeira quinzena de março do ano passado, o crescimento foi de 65%.
O Mercado Livre atribui esse crescimento ao cenário atual de combate ao contágio do coronavírus , considerando que produtos como máscaras protetoras e álcool em gel e de primeiras necessidades (alimentos, papel higiênico, fraldas etc.) fazem parte dessas categorias.
A OnTime Log, empresa de logística, também enxerga aumento no consumo de algumas categorias de produtos de primeira necessidade, como os de mercearia e farmácia. "As pessoas estão antecipando o consumo e estocando certos itens, o que deve se estabilizar nas próximas semanas", diz Carlos Figueiredo, diretor-presidente.
Varejo físico
As lojas físicas sofrem com a pandemia. Na segunda-feira, primeiro dia de isolamento voluntário, o fluxo de visitantes caiu 27,1% em relação às demais segundas-feiras de 2020. Na data, as lojas de rua viram queda de 12,74% nas visitas, mas o maior impacto foi nas lojas de shopping, com 43% a menos de consumidores.
Na comparação com a mesma data do ano passado, o recuo no varejo físico foi de 7,7%, segundo estudo feito pela empresa de coleta e análise de dados do varejo Seed Digital. O fluxo de visitantes já vinha caindo há uma semana no varejo físico, de acordo com a empresa.
“A tendência é que essas quedas se acentuem nos próximos dias, pois mais pessoas permanecem em casa. Por outro lado, o tíquete médio das lojas pode aumentar, uma vez que consumidores estão estocando produtos”, diz Sidnei Raulino, CEO da Seed Digital, em comunicado.
Embora preocupante, a crise pode ser uma oportunidade para que varejistas ajustem as operações de comércio eletrônico.
Supermercados tradicionalmente têm uma participação baixa de vendas pelo comércio eletrônico, de cerca de 4%. Agora essa participação tende a crescer. “Passado esse momento, deve haver um legado para as varejistas de uma nova leva de consumidores, que está testando o modelo do comércio eletrônico e gostando”, diz Pessin, da Eu Entrego.
Com o aumento da demanda no e-commerce, a tendência é que os prazos de entrega fiquem mais longos. Assim, se o envio de compras online a partir das lojas físicas já era uma tendência forte no comércio eletrônico, com a pandemia pode se acentuar, acredita ele.
Cuidados na logística
Nos Estados Unidos, o aumento no comércio eletrônico levou o gigante do setor, a Amazon, a contratar mais 100.000 funcionários para dar conta da demanda.No entanto, os empregados estão denunciando que o ritmo de trabalho, que já era intenso, ficou ainda mais excessivo, segundo o The Guardian .
Por aqui, empresas de comércio eletrônico estão buscando alternativas e medidas de segurança na logística , como disponibilizar o álcool em gel para os funcionários e aumentar a limpeza nas áreas de trabalho e nos centros de distribuição.
O Mercado Livre irá contratar mais funcionários para lidar com a demanda. "Nosso planejamento prevê antecipar para um prazo imediato a curva de contratação prevista para três meses", diz Leandro Bassoi, vice-presidente do Mercado Envios para a América Latina, em entrevista por e-mail. Para minimizar o risco de contágio, a empresa aumentou a divisão entre os grupos de trabalho para reduzir o contato entre as pessoas.
Em relação aos entregadores, eliminou a necessidade da assinatura do cliente no celular do entregador ao receber a encomenda. "Com isso, evitamos o contato que cada entregador faz com até 150 pessoas todos os dias", diz Bassoi.
Na Eu Entrego, os motoristas e entregadores autônomos que precisarem deixar de trabalhar ao apresentarem sintomas da doença continuarão a receber uma remuneração na média do que recebiam antes.
Nas áreas administrativas de diversas empresas do setor, muitos funcionários estão trabalhando remotamente. A OnTime alterou os turnos de trabalho para diminuir a concentração no escritório e restringiu pela metade a ocupação máxima no refeitório e nas salas de convivência.