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Controlador do JBS reduz fatia para aliviar incertezas

Os controladores do JBS optaram por ficar com menos de 50% de participação na empresa; operação elevará a fatia do BNDES Participações na companhia para 31,3%

Wesley Batista, da JBS: as ações da companhia hoje valem quase a metade da cotação do início de 2010 (Divulgação)

Wesley Batista, da JBS: as ações da companhia hoje valem quase a metade da cotação do início de 2010 (Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 18 de maio de 2011 às 19h53.

São Paulo - Buscando reduzir incertezas do mercado que penalizam as ações da empresa, os controladores do JBS optaram por ficar com menos de 50 por cento de participação na empresa, em uma operação que elevará a fatia do BNDES Participações na companhia para 31,3 por cento, revelou nesta quarta-feira o presidente da maior empresa de carne bovina do mundo.

Em meio a um processo de "rebalanceamento" da dívida da companhia entre as suas unidades dos Estados Unidos e Brasil, o conselho de administração do JBS S.A. aprovou um aumento de capital de até 3,47 bilhões de reais, ao mesmo tempo em que o BNDESPar concordou em converter valor semelhante das debêntures detidas da empresa em ações.

O BNDESPar, o braço de investimento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) quase dobrará sua participação, ante atuais 17 por cento, conforme antecipou uma fonte à Reuters, ao mesmo tempo em que os controladores do JBS reduzirão sua participação para 47 por cento --os minoritários ficarão com o restante.

"Esse aumento de capital e a eliminação das debêntures tiram incertezas. Vai em linha com a estratégia e o foco que estamos, que é não ter despesas de juros referentes a debêntures...", declarou nesta quarta-feira Wesley Batista, presidente da JBS, da família dos controladores, em teleconferência para investidores.

Além de buscar uma "desalavancagem do endividamento" e deixar tudo "às claras" para o mercado, Batista disse que a empresa está comprometida em elevar a geração de caixa para atrair mais investidores.

As ações da companhia hoje valem quase a metade da cotação do início de 2010, dias após o anúncio da compra da Pilgrim's Pride e da Bertin, que carregavam problemas financeiros e obrigaram o JBS a realizar operações financeiras como a emissão de debêntures, para arcar com os custos das aquisições.

"Chegamos à conclusão que a ação estava penalizada por incertezas, por estarmos ineficientes na estrutura de capital", acrescentou ele, lembrando do processo de "rebalanceamento" da dívida que está em curso.

A empresa, que se tornou também a segunda maior produtora de carne de frango do mundo após a aquisição da Pilgrim's, havia anunciado no passado a intenção de realizar uma oferta inicial (IPO) de ações do JBS USA --plano este que agora está fora do foco da companhia com o fim da obrigatoriedade da operação após a conversão das debêntures do BNDESPar no Brasil.

Ao ser questionado, Batista disse que no momento a empresa não avalia realizar abertura de capital da unidade dos EUA. Ele também afirmou que a conversão das debêntures encerra uma negociação com o BNDES para uma nova emissão, anunciada em dezembro.

O BNDESPar também tem participações relevantes em outras companhias do setor de carnes, como Marfrig.

No ano passado, a instituição subscreveu debêntures do Marfrig em valor total de 2,5 bilhões de reais. A operação permitiu que a empresa arcasse com os gastos na compra da norte-americana Keystone Foods, em valor de 1,26 bilhão de dólares.

REEQUILÍBRIO DE DÍVIDA Para o analista Rafael Cintra, da Link Investimentos, o mercado não se surpreendeu com a decisão do JBS, uma vez que o caminho natural, diante da não realização do IPO nos EUA, seria realizar a conversão das debêntures em ações no Brasil.

"Fazendo isso, ela elimina a obrigatoriedade de fazer o IPO lá fora e também acaba melhorando a estrutura de capital, passa de dívida para o patrimônio líquido", comentou.

O acerto com o BNDES coincide com um momento em que a empresa busca reequilibrar a sua dívida, aumentando o endividamento nos EUA e reduzindo no Brasil, em busca de maior eficiência.

O conselho de administração da JBS autorizou na semana passada as subsidiárias da companhia nos Estados Unidos e na Austrália a realizarem emissões de títulos de dívida superiores a 2 bilhões de dólares.

Mas o presidente da empresa afirmou nesta quarta que a empresa na verdade buscará emitir um total de 2,2 bilhões de dólares ("bonds" em valor de 1 bilhão; 400 milhões de "term loan" e 800 milhões de ABL--asset based lending).

"Os três juntos somam 2,2 bilhões. A gente espera precificar o bond ao final desta semana...", disse ele, sem dar mais detalhes.

Segundo ele, o montante captado será enviado ao Brasil, o que deverá gerar entre redução de despesas financeiras e tributárias 150 milhões de dólares de ganho para a empresa.

Por volta das 16h50 (horário de Brasília), as ações do JBS caíam 4,5 por cento, enquanto o Ibovespa caía 0,9 por cento.

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