Contra a corrupção, empresas devem controlar minoria antiética
Tema foi discutido em evento do Guia EXAME de Compliance 2019, que tem inscrições abertas até 28 de julho
Murilo Bomfim
Publicado em 11 de julho de 2019 às 15h39.
Última atualização em 8 de junho de 2020 às 14h15.
Quando se fala em corrupção nas organizações, é comum citar a própria empresa como responsável e esquecer que, por trás das ações antiéticas, existem pessoas. “Quem tenta corromper alguém são os empregados da corporação”, diz Eduardo Staino, diretor de compliance e auditoria interna da construtora Andrade Gutierrez. “Em geral, 10% dos funcionários não vão seguir o código de ética, outros 10% agem com integridade e os 80% restantes seguem a maioria.” Para Staino, o trabalho de contenção da corrupção envolve a identificação daqueles que têm mau comportamento e o direcionamento da maioria.
Staino foi um dos debatedores presentes no café da manhã com empresários e especialistas em governança corporativa para a apresentação do Guia EXAME de Compliance , que ocorreu em um auditório do Ministério Público Federal, em São Paulo, nesta quinta-feira.
Durante os próximos meses, EXAME, em parceria com a Fundação Dom Cabral, a agência de comunicação corporativa FSB e o Instituto FSB, vai conduzir uma pesquisa para apontar as melhores práticas de compliance adotadas pelas empresas, elegendo as companhias campeãs no guia, que será publicado no final do ano. O formulário de inscrição para participar do levantamento está disponível no site até 28 de julho.
A presença de Staino trouxe ao debate — que foi mediado pelo redator-chefe de EXAME José Roberto Caetano e pelo publicitário Mário D’Andrea — a experiência da construtora que teve um baque em função do envolvimento na Operação Lava Jato, mas que vem se recuperando. A empresa, que em 2010 faturava cerca de 10 bilhões de reais, teve faturamento de 1,7 bilhões no auge do escândalo e, recentemente, voltou a crescer, aproximando-se da casa dos 5 bilhões. “Isso foi fruto do trabalho de compliance”, diz o diretor.
Para ele, três razões motivam uma empresa a implementar o setor: a convicção (quando se faz por acreditar que é correto), a comodidade (quando se faz porque todos estão fazendo) e o constrangimento (quando se faz porque a situação obriga). “Fizemos por convicção no início, passamos por um constrangimento absurdo, e agora estamos ainda mais convictos.”
Também presente no debate, o professor da Fundação Dom Cabral Dalton Sardenberg destacou a diferença entre dois desvios de conduta: a corrupção da empresa e a corrupção na empresa. “Quando um ou outro executivo se beneficiam de falhas nas auditorias, tem-se a corrupção na empresa. É bem diferente da corrupção da empresa, que é definida pelo controlador”, diz. “É quando esse profissional escolhe essa forma de gerar resultados, porque o ambiente do negócio leva à possibilidade de ganhar mais.”
Para Ana Siqueira Dantas, membro do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa que participou da discussão, as pessoas devem entender que podem ter voz para fazer intervenções quando se depararem com ações duvidosas no cotidiano. “Temos uma sociedade muito hierarquizada que faz com que, no Brasil, questionar seja algo mal visto”, diz. “A maioria das pessoas é ética, mas se silenciam.”