Como se faz uma camisinha da Blowtex
Todos os anos, 150 milhões de camisinhas da Blowtex são fabricadas. EXAME.com visitou a unidade e mostra nas fotos todo o processo de produção. Confira
Luísa Melo
Publicado em 11 de março de 2016 às 13h05.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 14h18.
São Paulo - Todos os anos, 150 milhões de camisinhas da Blowtex são fabricadas. A marca nasceu no Brasil e está no mercado desde 1988, mas foi comprada em 2007 pela australiana Ansell. A empresa é líder mundial em barreiras de proteção–categoria não apenas de preservativos, mas também luvas e vestimentas para bombeiros, por exemplo. Sua operação está concentrada na Ásia. A única fábrica de camisinhas da companhia no Brasil é a da Blowtex, em Alumínio, no interior de São Paulo. EXAME.com visitou a unidade e mostra, nas fotos, todo o processo de produção. Confira:
A fábrica da Blowtex em Alumínio produz basicamente quatro tipos de camisinhas. Dois modelos lisos (que se diferenciam apenas pelo tipo de lubrificante usado), a action (que possui textura) e a extra large (que é maior e tem a ponta mais larga do que a tradicional). Todas elas são feitas com látex natural. A marca vende preservativos à base de látex sintético (poliisopreno), da linha Skyn, mas eles são importados e apenas embalados no Brasil a um preço em média 50% mais alto que o dos demais.
O látex usado na fabricação dos preservativos vem de países asiáticos, principalmente a Malásia. Ele demora cerca de dois meses para chegar ao país. A matéria-prima brasileira não é utilizada porque acaba custando mais caro do que a importada após passar pelas etapas de processamento, segundo a Blowtex. Ele vem em barris de 200 litros e é depositado em tanques de inox, como o da foto. Na planta, há quatro deles: três com capacidade para armazenar 22 toneladas de material e um de 36 toneladas. Nesses recipientes, o látex é diluído, misturado e maturado.
Depois de agitado, o composto precisa descansar por 8 a 24 horas para dissipar as bolhas que se formam no processo. Isso acontece nos "baldes" de cor bege vistos na foto. De lá, o material é bombeado para as máquinas de imersão. Toda a planta tem um forte cheiro de amônia, um dos materiais usados para manter o látex em estado líquido. A temperatura do ambiente é controlada e o teto do galpão é revestido com uma manta térmica.
O processo de fabricação das camisinhas é simples de entender: uma fôrma cilíndrica (mostrada na foto nº 2) é mergulhada no látex, que depois passa por um processo de secagem e é retirado dela. Adiante, detalhamos essas etapas. No dia em que EXAME.com visitou a planta, estava sendo fabricado o preservativo Blowtex saborizado de menta, que usa um molde liso.
Por meio de um sistema parecido com uma esteira, as fôrmas circulam pela máquina e são imersas no composto.
Na sequência, elas são direcionadas para a parte superior da máquina, onde passam por uma espécie de estufa para que o látex seque, num processo chamado de pré-vulcanização. Ao fim dessa etapa, o látex seco fica transparente.
Em seguida, as fôrmas com o látex já seco são encaminhadas a um segundo tanque onde recebem uma nova camada do material, para reforçar sua resistência.
Ainda na máquina, os preservativos passam por "escova" que faz a sua "bainha", a base. Agora, eles estão prontos para passar pela segunda secagem, etapa chamada de vulcanização.
Depois de secar pela segunda vez, as camisinhas seguem para o processo de retirada da forma. Elas também recebem uma substância que faz com que o látex volte a ter uma cor esbranquiçada. A própria máquina retira o preservativo do molde, com a ajuda de jatos d'água. Então, o produto é depositado em um recipiente e a forma é lavada.
O recipiente com os preservativos é, então, levado à área de lavanderia. Lá, eles são lavados em enormes máquinas industriais.
Depois, passam por uma centrífuga.
E, por fim, seguem para a secadora. Lá, as camisinhas recebem um material que impedem que elas grudem umas nas outras. Desconsiderado o tempo que o látex precisa descansar e os períodos de teste, a produção da camisinha leva cerca de 24 horas.
Agora, as camisinhas seguem para os testes em laboratório. Uma amostra de cada lote passa por uma prova de insuflação. Nela, o preservativo recebe ar até estourar para checar sua resistência ao rompimento. Segundo a Blowtex, suas camisinhas resistem até duas vezes mais do que o determinado pelo Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia). Se alguma delas não resistir ao padrão exigido pela própria empresa, todo a produção é descartada. "A camisinha é preparada para não estourar durante uma relação sexual. Quando isso acontece, normalmente é porque ela foi colocada de forma incorreta", diz Wang.
Alguns preservativos também passam por um teste de solução salina, que não pôde ser fotografado. Nele, é verificada a capacidade do produto de reter substâncias. Amostras são encaminhadas ainda a uma estufa a 50 °C, onde ficam por 7 dias, para testar se suas características permanecem com o envelhecimento. Uma curiosidade: em outras plantas da Ansell, dona da Blowtex, há máquinas que simulam uma relação sexual e testam a resistência das camisinhas. Segundo Wang, em condições extremas (com o maior atrito possível e sem lubrificação nenhuma), o produto da marca aguentaria sem se romper a uma relação de 27 minutos. Na fábrica de Alumínio, porém, não há esse equipamento.
Caso as amostras sejam aprovadas, o lote é liberado e as camisinhas seguem então para o teste elétrico, onde são testadas uma a uma. Manualmente, cada uma delas é colocada em um mandril que induz carga elétrica. Como o látex é isolante, se houver condução, é sinal de que há algum furo ou estrago, ainda que invisível a olho nu.
Os produtos que dão passagem elétrica são rejeitados automaticamente. Também é na máquina de teste elétrico que os preservativos são enrolados e já saem prontos para receber o lubrificante e ir para a embalagem.
No ano passado, a Blowtex conseguiu automatizar parte dos testes elétricos com uma máquina que coloca automaticamente a camisinha no mandril, eliminando a mão de obra. "Nosso produto chega ao ponto de venda a um preço de 3 a 4 reais. Precisamos brigar para economizar cada centavo", disse Wang.
Agora que as camisinhas estão prontas, elas seguem para a linha de embalagem primária. A fabricação do plástico que forma os pacotes é terceirizada para uma empresa nacional, segundo a Blowtex. Ele já vem estampado com o logotipo da marca e as características do produto. O rolo de plástico passa para uma espécie de prensa e forma o blister onde ficarão os preservativos. Manualmente, cada uma das camisinhas é acomodada no blister de embalagem
O produto segue então por uma esteira e, com a ajuda de uma máquina, recebe uma gota de lubrificante. O lubrificante é comprado pela Blowtex de um fornecedor nacional. Na fábrica, a empresa desenvolve a fórmula para dar a ela características como sabor e aroma, quando necessário.
Os preservativos continuam pela esteira e, automaticamente, uma outra camada de plástico é colocada e prensada em alta temperatura sobre elas, fechando a embalagem primária. É nesse momento que o produto recebe a impressão do código de barras que permite rastreá-lo e também as datas de fabricação e validade.
Na sequência, a máquina faz os cortes verticais e horizontais, separando os pacotes. Eles são depositados em caixas.
Manualmente, as caixas são levadas para a linha de embalagem secundária. Cuidadosamente, as funcionárias separam grupos de três embalagens e os acomodam em uma esteira.
Automaticamente, a máquina embala os três pacotinhos individuais. Nem todo mundo nota, mas a embalagem secundária vem com uma bula impressa na parte interna.
Agora as camisinhas já estão do jeito que são encontradas nos pontos de venda. Elas continuam pela esteira e são colocadas manualmente em uma caixinha com 24 unidades.
Depois, elas são organizadas dentro de uma outra caixa maior, que é enviada para a distribuição. A fábrica da Blowtex em Alumínio emprega 140 pessoas. O processo de fabricação dos preservativos segue as normas da Anvisa e da certificação ISO 9001.
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