Como se faz o Ferrorama, locomotiva de brinquedo da Estrela
Com dois vagões e duas velocidades, clássico é vendido pela companhia desde a década de 80, quando foi lançado
Tatiana Vaz
Publicado em 8 de dezembro de 2015 às 10h31.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 14h24.
São Paulo – Dona de alguns dos brinquedos mais icônicos já feitos no país, a Estrela lança centenas de produtos por ano – sem nunca deixar de lado a renovação de clássicos como Detetive (agora com óculos 3D) e Banco Imobiliário (com direito a maquininha de crédito). O Ferrorama é um deles. A locomotiva tem dois vagões, duas velocidades, vai para a frente e para trás e chega até a estação de passageiros desde a década de 80, quando foi lançada. Vale lembrar que a companhia, de quase 80 anos, saiu totalmente dos trilhos nos anos 90. À beira da falência teve de aprender a se reinventar, como fez com seus produtos, e mudou toda a gestão de negócios. Visitamos a fábrica da Estrela em Itapira, no interior de São Paulo, para ver de perto como se faz o brinquedo. Confira nas fotos a seguir.
A unidade fabril de Itapira é a maior da empresa e emprega 500 dos cerca de 1.800 empregados no país. Além dela, há uma fábrica da Estrela em Sergipe e outra em Minas Gerais. Toda a parte de eletrônicos dos brinquedos é feita por parceiras na China, uma das iniciativas da companhia depois da crise por qual passou. A sede fica na Vila Olímpia e concentra as áreas de markerting, comercial e desenvolvimento, além de presidência e financeiro.
Conversas informais com crianças e lojistas são parte da pesquisa da área de criação de brinquedos. O catálogo conta com 400 produtos a cada ano. Depois de definidas quais ideias sairão do papel, inúmeras reuniões são feitas para que os itens sejam adequados aos custos de produção, engenharia e marketing. Tudo é planejado para que pelo menos 93% do que for produzido seja vendido. Para a produção, todos os dias dezenas de fornecedores entregam as mercadorias pedidas. Elas são checadas, recebidas e guardadas até a hora de serem usadas.
Nesta etapa começa a preparação do material que será usado na fabricação. Cerca de 400 quilos de plástico granulado, adicionado ao pigmento em pó da cor desejada, são misturados por cerca de vinte minutos em grandes blenders industriais. Apesar da mistura, o pigmento fica superficial ao grano.
Os materiais entram por um grande funil em uma máquina extrusora. Dentro dela, eles seguem por um cilindro aquecido por resistências elétricas que faz com que o pigmento seja incorporado ao grano plástico.
O grano colorido passa por uma máquina que promove dois choques térmicos precisos e em alta velocidade. Primeiro, o material é derretido e segue por um caminho que lhe dá a forma de um espaguete. Passa, então, para um tanque de água fria para ser resfriado e voltar ao estado sólido.
Em formato de espaguete, o plástico é colocado em um granulador que o transforma novamente em grão. Essa etapa é importante para garantir o brilho e a qualidade do material. Depois dela, eles são armazenados.
Todos os tipos de peças de plástico com defeito produzidos no processo podem ser recuperados voltando a esta fase. Eles são moídos e depois colocados no granulador novamente, quantas vezes for necessário, para que possam ser usados na fabricação.
Depois de granulado e preparado, o plástico colorido vai para uma máquina injetora. A pressão em alta temperatura exercida pela máquina faz com que o grano amoleça e entre para dentro de um molde, com o formato da peça que está sendo fabricada. Em seguida, o material passa por um sistema de resfriamento e endurece.
Há máquina injetoras para vários tipos de moldes, de dado a bonecas. Os mais complexos, como o do brinquedo Pula Macaco, com várias peças feitas de uma só vez, são retirados pelos funcionários a mão e separados com ajuda de uma chave de fenda.
Assim como os outros brinquedos, os vagões e trilhos do Ferrorama passam por essas etapas até chegar à linha de montagem, onde todas as peças serão unidas e finalizadas.
Primeiro, os vagões ganham o motor (importado da China) e os fios de contato são soldados para receberem pilhas. Os brinquedos seguem pela linha e são fechados um a um por funcionários com ajuda de uma parafusadeira, depois do motor ser testado.
A segunda etapa da montagem avalia o funcionamento da engrenagem dos pequenos trens. Lubrificadas com vaselina, toda as peças que formam o sistema são verificadas e encaixadas antes de serem devidamente tampadas por um funcionário.
O sistema inversor dos trens, que faz eles irem para frente e para trás nos trilhos, é testado de maneira prática. Em um caminho de trilhos montado ao lado da linha de montagem, os trens são testados um a um. A ideia aqui é testar se todo o conjunto que forma a locomotiva funciona perfeitamente. Se sim, o brinquedo segue para a linha de embalagem.
A caixa vazia segue pela linha de montagem e a cada avanço passa por um funcionário, responsável por incluir uma determinada peça e conferir as demais. No fim, todas as etapas são conferidas e, se for preciso, corrigidas. Os produtos também são testados aleatoriamente durante todo o dia pela área de controle de qualidade.
Do início ao final do processo, mais de 80 provas de qualidade são feitas com os brinquedos. Nelas são analisadas até a quantidade de metais pesados nos produtos e embalagens, para evitar problemas em caso de as crianças colocarem as peças ou caixas na boca.
Prontos, vários Ferroramas são colocados juntos e levados para o centro de distribuição de Itapira, de onde seguem para lojas de brinquedos de todo o país.