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Como o dólar negou à GOL a vantagem do combustível barato

A queda de 22% do real frente ao dólar nos últimos seis meses está inflando a dívida que a empresa aérea tem no exterior


	Avião da GOL: a empresa deve começar a colher benefícios do petróleo mais barato no primeiro trimestre de 2015
 (Wikicommons)

Avião da GOL: a empresa deve começar a colher benefícios do petróleo mais barato no primeiro trimestre de 2015 (Wikicommons)

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Da Redação

Publicado em 20 de fevereiro de 2015 às 14h01.

Nova York - Esse deveria ter sido o momento da GOL Linhas Aéreas Inteligentes SA.

A maior empresa aérea do Brasil foi bem-sucedida em diminuir custos ao reduzir o número de voos e cortar postos de trabalho e, mais recentemente, poderia se beneficiar de uma ajuda extra: uma queda histórica nos preços do petróleo poderia contribuir para reduzir drasticamente seus custos com combustível. Mas a empresa não teve tanta sorte.

Em vez de colher os benefícios dos preços mais baixos do petróleo, a queda de 22 por cento do real frente ao dólar nos últimos seis meses está inflando a dívida que a empresa aérea tem no exterior.

A GOL obtém 87 por cento de sua receita em reais, enquanto cerca de 75 por cento de seus compromissos financeiros são em moeda estrangeira.

O receio de que a companhia aérea terá dificuldades para pagar sua dívida em dólar levaram os rendimentos de seus títulos a um avanço de mais de 3 pontos porcentuais desde que eles foram vendidos, em setembro, para uma alta de 11,8 por cento.

“Eles têm um descasamento grande entre receita em real e dívida em dólar”, disse Carlos Gribel, chefe de renda fixa da Andbanc Brokerage, por telefone, de Miami.

“Qualquer ajuste no dólar, como esse que vimos recentemente, vai na veia do balanço deles, por mais que não impacte tanto o caixa”, disse.

Mergulho do real

Eduardo Masson, diretor de Relações com Investidores da GOL, disse que o declínio dos títulos está mais relacionado a um movimento mais amplo de aversão de investidores a ativos brasileiros.

“Eu não enxergo uma deterioração nos bonds relacionada ao risco específico da companhia. É uma questão macro, relacionada à atividade econômica, câmbio e risco do Brasil”, disse ele por telefone de São Paulo. “A GOL nunca esteve em uma posição mais forte do ponto de vista creditício”.

O diretor financeiro da empresa, Edmar Lopes, mencionou o aumento dos custos relacionados ao dólar em novembro, quando disse que o prejuízo da empresa no terceiro trimestre ampliou-se 24 por cento em relação ao segundo trimestre, para R$ 245 milhões (US$ 85 milhões).

Em uma apresentação, em fevereiro, a GOL disse que não teve ganhos com a queda de 3 por cento nos preços médios dos combustíveis no último trimestre, em parte porque o dólar teve uma valorização de 12 por cento em relação ao real no período.

A GOL deve começar a colher benefícios do petróleo mais barato no primeiro trimestre de 2015, segundo Masson, quando as garantias expirarem e porque o preço do combustível de avião no Brasil tem um atraso de cerca de 45 dias em relação às oscilações do petróleo.

A empresa tem cerca de um terço de sua exposição ao petróleo e ao câmbio durante um período de seis meses protegidos de flutuação cambial, disse ele. A GOL estima que o combustível represente 40 por cento de seus custos.

O real se desvaloriza em um momento em que os analistas consultados pelo Banco Central do Brasil projetaram a primeira recessão desde 2009 para a maior economia da América Latina.

Os títulos da empresa aérea da emissão de US$ 325 milhões para 2022 rendem agora o dobro da média dos pares do setor e estão na iminência de serem considerados passíveis de calote, com 9,7 pontos porcentuais a mais do que os títulos do Tesouro dos EUA de vencimento similar, segundo dados do Bank of America Corp. compilados pela Bloomberg.

“Lucrar em reais e comprar uma commodity dolarizada é um negócio difícil atualmente”, disse Wilbur Matthews, CEO da Vaquero Global Investment LP, por telefone, de San Antonio, EUA. “O dólar está pressionando eles mais do que qualquer outra coisa”.

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