Nildemar Secches (esq) e Luiz Fernando Furlan: arquitetos da fusão que criou a Brasil Foods (GERMANO LUDERS)
Daniela Barbosa
Publicado em 10 de junho de 2011 às 08h43.
São Paulo – A fusão da Perdigão com a Sadia, que resultou na criação da Brasil Foods, sofreu um grande baque nesta semana. Isso porque, o relator do caso no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Carlos Ragazzo, votou pela reprovação da operação.
Não se sabe ainda qual será a decisão dos demais conselheiros, mas caso a união seja rejeitada pelo órgão, as companhias terão que separar as operações ou partir para uma disputa judicial.
Veja os principais momentos que marcaram essa história:
2008
Pode-se dizer que foi a partir deste ano que começou o esboço da fusão entre Sadia e Perdigão.
Foi em 2008 que a Sadia viveu sua pior crise financeira. Isso porque, a companhia investiu na compra de derivativos cambiais para proteger suas exportações da desvalorização do dólar. No entanto, a empresa não contava que o tradicional banco americano Lehman Brothers pedisse falência e desencadeasse uma crise financeira mundial.
O dólar se valorizou, a Sadia perdeu muito dinheiro e registrou prejuízo de 2,5 bilhões de reais no ano. A companhia estava quebrada e a união com outra empresa seria a solução para a Sadia não afundar, ainda mais. Eis que surge a Perdigão, na época principal concorrente da Sadia.
2009
Em maio de 2009, foi anunciado o acordo de fusão entre a Sadia e Perdigão. Nascia então a Brasil Foods, um gigante do setor alimentício. O contrato foi assinado por Nildemar Secches, da Perdigão, e Luiz Fernando Furlan, da Sadia. O acordo criou uma empresa com cerca de 120.000 funcionários, mais de 40 fábricas e faturamento de líquido de 22 bilhões de reais.
Em julho do mesmo ano, as companhias anunciaram oficialmente a troca de nome para Brasil Foods. Também assinaram, no Cade, o Acordo de Preservação de Reversibilidade da Operação (APRO).
Em agosto de 2009, as companhias aprovaram, por meio de assembleias, a incorporação das ações da Sadia. Na época, foram incorporadas o montante de 2,335 bilhões de reais mediante a emissão de 59.390.963 novas ações ordinárias.
2010
Em meados de 2010, a Secretária de Acompanhamento Econômico (SEAE) recomenda ao Cade que a fusão entre Perdigão e Sadia seja aprovada com restrição.
Na época, a Brasil Foods afirmou ter convicção de que tinha argumentos técnicos para comprovar que a fusão era pró-concorrencial, reforçando a presença e a competitividade do setor.
O lucro da companhia no ano somou 804 milhões de reais, valor 125% maior na comparação com o ano anterior. A receita líquida da companhia no período somou 22,7 bilhões de reais.
2011
O ano é decisivo para a Brasil Foods. No primeiro trimestre, a companhia apresentou resultados recordes, com receita líquida de 6 bilhões de reais e lucro de 816,4 milhões de reais, 527% maior na comparação com o mesmo período de 2010.
Mas as notícias não eram apenas positivas, em meados de maio, a procuradoria-geral do Cade emitiu um parecer que ameaçava barrar a fusão entre a Sadia e a Perdigão. O documento recomenda restrições mais fortes ou a reprovação do negócio.
A companhia, no entanto, não se mostrou abalada e continuou suas operações normalmente. Tanto que dias depois, anunciou que estava conversando com a Leite Nilza sobre uma possível compra de seus ativos, avaliados no valor de 60 milhões de reais.
Na mesma época, foram anunciadas também as negociações para se criar uma joint venture na China com empresa Dah Chong Hong Limited. O objetivo seria processar e distribuir produtos da marca Sadia no mercado chinês.
Na quarta-feira (8/6), porém, todos os planos e expectativas da Brasil Foods foram ameaçados. O relator do caso no Cade, Carlos Ragazzo, votou contra a operação. Na próxima semana, o julgamento será retomado, e um novo capítulo da história da empresa pode ser escrito.