Um programa de entrevistas e asas de frango apimentadas parece improvável como modelo de negócio.
Mas para Sean Evans, apresentador do "Hot Ones", essa foi a fórmula para construir um império de mídia digital que hoje movimenta milhões de dólares em receita, licenciamento, parcerias e eventos.
Mais do que uma celebridade da internet, Evans é agora sócio e diretor criativo da First We Feast, empresa avaliada em US$ 80 milhões após ser adquirida por um grupo de investidores que inclui ele próprio.
Enquanto programas tradicionais de entrevistas noturnas perdem espaço e relevância, alguns encerrando atividades com prejuízos milionários, o Hot Ones avança em direção contrária.
Com 28 temporadas, mais de 15 milhões de inscritos no YouTube e episódios que somam milhões de visualizações em poucos dias, o formato virou referência não só de entretenimento, mas também de modelo de negócio bem-sucedido no cenário digital. As informações foram retiradas de Inc.
Uma ideia picante e um negócio que escala
Criado em 2015 por Chris Schonberger dentro da First We Feast, então um braço da Complex, o Hot Ones começou como uma ideia experimental: entrevistar celebridades enquanto enfrentavam uma sequência de molhos cada vez mais apimentados.
Sean Evans, que na época era repórter e escritor, assumiu o comando da atração. O que parecia uma brincadeira viral tornou-se, ao longo da década, uma marca lucrativa com múltiplas frentes de receita.
A empresa lançou linhas próprias de molhos (como o Last Dab), firmou acordos de licenciamento, expandiu para o varejo e criou produtos digitais e físicos. Segundo a Bloomberg, a First We Feast já gerou US$ 30 milhões em receita e US$ 10 milhões em lucro desde sua criação.
A escalabilidade do modelo chamou a atenção de investidores, e o próprio Evans decidiu participar ativamente do processo de compra, em 2024, quando a BuzzFeed vendeu a produtora por US$ 82,5 milhões em dinheiro.
Decisões estratégicas e controle acionário
A operação que garantiu a independência da First We Feast não foi trivial. Após enfrentar queda acentuada em seu valor de mercado — de US$ 1,5 bilhão para cerca de US$ 40 milhões — a BuzzFeed, então controladora da Complex, vendeu parte de seus ativos.
A First We Feast foi adquirida separadamente por um consórcio que incluiu o fundo de George Soros, a produtora Crooked Media, o duo de criadores Rhett & Link, e os próprios fundadores do programa, Evans e Schonberger.
Evans descreveu a negociação como “extrair uma peça de Jenga”, em referência à complexidade do desmembramento. O novo cenário garante não só liberdade criativa, mas também autonomia na gestão financeira e estratégica da operação, um diferencial competitivo raro no setor de mídia digital.
Essa estrutura de propriedade compartilhada mostra um movimento importante no campo das finanças corporativas: fundadores que não apenas lideram a parte criativa do negócio, mas também se envolvem diretamente nas decisões de investimento, fusões e aquisições e expansão comercial.
De apresentador a executivo: a importância da liderança híbrida
Assumir o cargo de Chief Creative Officer (CCO) oficializou um papel que Evans já desempenhava há anos nos bastidores. Como CCO, ele lidera a expansão da marca para novos formatos e produtos, como o programa One More Round, em que entrevista celebridades enquanto compartilham um coquetel. A série, patrocinada pela Bulleit, mostra a aposta da empresa em parcerias estratégicas para monetizar conteúdo além do YouTube.
Para o mercado de finanças corporativas, esse movimento é emblemático: um executivo que compreende a dinâmica do produto e da audiência é também quem guia as decisões sobre crescimento, monetização e captação de recursos. Trata-se de uma nova geração de líderes híbridos — que misturam criatividade com raciocínio financeiro — cada vez mais valorizados em operações digitais.
Crescimento sustentável: eventos, produtos e branding
Em 2025, o Hot Ones realizou seu primeiro evento ao vivo em parceria com a Stella Artois, reunindo 300 fãs e participação de celebridades como David Beckham.
O sucesso levou à realização de uma segunda edição, com planos de turnê nacional no futuro. Ao mesmo tempo, a marca continua investindo em produtos licenciados, estratégias de branding e ações de varejo que ampliam sua presença no mercado consumidor.
Para profissionais que atuam em finanças corporativas, é fundamental observar como marcas de mídia estão construindo ecossistemas de monetização multicanal. Não se trata apenas de audiência — trata-se de transformar atenção em receita por meio de produtos, parcerias e experiências.