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Como Abílio Diniz sofreu sua primeira grande derrota

Acostumado a vencer disputas aguerridas, dono do Pão de Açúcar subestimou as resistências à fusão com o Carrefour

Soa o gongo: Abílio ainda terá forças para reagir, ou é o fim da luta? (Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 12 de julho de 2011 às 22h20.

São Paulo – Abílio Diniz sofreu sua primeira grande derrota, em sua longa carreira como empresário, nesta terça-feira (12/7), ao ver o Casino, seu furioso sócio francês, rejeitar a proposta de fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour.

Se perder esta guerra, será obrigado a entregar suas ações para o Casino em 2012 e deixar o comando do grupo fundado por seu pai, Valentim, cuja origem foi uma doceria aberta no fim dos anos 40 em São Paulo. Deixará, também, o protagonismo no mundo dos negócios – algo que empresários prezam tanto ou mais que o próprio lucro em suas empresas.

Mas, em linhas gerais, é possível dizer que o primeiro revés de Abílio nasceu de, pelo menos, três equívocos do empresário.

1.Subestimar a reação do Casino, seu sócio francês

Jogo de cena ou não, o fato é que Abílio Diniz deu reiteradas declarações de que não esperava uma reação tão exasperada do Casino, seu sócio francês no Pão de Açúcar.

Desde que a negociação de Abílio com o Carrefour veio à tona, em meados do mês passado, o Casino iniciou uma ofensiva para neutralizar o negócio. No campo legal, requereu a instalação de duas câmaras de arbitragem, com o objetivo de provar que o empresário brasileiro agiu de má-fé e ignorou o acordo de acionistas.

Para reforçar sua posição no Pão de Açúcar e mostrar que estava comprometido com o grupo no longo prazo, o Casino promoveu uma grande compra de ações preferenciais nas semanas seguintes à divulgação do negócio. Os franceses pagaram cerca de 1 bilhão de dólares por dois lotes de ações, elevando sua fatia na empresa para 43,1% do capital total.

O Casino iniciou uma também cruzada para convencer a opinião pública de que, no fundo, Abílio estava mesmo interessado em se manter no poder e, para isso, não hesitava em ignorar o direito do Casino de comprar as suas ações do Pão de Açúcar, em 2012.

O presidente do grupo francês, Jean-Charles Naouri, veio ao Brasil para encontrar-se com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e dizer, olhos nos olhos, o que pensava da proposta de Abílio. O tom duro do Casino reforçou a decisão do BNDES de só apoiar a fusão se os sócios se entendessem. Ponto para o Casino.


2. Subestimar a reação política à fusão

No desenho de fusão apresentado pelo BTG Pactual, o banco de investimentos fundado por André Esteves, os ativos do Carrefour Brasil e do Pão de Açúcar seriam transferidos para uma outra empresa, o Novo Pão de Açúcar.

A etapa difícil de explicar era o que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estava fazendo na operação que criaria uma gigante do ramo de varejo, com 27% do mercado e faturamento superior a 60 bilhões de reais.

Com uma injeção de 4,5 bilhões de reais no Novo Pão de Açúcar, o BNDES se tornaria o segundo maior acionista da nova empresa, com 18% de participação, atrás apenas do Casino, com quase 30%.

Para muitos, tratava-se de uma manobra para preservar o controle da nova empresa em mãos brasileiras. Isto porque, somadas as fatias do BNDES, de Abílio Diniz (11,70%) e do BTG Pactual (cerca de 3%), os brasileiros ficariam em ligeira vantagem em relação aos franceses.

A presença do BNDES despertou críticas da oposição, que ameaçou convocar o presidente do banco, Luciano Coutinho, a explicar no Congresso o apoio do banco ao negócio.

Também foi mal recebida pela imprensa em geral. A tradicional revista britânica The Economist classificou a atuação do banco, no episódio, de “nebulosa”. Para a publicação, o BNDES estaria mais preocupado em evitar que Abílio perca poder, do quem em beneficiar o consumidor.

3.Subestimar as dissidências internas

Não é segredo que Abílio comprou sérias brigas com seus parentes para consolidar seu poder no Pão de Açúcar. E, como num enredo de novela, velhos ressentimentos poderiam se voltar contra ele.

No início do mês, Veja noticiou que duas irmãs de Abílio, Lucília e Sônia Diniz, estariam dispostas a vender todas as suas ações antes de uma eventual fusão do grupo com o Carrefour. No total, elas detêm cerca de 4% da empresa.

As irmãs, no entanto, não são representadas pela Península Participações, a holding que reúne os interesses da família Diniz. Suas ações são consideradas parte do free float do Pão de Açúcar. Por isso, poderiam vendê-las livremente na própria Bolsa de Valores. E, claro, o Casino estaria interessadíssimo nesses papéis.

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São Paulo – Abílio Diniz sofreu sua primeira grande derrota, em sua longa carreira como empresário, nesta terça-feira (12/7), ao ver o Casino, seu furioso sócio francês, rejeitar a proposta de fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour.

Se perder esta guerra, será obrigado a entregar suas ações para o Casino em 2012 e deixar o comando do grupo fundado por seu pai, Valentim, cuja origem foi uma doceria aberta no fim dos anos 40 em São Paulo. Deixará, também, o protagonismo no mundo dos negócios – algo que empresários prezam tanto ou mais que o próprio lucro em suas empresas.

Mas, em linhas gerais, é possível dizer que o primeiro revés de Abílio nasceu de, pelo menos, três equívocos do empresário.

1.Subestimar a reação do Casino, seu sócio francês

Jogo de cena ou não, o fato é que Abílio Diniz deu reiteradas declarações de que não esperava uma reação tão exasperada do Casino, seu sócio francês no Pão de Açúcar.

Desde que a negociação de Abílio com o Carrefour veio à tona, em meados do mês passado, o Casino iniciou uma ofensiva para neutralizar o negócio. No campo legal, requereu a instalação de duas câmaras de arbitragem, com o objetivo de provar que o empresário brasileiro agiu de má-fé e ignorou o acordo de acionistas.

Para reforçar sua posição no Pão de Açúcar e mostrar que estava comprometido com o grupo no longo prazo, o Casino promoveu uma grande compra de ações preferenciais nas semanas seguintes à divulgação do negócio. Os franceses pagaram cerca de 1 bilhão de dólares por dois lotes de ações, elevando sua fatia na empresa para 43,1% do capital total.

O Casino iniciou uma também cruzada para convencer a opinião pública de que, no fundo, Abílio estava mesmo interessado em se manter no poder e, para isso, não hesitava em ignorar o direito do Casino de comprar as suas ações do Pão de Açúcar, em 2012.

O presidente do grupo francês, Jean-Charles Naouri, veio ao Brasil para encontrar-se com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e dizer, olhos nos olhos, o que pensava da proposta de Abílio. O tom duro do Casino reforçou a decisão do BNDES de só apoiar a fusão se os sócios se entendessem. Ponto para o Casino.


2. Subestimar a reação política à fusão

No desenho de fusão apresentado pelo BTG Pactual, o banco de investimentos fundado por André Esteves, os ativos do Carrefour Brasil e do Pão de Açúcar seriam transferidos para uma outra empresa, o Novo Pão de Açúcar.

A etapa difícil de explicar era o que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estava fazendo na operação que criaria uma gigante do ramo de varejo, com 27% do mercado e faturamento superior a 60 bilhões de reais.

Com uma injeção de 4,5 bilhões de reais no Novo Pão de Açúcar, o BNDES se tornaria o segundo maior acionista da nova empresa, com 18% de participação, atrás apenas do Casino, com quase 30%.

Para muitos, tratava-se de uma manobra para preservar o controle da nova empresa em mãos brasileiras. Isto porque, somadas as fatias do BNDES, de Abílio Diniz (11,70%) e do BTG Pactual (cerca de 3%), os brasileiros ficariam em ligeira vantagem em relação aos franceses.

A presença do BNDES despertou críticas da oposição, que ameaçou convocar o presidente do banco, Luciano Coutinho, a explicar no Congresso o apoio do banco ao negócio.

Também foi mal recebida pela imprensa em geral. A tradicional revista britânica The Economist classificou a atuação do banco, no episódio, de “nebulosa”. Para a publicação, o BNDES estaria mais preocupado em evitar que Abílio perca poder, do quem em beneficiar o consumidor.

3.Subestimar as dissidências internas

Não é segredo que Abílio comprou sérias brigas com seus parentes para consolidar seu poder no Pão de Açúcar. E, como num enredo de novela, velhos ressentimentos poderiam se voltar contra ele.

No início do mês, Veja noticiou que duas irmãs de Abílio, Lucília e Sônia Diniz, estariam dispostas a vender todas as suas ações antes de uma eventual fusão do grupo com o Carrefour. No total, elas detêm cerca de 4% da empresa.

As irmãs, no entanto, não são representadas pela Península Participações, a holding que reúne os interesses da família Diniz. Suas ações são consideradas parte do free float do Pão de Açúcar. Por isso, poderiam vendê-las livremente na própria Bolsa de Valores. E, claro, o Casino estaria interessadíssimo nesses papéis.

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