O que é comida reciclada? Se ainda não sabe, fique de olho nessa tendência
Neste mês de conscientização sobre o desperdício de alimentos, conheça o upcycling food, conceito que só cresce na indústria do setor no mundo todo
Da Redação
Publicado em 19 de setembro de 2022 às 12h30.
Última atualização em 21 de setembro de 2022 às 11h31.
O próximo dia 29 é o Dia Internacional de Conscientização sobre Perdas e Desperdícios de Alimentos, uma data oportuna para falar sobre o conceito de upcycling food (reaproveitamento de alimentos, em português), uma das maiores tendências atuais relacionadas à sustentabilidade na produção de alimentos.
Se não tem ideia do que seja, não se preocupe: você não está sozinho. Um estudo recente, publicado na Food and Nutrition Sciences, mostrou que somente 10% dos consumidores estão familiarizados com o tema “comida reciclada”. Por outro lado, quando entendem o que é, 80% querem procurar esse tipo de produto.
O que é o upcycling food?
O movimento, que visa reduzir o desperdício, incentiva que os alimentos sejam usados de uma maneira mais completa e circular. Assim, depois de passarem por uma primeira etapa na indústria, eles viram subprodutos para outro processo ou insumos para outra empresa.
Nessa dinâmica, há novos propósitos para frutas e legumes deformados ou machucados, caules e folhas comestíveis, sobras de polpas de sucos, sementes, cascas, etc. Muitos desses alimentos são hoje destinados à compostagem, viram ração animal ou simplesmente vão parar no lixo.
Em vez disso, entretanto, podem ser convertidos em outros produtos finais, como geleias, vitaminas, proteínas em pó, ingrediente para panificação ou bebidas, entre outras coisas.
O reaproveitamento, de forma geral, é um dos pilares da economia circular, que prega o melhor uso possível dos recursos naturais para um desenvolvimento sustentável. Aplicado à indústria de alimentos, esse movimento tem ainda mais potencial para trazer ganhos consideráveis.
Frutas “feias” transformadas em snacks
As estimativas sugerem que entre 8% e 10% das emissões globais de gases de efeito estufa estão associadas a alimentos que não são consumidos, segundo a ONU. Todos os anos, cerca de 30% de tudo que é produzido no mundo é perdido ou desperdiçado. Isso corresponde a, aproximadamente, 1,3 bilhão de toneladas de comida indo para o lixo.
Boa parte disso são vegetais descartados já no campo, sem nunca chegar aos consumidores, apenas por não seguirem padrões estéticos exigidos pelo varejo: frutas e legumes muito pequenos, grandes, com diferentes formas ou cores – porém, igualmente nutritivos.
Com objetivo de dar um novo destino a esses produtos que seriam deixados para trás, a empresa californiana The Ugly Company, por exemplo, transforma frutas “feias” em snacks de frutas secas.
Cada pacote da The Ugly Co. evita que 2,5 kg de frutas comestíveis se tornem resíduos. Além disso, o reaproveitamento ajuda os agricultores locais da Califórnia a agregar valor às suas fazendas.
E uma curiosidade: até 2017, seu fundador, Ben Moore, trabalhava transportando frutas “feias” das fazendas para vários locais de descarte, como aterros sanitários e pátios de compostagem. Até que um dia, inconformado com tamanho desperdício, teve a ideia de criar a empresa para dar um novo propósito àquelas toneladas de alimentos descartados.
“Jogamos fora mais pêssegos na Califórnia do que o estado da Geórgia produz anualmente. Este alimento é perfeitamente saudável para comer! Alguns chamam a fruta de feia, mas nós chamamos de bela oportunidade”, diz.
Mais uma infinidade de bons exemplos dessa onda não faltam pelo mundo: as farinhas premium da Renewal Mill, feitas com subprodutos da produção de leite à base de plantas, como polpa de soja; a linha de cervejas com sementes de abacate da Hidden Gems; as barras energéticas veganas feitas com cereja externa da planta de café; ou a cerveja do The Brussels Beer Project, que leva na receita pão não vendido de padarias locais.
Como evitar o desperdício de alimentos?
Em São Paulo, a Fruta Imperfeita é um bom exemplo de proposta nessa linha. O forte do negócio são as cestas-surpresa de vegetais tidos como fora do padrão estético dos supermercados.
A startup compra essas frutas e legumes de sítios de pequenos produtores e monta caixas de acordo com os “imperfeitos” disponíveis. Então, por meio de um plano de assinatura, o consumidor escolhe quais produtos (frutas, legumes ou mista) e qual a frequência com que quer receber em casa.
Outro caso brasileiro é a Rubian Extratos, ligada à Unicamp, que faz upcycling de resíduos de cascas de jabuticaba e do bagaço do maracujá provenientes da fabricação de sucos e de polpas. Os dois são usados na produção de cosméticos antienvelhecimento e suplementos alimentares, por exemplo.
No ano, quando iniciou a produção do extrato da jabuticaba, a empresa reaproveitou três toneladas da fruta que seriam descartadas. Para este ano, com mais os produtos à base de maracujá, a projeção é chegar de oito a dez toneladas. Quer economia mais perfeita que essa?