Negócios

Com risco de apagão, perda da Eletropaulo é ganho para CSN

Enquanto distribuidoras enfrentam aumento de custos com a seca, produtores com energia excedente estão vendendo os estoques que sobram para reforçar os lucros


	Estação de distribuição de energia da Eletropaulo: a empresa é forçada a comprar essa energia a valores historicamente altos e depois revendê-la a preços com limites estabelecidos pelo governo
 (Marcos Issa/Bloomberg News)

Estação de distribuição de energia da Eletropaulo: a empresa é forçada a comprar essa energia a valores historicamente altos e depois revendê-la a preços com limites estabelecidos pelo governo (Marcos Issa/Bloomberg News)

DR

Da Redação

Publicado em 6 de março de 2014 às 14h50.

Rio de Janeiro - A pior seca do Brasil em quatro décadas está trazendo de volta o fantasma do racionamento de energia e aumentando a receita de empresas como Fibria Celulose SA e Cosan SA Indústria Comércio.

Os reservatórios das hidrelétricas estão encolhendo em meio ao mais seco começo de ano desde 1972 e, do Morgan Stanley ao Citigroup Inc., passando pelo Banco Brasil Plural SA, os analistas calculam uma chance de 20 a 40 por cento de que ocorra um racionamento pela primeira vez desde 2001.

Enquanto as distribuidoras e os consumidores de energia enfrentam mais de R$ 9,6 bilhões (US$ 4,1 bilhões) em aumento dos custos, produtores com energia excedente como a fabricante de celulose Fibria, a Cia. Siderúrgica Nacional SA, ou CSN, e a processadora de cana-de-açúcar Cosan estão vendendo os estoques que sobram para reforçar os lucros em um momento de aumento dos preços spot.

O ganho dessas empresas resulta na perda das distribuidoras, já que empresas como Eletropaulo Metropolitana Eletricidade de São Paulo SA são forçadas a comprar essa energia a valores historicamente altos e depois revendê-la a preços com limites máximos estabelecidos pelo governo.

“O que acontece é que a alta do preço spot de energia gera uma oportunidade para a empresa vender o excedente de energia no mercado e ampliar (ligeiramente) as receitas nesse período, mesmo que a energia não seja seu core-business”, disse Ariane Gil, analista de agricultura e celulose da GBM Brasil DTVM em São Paulo.

“A Fibria é uma das empresas mais beneficiadas no setor de papel e celulose, pois produz energia excedente”.


Ganhos de Ebitda

Se os preços spot permanecerem na faixa de R$ 800 o megawatt/hora, as vendas de energia poderão adicionar, no caso da Fibria, até 2 por cento aos lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização em 2014, disseram analistas do Citigroup liderados por Stephen Graham em um relatório de 14 de fevereiro.

A Cosan e a processadora de cana de açúcar São Martinho SA, que consomem cerca de 80 por cento de sua geração de energia, podem ver seu Ebitda subir 5 por cento e 3 por cento neste ano, respectivamente, diz o banco. A CSN tem 110 megawatts disponíveis para venda.

Cerca de 15 por cento da eletricidade da Cosan não está sob contratos de longo prazo, o que significa que a produtora de cana pode vender o excesso a preços spot, disse Graham. Os preços spot mais que triplicaram desde a primeira semana de janeiro, para R$ 822 por MWh, segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, com sede em Brasília.

“A companhia está buscando outras possibilidades de gerar uma produção adicional de energia com a queima de outros combustíveis de biomassa, como cavacos de madeira e palha, ou mesmo a compra de bagaço de usinas que não têm cogeração”, disse o CEO da Cosan, Marcos Lutz, no dia 27 de fevereiro, em uma teleconferência sobre lucros.


‘Manter distância’

Contudo, as incertezas a respeito da perspectiva para o setor de eletricidade e em relação a se o governo irá intervir para ajudar as empresas de serviços públicos a pagar as contas devido aos custos mais altos de energia torna difícil para os investidores buscar oportunidades no mercado de ações, disse Saulo Sabba, sócio da Faros Investimentos no Rio de Janeiro.

“O melhor é manter distância de tudo isso porque as informações a respeito da escassez não são boas”, disse Sabba, em entrevista por telefone.

As barragens nas regiões sudeste, onde estão localizadas as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, e central do Brasil fecharam fevereiro no nível mais baixo para o mês desde 2001, a última vez que o país racionou eletricidade, segundo a operadora nacional da rede, a ONS. As barragens da região sul estão no nível mais baixo desde pelo menos 2000, quando começam os registros da ONS.

“Ninguém vai sair ileso, sem ser afetado”, disse o CEO da Eletropaulo, Britaldo Soares, no dia 26 de fevereiro, em uma conferência sobre lucros, quando questionado sobre a possível escassez de energia. “Os impactos se propagariam por toda a cadeia”.

``Hoje as distribuidoras estão subcontratadas, e por tanto expostas ao preço spot'', disse Luiz Barroso, diretor da consultoria carioca PSR. ``Não temos hoje uma regulamentação de como seria organizado um racionamento, o que exigirá sua definição e organização às pressas''.

Assessores de imprensa da Light e da CPFL preferiram não comentar o impacto da seca. Assessores de imprensa da Cemig não foram encontrados por e-mail e não atenderam telefonemas nos escritórios da empresa ontem, feriado em algumas partes do Brasil.

Assessores de imprensa do Ministério de Minas e Energia do Brasil preferiram não comentar quando contatados por telefone. O Brasil tem um sistema energético robusto e sólido, disse a repórteres o chefe da pasta, Edison Lobão, no mês passado, quando questionado a respeito do risco de escassez de fornecimento.

Acompanhe tudo sobre:AESApagãoCSNEletropauloEmpresasEmpresas abertasEmpresas americanasEmpresas brasileirasEnergia elétricaSecasServiçosSiderurgiaSiderurgia e metalurgiaSiderúrgicas

Mais de Negócios

Empreendedorismo feminino cresce com a digitalização no Brasil

Quanto aumentou a fortuna dos 10 homens mais ricos do mundo desde 2000?

Esta marca brasileira faturou R$ 40 milhões com produtos para fumantes

Esse bilionário limpava carpetes e ganhava 3 dólares por dia – hoje sua empresa vale US$ 2,7bi