Michael Klein: Junto com sua família, ele detém 28% da empresa e quer retornar aos seus tempos de glória (Patricia Monteiro/Bloomberg/Bloomberg)
Karin Salomão
Publicado em 26 de setembro de 2019 às 12h00.
Última atualização em 27 de setembro de 2019 às 15h12.
Ao mesmo tempo que busca novas soluções tecnológicas, a Via Varejo, dona das marcas Casas Bahia e Ponto Frio, deve voltar às suas origens. “Precisamos voltar a dar crédito para o cliente”, disse Michael Klein, principal acionista da empresa, em conversa com jornalistas. O banco digital BanQi deve ser a principal aposta da empresa para essa estratégia.
A empresa tem o cadastro de 30 milhões de clientes que já usaram o crediário em alguma compra e buscará trazê-los para abrir uma conta digital na BanQi. Para Klein, esse relacionamento com os clientes é um dos diferenciais em relação a concorrentes, que vão de fintechs a varejistas que lançaram seus próprios meios de pagamento, como o Magalu Pagamentos do Magazine Luiza, e a Ame, da B2W.
A Casas Bahia foi criada em 1952 pelo imigrante polonês Samuel Klein e ficou conhecida por oferecer crédito em longas parcelas para compra de móveis e eletrodomésticos. Nos últimos dez anos, a empresa esteve sob controle do Grupo Pão de Açúcar, até que Michael Klein, filho do fundador, comprou a participação do grupo e voltou a ser o principal acionista. “Queremos recuperar a imagem e a história da Casas Bahia e Ponto Frio”, disse ele.
Junto com sua família, ele detém 28% da empresa. O XP Asset Management tem cerca de 8% das ações e o restante está pulverizado. Desde que assumiu o comando, trocou a diretoria. O conselho de administração também tem novos membros, eleitos há poucos dias pelos acionistas.
Enquanto o GPA detinha o controle da Via Varejo, Klein se dedicou a outros negócios. Criou a Icon Aviation, empresa de aviação executiva, e investiu em seu negócio imobiliário. A família, inclusive, aluga cerca de 300 lojas para a Via Varejo, além de aproximadamente 10 centros de distribuição, como parte de um acordo fechado com o GPA em 2010. Em troca de não renegociar o preço do aluguel, a família Klein recebe 2,5% das vendas das lojas.
Desde que o GPA decidiu separar a Via varejo de suas operações, o investimento na empresa diminuiu. Enquanto isso, as concorrentes aceleravam a transição tecnológica: o Magazine Luiza cresceu baseado na omnicanalidade e a Amazon ampliou sua presença no país.
Hoje, três executivos da companhia, inclusive o presidente Roberto Fulcherberguer, estão na China, para conhecer as novas tecnologias de varejo e de meios de pagamento que são usados no país.
Além de olhar para o futuro, a empresa tem questões para resolver no presente. A companhia está revisando seu parque de lojas, para verificar quais unidades faturam abaixo do esperado e quais estão muito próximas de outras, gerando sobreposição. Entre as 1060 lojas da Casas Bahia e Ponto Frio, 36 apresentam prejuízo, diz Klein.
A avaliação deve levar cerca de um ano. Durante esse tempo, a expansão de novas lojas deve se manter, mas ainda não há uma meta definida.
A transformação digital também deve ser vista com atenção. Em entrevista recente, o presidente Roberto Fulcherberguer afirmou que, nos últimos 80 dias, tem trabalhado para tirar a Via Varejo do “limbo digital” em que ela se meteu. " Estamos vários anos atrasados no digital", disse ele.
Enquanto sua principal concorrente, Magazine Luiza, afirma ser uma empresa digital com pontos físicos, a Via Varejo finalizou a integração das operações físicas e online, antes divididas na Cnova, apenas em julho.
Até então, o site e as lojas físicas operavam sob duas empresas diferentes, com CNPJs distintos, levando a diversos atritos. Um cliente não podia, por exemplo, comprar um produto no site e trocar em uma loja física.
A grande prova da divisão digital será a Black Friday, que ocorre no final de novembro e é a maior data de vendas para o comércio eletrônico. No ano anterior, o sistema sofreu instabilidades e entregas atrasaram, o que comprometeu as vendas da empresa. Agora, Klein garante que os servidores foram adequados para dar conta do volume de acessos na data.
Outra operação que deve ser revista é a do Extra.com. A operação do comércio eletrônico do Extra é feito pela Via Varejo, enquanto a marca e as lojas físicas continuam pertencendo ao GPA. A Via Varejo avalia vender o Extra.com de volta e contratou uma consultoria para avaliar o valor do negócio.
Planos de uma nova estratégia para a empresa devem sair no primeiro trimestre do ano que vem. Até lá, “já botamos a empresa em dia, reformamos as lojas, consertamos os sistemas”, diz Klein.