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Com aval da Anvisa, novo canabidiol chega em julho às farmácias

Nunature é a segunda empresa a receber autorização para comercializar derivado da maconha no Brasil; no momento, apenas a Prati-Donaduzi opera nas prateleiras

Canabidiol: derivado medicinal é indicado para ansiedade, dores crônicas e convulsões. (Tinnakorn Jorruang/Getty Images)

Victor Sena

Publicado em 10 de maio de 2021 às 16h11.

Última atualização em 13 de maio de 2021 às 17h51.

O acesso ao canabidiol — derivado medicinal da maconha — deve ficar mais fácil para os consumidores brasileiros a partir de julho, com a entrada de uma nova marca nas farmácias.

Até abril, apenas a farmacêutica Prati-Donaduzzi tinha a autorização da Anvisa para produzir e comercializar o canabidiol dentro do país, mas a empresa Nunature, fundada por empresários americanos e brasileiros de olho no mercado que cresce no país, também recebeu o aval.

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Desde dezembro de 2019, a Anvisa autoriza empresas a solicitarem a autorização para produzirem e comercializarem o derivado da maconha no Brasil. Com a única autorização que tinha, a Prati-Donaduzzi dominava o mercado.

Seu frasco com 6.000 mg de canabidiol isolado custa cerca de R$ 2.300. Com a entrada de um novo player, a tendência é de os preços caírem.

“O processo foi rigoroso e extensivo como deve ser e nós merecemos ele, porque exigiu bastante paciência e força. Nós fizemos isso porque nós sabemos o quão importante o Brasil é.  E o Brasil é agora um tipo de ponta de lança do mercado de cannabis. O Brasil chegou um pouco atrasado nessa “festa”, mas agora que vocês estão aqui, nós estamos felizes por ser aqueles que vão atender a campainha que vocês tocaram porque nosso canabidiol de full espectrum é único no mercado”, disse em entrevista à EXAME Christopher Cowart, vice-presidente de Sales & Marketing da empresa.

A permissão da Anvisa à Nunature inclui dois produtos, ambos com full spectrum (que mantém outras propriedades naturais da planta), considerado de qualidade superior ao canabidiol isolado da Prati-Donaduzzi.  Em nota enviada à EXAME, a empresa afirma que a preocupação em isolar somente o canabidiol é acontece com o  intuito de oferecer um "produto com a máxima segurança e eficácia terapêutica".

"A maioria dos produtos é de matéria-prima isolada. São 2.000, 3.000 mg isoladas de canabidiol. Então, ele tem residuais de outros componentes de canabinoides, inclusive o THC, a níveis aceitáveis pela legislação. Por mais que a nossa concentração seja "baixa", dentro dos estudos os efeitos terapêuticos são mais eficazes em relação ao isolado nas mesmas concentrações", explica Jorge Felipe Lara, vice-presidente de Operações no Brasil.

A expectativa da Nunature é de que os preços de seu frasco de 1.000 mg (34,36mg/ml) custe R$ 840,00 e o de 500 mg (17,18 mg/ml) a R$ 520. Para fazer a distribuição, a empresa terá um centro na baixada fluminense, no Rio de Janeiro, e já tem contratos com rede Raia Drogasil.No futuro, pretende chegar a 60 mil farmácias.

“Já estamos bem adiantados com redes de farmácias e distribuidoras nacionais. Nós queremos usar o canal padrão de distribuição farmacêutica. Nosso produto é um produto que entra como “tarja preta”, então ele merece esse cuidado. Hoje já temos contrato com a Raia Drogasil, mas estamos em conversa com todas. A procura por parte do mercado farmacêutico tem sido muito grande”, explica Bruno Santanna, vice-presidente de Logística da Nunature no Brasil.

A Nunature é uma companhia que foi desenhada e construída para a oportunidade brasileira que surgiu com a permissão da Anvisa do fim de 2019, explica Christopher. A empresa tem uma fazenda de cânhamo (variedade da cannabis sem compostos psicoativos) no estado do Colorado de onde extrai o canabidiol.

Fazenda da Nunature no Colorado: fazenda da empresa usa o cânhamo, variante da cannabis que não é psicoativa (Nunature/Divulgação)

Para receber o aval da Anvisa, todas as instalações técnicas do laboratório do estado do Colorado precisaram se adaptar a altos níveis de conformidade e demonstrar alta qualidade. Além disso, o produto chega 100% pronto ao Brasil.

Antes da permissão de dezembro de 2019, a única forma de consumir canabidiol no Brasil era via a importação individual, que é permitida desde 2015 e tem crescido como um outro mercado, à parte da entrada de farmacêuticas com canabidiol nas farmácias. Em 2020, essas importações foram facilitadas e diversos e-commerces, que operam de forma binacional, surgiram.

Como é considerado um produto controlado, o canabidiol comprado em farmácias precisa de receita médica. Já o importado individualmente precisa da receita médica e de uma autorização da Anvisa que é possível conseguir online.

Christopher Cowart explica que a empresa terá também uma proposta educativa, já que o assunto cannabis medicinal ainda é um tabu.

“Vamos fazer um processo educacional completo, assim como fizemos nos Estados Unidos. Todo mundo parece saber agora o que CDB é, mas eles não têm certeza de como funciona. Então nós queremos ajudar a trazer consciência sobre o que o sistema de cabinoides (derivados da cannabis) é. O que eles fazem e o que não fazem e ajudar a dissipar algumas desinformações que existem”, explica.

Além do Brasil, que entra agora neste mercado, o canabidiol é legalizado em mais de 40 países. Pesquisas têm mostrado que ele é eficaz em tratamentos de dores crônicas, espasmos musculares, convulsões e ansiedade.

O mercado global de cannabis medicinal está estimado em US$ 62,7 bilhões até 2024, que equivale a 60% do projetado para o mercado legal, que inclui o uso recreativo, segundo a Prohibition Partners.

No Brasil, projeções da New Frontier Data apontam que o potencial do mercado medicinal é de geração de 4,7 bilhões de reais de receita.

Para Vivi Sedola, fundadora da Dr. Cannabis, marketplace que reúne médicos, e-commerces e pacientes, as notícias são animadoras.

“A chegada de mais produtos nas farmácias é uma ótima notícia para o mercado e, principalmente, para os pacientes. Enquanto não tivermos disponíveis as diversas variedades de produtos que os pacientes precisam, o sistema de importação excepcional deve coexistir com as drogarias”.

Além da Prati-Donaduzzi e da Nunature, que já conseguiram o aval da Anvisa, outras marcas estão na fila da autorização para conseguir operar nas prateleiras das farmácias brasileiras, como as farmacêuticas Belcher, Verdemed e Nunesfarma.

O próximo passo, esperado por empresas que desejam operar de forma mais integral no mercado de cannabis, é ter a autorização para plantar a matéria-prima no país. O projeto de lei já recebeu parecer favorável na Câmara.

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