Parentes de pacientes hospitalizados ou recebendo assistência médica em casa, a maioria com COVID-19, se reúnem para comprar oxigênio e encher botijões em uma empresa privada em Manaus, Brasil, em 15 de janeiro de 2021. (Bruno Kelly/Reuters)
Mariana Desidério
Publicado em 21 de janeiro de 2021 às 09h56.
O colapso no sistema de saúde do Amazonas, causado pela falta de oxigênio para os pacientes com covid-19, poderia ter sido evitado se houvesse mais planejamento por parte do setor e do poder público. É o que afirma o empresário Newton de Oliveira, presidente da Indústria Brasileira de Gases, uma das principais empresas do setor, baseada em São Paulo.
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“Está todo mundo procurando um culpado. O que houve foi uma somatória de erros, tanto do setor que opera lá quanto do governo. Essa quantidade de oxigênio que está sendo consumida lá é ridícula perto do que se vende no país. Não deveria ter dado essa repercussão toda, é algo que poderia ter sido planejado”, afirma. O consumo de oxigênio no Amazonas está em cerca de 75 mil metros cúbicos por dia.
Na visão do empresário, um ponto de atenção é a atuação de apenas uma empresa de maior porte na região. “Gás é estratégico, um país não pode funcionar sem gás. Uma das coisas que não deveria ter sido permitida é a atuação de uma só empresa na região”, afirma o empresário. O estado é abastecido majoritariamente pela companhia White Martins, subsidiária da multinacional Linde PLC, com sede na Irlanda. Além dela atuam ainda duas companhias menores: a Carboxi e a Nitron da Amazônia.
No entanto, segundo Oliveira, a instalação de outra companhia de maior porte na região é complexa. “Lá o mercado é pequeno. Em condições normais ele não comporta outro fabricante. O governo precisaria pensar em uma solução para isso”, diz. Em entrevista à CNN, o prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), afirmou que a região é “refém de um monopólio”, já que só uma empresa vende oxigênio para os hospitais públicos e privados.
Outro aspecto importante, segundo o presidente da IBG, foi a falta de informação sobre o que ocorria no Amazonas. “Nós do setor desconhecíamos o problema. Ninguém tinha a informação de que a fábrica da White Martins estava operando em capacidade total”, disse Oliveira. A White Martins opera atualmente em capacidade total, com produção de 28 mil metros cúbicos por dia de oxigênio. No entanto, o empresário afirma que a comunicação entre concorrentes é restrita devido a normas do Cade.
A IBG possui quatro fábricas de oxigênio e opera hoje em 56% de sua capacidade. A estratégia da companhia é manter parte de sua capacidade de produção ociosa, para o caso de precisar paralisar alguma planta por necessidade de manutenção.
A fabricante já enviou cerca de mil cilindros de oxigênio para Manaus, além de um isocontainer para o transporte do oxigênio em estado líquido – em que o produto ocupa menos espaço, o que otimiza o transporte. Agora, a IBG se prepara para enviar mais mil cilindros à região. A companhia tem sido procurada por empresas e artistas interessados em doar oxigênio aos hospitais de Manaus.
A IBG é a principal produtora de oxigênio com capital 100% nacional. A companhia se prepara para investir 80 milhões de reais em uma nova fábrica, que deve ficar pronta em 18 meses. Atualmente, a IBG atua em dez estados, sendo que 30% de sua produção tem como destino o setor médico hospitalar – a companhia atende hoje cerca de 300 hospitais pelo país e diz estar em condições de abastecê-los.
De acordo com o empresário, há no setor a apreensão de que a falta de oxigênio atinja outros estados com problemas logísticos, como Rondônia e Acre. A IBG percebeu aumento na demanda por oxigênio em regiões como Goiás e Distrito Federal, atribuída à transferência de pacientes do Amazonas para esses estados.