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CEO da Keppel autorizou pagar propina, diz representante

Ex-representante terceirizado da Keppel disse que executivos, inclusive o atual CEO da Keppel, o autorizaram a subornar funcionários da Petrobras e políticos

O atual CEO da Keppel Offshore & Marine, Chow Yew Yuen: propinas tiveram como destino funcionários da Petrobras e pessoas como João Vaccari, disse representante (Munshi Ahmed/Bloomberg)
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Da Redação

Publicado em 3 de agosto de 2016 às 16h42.

Os problemas da Keppel Corp. no Brasil continuam crescendo.

A maior construtora de sondas de petróleo em mar do mundo viu a demanda despencar no Brasil, um de seus mercados mais importantes. Uma de suas principais clientes, a Sete Brasil Participações, pediu recuperação judicial.

E, no mês passado, o ex-representante da Keppel no Brasil acusou executivos do primeiro escalão do grupo em Cingapura de tê-lo autorizado a pagar propinas para conseguir contratos com a Petrobras .

Zwi Skornicki, ex-representante comercial terceirizado da Keppel no Brasil, disse a um juiz que cinco executivos, inclusive o atual CEO da Keppel Offshore & Marine, Chow Yew Yuen, o autorizaram a subornar funcionários da Petrobras e políticos em troca de contratos com a Petrobras, muitas vezes de mais de US$ 1 bilhão.

A Keppel negou as acusações em um comunicado de 24 de julho, disse que tem tolerância zero com atividades ilegais e que tomará “todas as medidas necessárias para erradicar esse tipo de conduta, se descoberta”.

Os outros executivos da Keppel que supostamente sabiam e autorizaram as propinas são Tong Chong Heong, ex-executivo sênior da Keppel Corp.; Tay Kim Hock, ex-CEO da Keppel Fels Brasil; Tay Kim Hock, atual CEO da Keppel Fels Brasil; e Choo Chiau Beng, ex-CEO da Keppel Corp., segundo depoimento de Skornicki dado em 21 de julho ao juiz Sérgio Moro, que comanda a Operação Lava Jato.

O depoimento foi publicado no site do tribunal como parte do expediente judicial.

“O relacionamento da agência com o sr. Skornicki havia sido interrompido. Em vista da admissão de que fez pagamentos ilegais, encerraremos seu relacionamento com a agência”, disse a Keppel, em resposta por e-mail, em 29 de julho.

Não foi possível entrar em contato com os cinco executivos por meio da Keppel.

Choo era embaixador não-residente de Cingapura no Brasil na época do suposto pagamento de propinas.

A embaixada preferiu não comentar o assunto. Skornicki disse que possuía firma própria, montada dentro do escritório da Keppel no Brasil, e um contrato formal para representar a empresa, com autonomia suficiente para assinar contratos com a Petrobras em nome da Keppel.

Skornicki apresentou a Moro seu contrato com a Keppel, que prevê o pagamento de uma porcentagem dos acordos para ele. Ele disse que usava as mesmas contas por meio das quais recebia comissões formais da Keppel para subornar autoridades.

As propinas tiveram como destino funcionários da Petrobras e pessoas como João Vaccari, que era tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT), disse Skornicki.

O PT governou o Brasil de 2003 até maio passado, quando a presidente Dilma Rousseff foi suspensa depois que o Congresso iniciou o julgamento do processo de impeachment contra ela por acusações não relacionadas a este caso.

Na Lava Jato, descobriu-se que líderes políticos da base aliada do governo usaram sua influência para escolher altos funcionários da Petrobras, que posteriormente coletavam propinas e dividiam os recursos com seus padrinhos políticos.

Vaccari foi condenado em 2015 a 15 anos de prisão por corrupção e por administrar propinas para o PT. O advogado de Vaccari, Luiz D’Urso, negou irregularidades e disse que a sentença de seu cliente foi baseada apenas em depoimentos de delação premiada, sem provas de ilegalidades.

A Petrobras disse diversas vezes que foi vítima de alguns funcionários desonestos e que está colaborando com as autoridades.

Os departamentos jurídicos da Keppel em Cingapura e no Brasil revisaram todos os contratos, disse Skornicki no tribunal.

A Keppel foi citada na Lava Jato pela primeira vez em fevereiro de 2015 e Skornicki afirma também que pagou propinas para conseguir contratos com a Sete Brasil, que interrompeu pagamentos a estaleiros no ano passado e entrou com pedido de recuperação judicial em abril após ser implicada na investigação de corrupção.

A Sete não respondeu a um pedido de comentário.

São Paulo – Alvo de protestos nesta semana, a contratação de serviços de prostitutas de luxo com recursos da Petrobras não foi a única forma encontrada por diretores da empresa, políticos e operadores para gastar o dinheiro desviado no esquema de corrupção .  Desde o início da Operação Lava Jato , em março de 2014, a Polícia Federal descobriu uma série de bens que, supostamente, teriam sido pagos com dinheiro vindo da Petrobras.  São joias, carros e até obras de arte que, segundo a polícia, eram usados para ocultar a origem do dinheiro ilícito. Veja, nas fotos, alguns dos bens apreendidos durante a investigação ou devolvidos à Justiça nos casos de acordos de delação premiada.
  • 2. Prostitutas de luxo

    2 /7(Raymond Roig/AFP)

  • Veja também

    Cerca de 150 mil reais foram gastos com o pagamento de serviços de prostituição de luxo para diretores da Petrobras e políticos. A informação aparece em relatos do doleiro Alberto Youssef e do emissário dele, Rafael Angulo Lopez. Ambos assinaram acordo de delação premiada com a Justiça.  De acordo com Yousseff e Lopez, algumas das garotas contratadas são conhecidas pela exposição em capas de revistas, desfiles de escolas de samba e programas de TV. Cada programa custava até 20 mil reais.
  • 3. Relógios

    3 /7(Polícia Federal/ Paraná)

  • Coleções inteiras de relógios de luxo foram apreendidas pela Polícia Federal na operação Lava Jato. Só na sede de Arxo, fabricante de tanques de combustível e alvo da nona fase da operação, foram apreendidos cerca de 500 relógios. As peças estavam escondidas no fundo falso de um armário junto com perfumes e dinheiro vivo. Na casa do doleiro Alberto Yousseff - um dos principais personagens do esquema de corrupção - foram encontrados mais algumas peças: 11 da marca suíça Rolex, nove Hublots, dois Montblanc, dois Breitling, dois Cartier, um Vacheron, um Chopard e um Baume & Mercier.
  • 4. Obras de arte

    4 /7(Polícia Federal/Curitiba/Fotos Públicas)

    Di Cavalcanti, Vik Muniz e Iberê Camargo são alguns artistas cujas obras foram compradas com dinheiro sujo. Só na casa da doleira Nelma Kodama, ex-namorada do doleiro Alberto Yousseff e condenada a 18 anos de prisão, foram apreendidas 16 obras de arte. Entre elas está um original de Di Cavalcanti avaliado em 3 milhões de dólares.  Outras 48 peças foram apreendidas na casa de Zwi Skornicki, representante oficial da empresa Keppel Fels e suspeito de ser um dos operadores do esquema de corrupção.  Na 10° fase da Lava Jato, a lista de obras aumentou consideravelmente com a apreensão de mais de cem telas do ex-diretor da Petrobras, Renato Duque. O destino das peças é o Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba. De acordo com a Polícia Federal, 245 obras de arte, entre quadros e esculturas, foram encaminhados ao museu. Uma parte dessas peças fica exposta no MON até novembro na mostra "Obras sob guarda".
  • 5. Carros de luxo

    5 /7(REUTERS/Ueslei Marcelino)

    Na manhã do dia 14 de julho, a Polícia Federal apreendeu na casa do senador e ex-presidente Fernando Collor de Melo (PTB-AL) três automóveis: uma Ferrari 458 Itália, um Lamborguini Aventador LP 700-4 e um Porsche Panamera S.  Os carros de luxo são os mais recentes exemplos de automóveis apreendidos pela Polícia Federal no desenrolar da Lava Jato, mas não são os únicos.  Outro que aparece na lista das apreensões é um Porsche modelo Cayman leiloado no final de março. O automóvel pertencia a Nelma Kodama, denunciada por organização criminosa, crimes financeiros e lavagem de dinheiro.
  • 6. Lancha milionária

    6 /7(Divulgação/Ferretti)

    Uma lancha Costa Azul, avaliada em pouco mais de um milhão de reais foi apenas um dos bens que, segundo a Justiça, foram comprados pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa com dinheiro da estatal. Costa se comprometeu a entregar a lancha à Justiça em seu acordo de delação premiada, assinado em setembro de 2014. No mesmo documento, Costa aceita entregar um terreno em Mangaratiba, avaliado em 202 mil reais e um veículo Ranger Evoque, avaliado em 300 mil reais.
  • 7. Veja agora o que aconteceu em cada uma das fases da Lava Jato

    7 /7(Polícia Federal de Curitiba)

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