Modelo DB10 da Aston martin, produzido exclusivamente para o último filme do James Bond, Spectre, em exposição sobre o filme em 2015, em Londres (Rob Stothard/Getty Images)
Karin Salomão
Publicado em 3 de setembro de 2018 às 06h00.
Última atualização em 3 de setembro de 2018 às 06h00.
São Paulo - Conhecida por fabricar os carros do personagem espião James Bond, a Aston Martin se prepara para abrir seu capital na bolsa de valores de Londres. A proposta de IPO, anunciada no dia 29, faz parte da estratégia da montadora para mostrar que está estável, forte e capaz de conquistar novos mercados.
A empresa ainda prevê quase triplicar a produção de automóveis, se fortalecer em mercados fora do Reino Unido e lançar um carro novo por ano até 2020, incluindo o primeiro SUV da marca.
Sua trajetória é marcada por altos e baixos. Ela já pediu falência sete vezes, passou por guerras e inúmeros donos e viu suas vendas caírem drasticamente há alguns anos.
Centenária, a Aston Martin foi fundada em Londres em 1913 e se estabeleceu como uma produtora de nicho de carros esportivos, de alta performance e de luxo, principalmente para consumidores do Reino Unido.
O primeiro pedido de falência veio em 1924, depois da 1a Guerra Mundial, e a empresa precisou paralisar sua produção durante a 2a Guerra Mundial, para fabricar peças para os aviões de guerra britânicos.
Em 1947, a empresa adquiriu a marca Lagoda, criada em 1904. A Ford adquiriu, quarenta anos mais tarde, 75% da montadora e, em 1994, aumentou essa fatia para 100%.
A participação da montadora norte-americana foi vendida, em 2007, para um consórcio de investidores, como a Investment Dar (UK) Limited e Adeem Investment and Wealth Management Company. Em 2013, investimentos subsidiários da Investindustrial V L.P. adquiriram participações de 37,5% e, entre aquele ano e 2014, a Daimler comprou ações sem opção de voto de 4,9% da empresa.
Durante todo esse tempo, ela se manteve a icônica marca dos carros do fictício espião 007. James Bond já dirigiu carros da marca com armas embutidas, assentos ejetáveis e até com a função de se tornarem invisíveis.
Nem essa visibilidade conseguiu fazer com que a empresa conquistasse novos consumidores e a empresa viu as vendas caírem mais uma vez no momento em que comemorava 100 anos de história.
Em seu centenário, a Aston Martin começou uma reviravolta em sua estratégia para voltar a ser uma marca desejada. "Ainda precisamos ser a marca mais legal do mundo", disse o presidente Andy Palmer em uma conferência automotiva em 2015.
"Temos que nos reinventar como uma marca de luxo e sair do ciclo de 102 anos de festa e fome. Nós temos a marca para fazer isso. O que precisamos é de estratégia e coragem para fazer essa mudança."
Os seus acionistas investiram cerca de 200 milhões de libras para atualizar as linhas de produção, fabricar carros com maior eficiência energética e aumentar a velocidade de produção. O plano também inclui o lançamento de um novo carro de 2016 a 2022, inclusive o primeiro SUV da marca que deve ser lançado no ano que vem.
A empresa planeja aumentar a produção com uma nova fábrica em Wales em 2019 e criar parcerias com outras marcas, como a Daimler, a fabricante da Mercedes-Benz, para a produção de carros com potentes motores V8. Outro exemplo de parceria é com a Red Bull, para a criação do modelo Valkkyrie.
Nos próximos anos, a produção de carros de luxo deve quase triplicar. Em 2017, ela vendeu 5.117 carros, número 58% superior ao ano anterior. Nos próximos anos, a produção deve decolar, para cerca de 9.600 em 2020 e 14 mil unidades por ano no médio prazo, escreve a companhia em sua proposta de IPO.
A estratégia parece estar dando resultado. Em 2017, a empresa apresentou o primeiro lucro anual desde 2010, com faturamento de 1,2 bilhão, 48% superior ao ano passado. De 2015 a 2017, o número de carros produzidos cresceu 19% e as receitas, 31%.
A proposta de IPO é mais um passo para se reinventar. Três bancos foram escolhidos para coordenar a abertura de capital, que pode avaliar a companhia em 5 bilhões de libras ou 6,4 bilhões de dólares.
"O anúncio de hoje representa um marco importante na história da empresa, que está reportando fortes resultados financeiros e aumentando a demanda global por seus carros esportivos premiados”, escreve Andy Palmer, presidente e CEO da Aston Martin Lagonda no relatório.
O anúncio do IPO acontece durante a preparação do Reino Unido para se separar da União Europeia, com o Brexit.
No entanto, a montadora sediada no país da rainha acredita que seu principal potencial de crescimento está nos indivíduos com grandes fortunas pelo mundo, especialmente na Ásia. Atualmente, 30% das receitas vêm do Reino Unido, 26% da Europa, Oriente Médio e África excluindo o Reino Unido, 25% das Américas e 16% da Ásia e Pacífico.
Outra montadora de carros de luxo, a Tesla é negociada em bolsa de valores desde 2010. No entanto, ainda não é lucrativa, mesmo oito anos depois, e investidores têm feito pressão para a companhia entregar resultados e as metas de produção que prometeu.
Por isso, e por se incomodar com a volatilidade das ações da companhia, o CEO Elon Musk considerou fechar o capital da montadora no início de agosto. Desistiu, depois de reuniões com o conselho de administração.
A instabilidade também é característica da Aston Martin. Caso ela vá em frente com seu plano de abrir capital - tem até o dia 20 de setembro para entregar um plano detalhado até 20 de setembro - precisará provar que pode ser mais forte e estável do que foi nos últimos 100 anos.