Negócios

Carrefour e Casino podem travar batalha pelo Pão de Açúcar

O grupo francês Casino considera que proposta do fundo Gama, controlado pelo BTG Pactual, corrobora uma transação financeira ilegal combinada por Abílio Diniz

Carrefour: autoridades do Cade também podem atravancar negócio com o Pão de Açúcar (Wikimedia Commons)

Carrefour: autoridades do Cade também podem atravancar negócio com o Pão de Açúcar (Wikimedia Commons)

DR

Da Redação

Publicado em 28 de junho de 2011 às 14h49.

Paris - O Carrefour SA disse que vai avaliar uma proposta que recebeu de um fundo para unir sua unidade brasileira com a Cia. Brasileira de Distribuição Grupo Pão de Açúcar, o que poderia marcar o início de uma batalha com seu concorrente Casino Guichard-Perrachon SA.

A combinação das empresas, que criaria a maior varejista do Brasil, foi proposta pelo Gama, um fundo administrado pelo Banco BTG Pactual SA. O Gama se tornaria o maior acionista do Carrefour, que tem sede em Boulogne-Billancourt, na França, com uma participação de 11,7 por cento, que poderia chegar a 17,7 por cento, segundo comunicado divulgado hoje.

O plano pode ser ameaçado pelo grupo francês Casino, que compartilha o controle do Pão de Açúcar com a família Diniz e este mês aumentou a participação na empresa brasileira para 37 por cento. O Casino entrou com pedido de arbitragem internacional contra a família Diniz após ter descoberto as negociações do seu parceiro com o concorrente Carrefour, duas pessoas familiarizadas com o assunto disseram em maio.

“A batalha pode ser muito sangrenta”, disse James Grzinic, analista da Jefferies International Ltd. em Londres, em um relatório a clientes. A oposição legal do Casino “poderia significar um importante obstáculo”.

As ações do Pão de Açúcar estavam em alta de 4,2 por cento, para R$ 67,74, às 12:16 em São Paulo. O Carrefour subia 3,9 por cento, enquanto o Casino tinha queda de 5,3 por cento, em Paris.

‘Ilegal’

“Não se trata de uma proposta espontânea do Gama, um veículo de investimento, mas sim de uma transação financeira ilegal sendo negociada há tempos entre o Abilio Diniz e o Carrefour,” disse o Casino em um comunicado.

“A transação é atraente para o Carrefour mas o Gama ter o controle do Pão de Açúcar parece problemático sem a aprovação do Casino”, Jean-Marie L’Home, analista na Aurel em Paris, escreveu em um relatório para clientes.

Abilio Diniz, presidente do Conselho de Administração do Pão de Açúcar, disse em um e-mail que irá analisar a proposta juntamente com o Casino e que a “decisão final será tomada seguindo os trâmites de praxe, previstos na lei e nos Acordos de Acionistas, em assembleia geral de acionistas, após o exame pelo Conselho.” O conselho de administração do Carrefour irá avaliar a proposta do fundo nos próximos dias, de acordo com um comunicado.


BNDES

Diniz está na França e fez tentativas para falar com representantes do Casino e até o momento não foi recebido pelo grupo, disse Pércio de Souza, sócio-fundador da Estáter Gestão e Finanças, que foi assessor financeiro da operação, hoje a repórteres em São Paulo.

A proposta tem o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social que injetaria 2 bilhões de euros (R$ 4,6 bilhões) no fundo Gama e financiaria dívida no valor de 500 milhões de euros, como parte da transação, de acordo com o comunicado. A BNDES Participações SA terá uma participação de 18 por cento na empresa que poderá ser criada após a fusão, disse Souza.

A transação criaria uma empresa com faturamento de mais de 30 bilhões de euros, disse o Carrefour. O Brasil é o segundo maior mercado em vendas para o Carrefour, depois da França.

O fundo Gama é controlado pelo BTG, um banco de investimento criado pelo bilionário André Esteves, que comprou o Pactual do UBS AG em 2009.

Risco regulatório

As autoridades antitruste também podem ser um empecilho para o negócio, disse Barbara Ambrus, analista na Landesbank Baden-Wuerttemberg em Stuttgart, na Alemanha. Para Grzinic, da Jefferies, o risco regulatório pode ser menor que o esperado.

A proposta de fusão seria analisada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica juntamente com outras aquisições do grupo brasileiro, disse o presidente da autarquia, Fernando de Magalhães Furlan. As aquisições do Pão de Açúcar, incluindo a compra da Casa Bahia Comercial Ltda. e da Globex Utilidades SA, precisam ter seu impacto avaliado conjuntamente pelo Cade, disse Furlan em entrevista telefônica hoje.

A fusão geraria uma economia de 700 milhões de euros por ano, disse o Gama em um comunicado. O Gama teria inicialmente dois representantes no conselho de administração do Carrefour e poderia receber um terceiro assento em 2013.

O Carrefour, o segundo maior varejista do mundo, tem enfrentado dificuldades diante do fraco crescimento na França, seu maior mercado, e cortou estimativas de lucro três vezes desde novembro. O presidente da companhia, Lars Olofsson, disse na semana passada que era forçado a olhar para todas as possibilidades de fortalecer a posição da empresa em mercados como Brasil, China e Indonésia.

Acompanhe tudo sobre:CarrefourComércioEmpresasEmpresas abertasEmpresas francesasFusões e AquisiçõesPão de AçúcarSupermercadosVarejo

Mais de Negócios

Bezos economizou US$ 1 bilhão em impostos ao se mudar para a Flórida, diz revista

15 franquias baratas a partir de R$ 300 para quem quer deixar de ser CLT em 2025

De ex-condenado a bilionário: como ele construiu uma fortuna de US$ 8 bi vendendo carros usados

Como a mulher mais rica do mundo gasta sua fortuna de R$ 522 bilhões