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Carlos Zarlenga, da GM: 2017 foi o ano da virada

O presidente da montadora conta como conseguiu manter a liderança da GM no Brasil e os ganhos de juntar as operações com a Argentina em uma única empresa

CARLOS ZARLENGA: deixa cargo de presidência da GM América do Sul (Germano Lüders/Exame)
NB

Naiara Bertão

Publicado em 2 de março de 2018 às 12h46.

Última atualização em 5 de março de 2018 às 20h52.

Há pouco mais de um ano, o argentino Carlos Zarlenga assumiu a presidência da montadora americana General Motors no Brasil. O desafio era juntar as operações do país com a Argentina e manter a liderança em vendas em um momento de crise aguda para a indústria.

O resultado foi aumento de 14% nas vendas e a consolidação do primeiro lugar de sua marca Chevrolet no mercado nacional. Foram 394.000 unidades vendidas no ano passado.

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Em relação a 2016, sua participação cresceu de 17,4% para 18,1% e seu carro Onix foi, novamente, o mais vendido do mercado.

Como grande parte das montadoras, a crise também judiou da GM e ela somou um prejuízo operacional de 3,8 bilhões de reais na América do Sul no acumulado de 2014 a 2017, segundo dados da consultoria Roland Berger.

No fim do ano, porém, duas boas notícias animaram Zarlenga: a empresa voltou a dar lucro no terceiro trimestre e o mercado automotivo cresceu 9%. Já é hora de comemorar a retomada? Confira a entrevista exclusiva que o executivo concedeu a EXAME:

Qual seu balanço deste primeiro ano na presidência da GM no Brasil?

Foi um ano de muitas mudanças. A primeira coisa que fizemos no começo de 2017 foi unificar a operação da Argentina e Brasil e passarmos a chamar GM Mercosul. Não temos mais dois presidentes ou dois comitês executivos.

Temos um time só para os dois países. Fizemos uma integração buscando o melhor talento para cada funcionalidade. Eu e o diretor financeiro, por exemplo, ficamos no Brasil. O diretor de consórcios e de planejamento financeiro, ficam na Argentina.

Por que decidiram unir as operações?

Na indústria automotiva, Brasil e Argentina não são negócios diferentes. O portfólio é o mesmo. O que é vendido aqui é vendido lá. Nossos carros de sucesso são os mesmos nos dois países. Separar os negócios não faz sentido. Começamos a integrar as operações no início de 2017 e já vemos resultados.

Que tipo de resultado?

A decisão acelerou a tomada de decisão. Não há mais a necessidade de ter aprovação em dois lugares separados para determinar produção e vendas, como antes.

Agora, por exemplo, quem toma a decisão de onde devemos vender um determinado carro é um analista a partir de avaliação da necessidade de mercado, concessionárias e o que dará mais lucro. Não é mais uma decisão política. Isso tira um monte de burocracias da tomada de decisões.

Mas a empresa continua apresentando prejuízo na região?

Não reportamos os resultados de Brasil separadamente, mas posso dizer que sim, durante a crise tivemos prejuízo, mas voltamos para a rentabilidade no terceiro trimestre do ano passado.

Foi um ano muito bom para GM e fizemos importantes anúncios para o futuro. No Brasil anunciamos investimentos de 4,5 bilhões de reais e, na Argentina, outros 500 milhões de dólares, ou seja, somando os dois países, são 6 bilhões de reais para projetos que já começaram e vão até 2019.

Ainda temos mais pra anunciar e, quando chegar o momento, vamos falar. Isso significa que continuamos vendo a América do Sul e o Mercosul especificamente como uma área muito importante pra GM globalmente.

Quais projetos são esses? De novos modelos de carros?

São investimentos em novos produtos tanto carros como motores de transmissão. Não posso dizer muito, mas são produtos globais, novos, que vamos lançar tanto na América do Sul quanto em outros lugares e produzir aqui.

A GM foi líder em vendas no Brasil em 2017, o terceiro ano consecutivo. O que explica isso?

São 26 meses de liderança no Mercosul e no Brasil e nossa liderança vem crescendo ainda mais. O modelo Ônix é líder de vendas desde 2015. Na Argentina também estamos vendo crescimento grande de vendas e participação de mercado.

Além disso, melhoramos a percepção da nossa marca no último ano, graças aos lançamentos, serviços, qualidade dos produtos e tudo que temos investido. Fizemos a renovação do portfólio no momento certo no Brasil. É bom ser número 1 porque isso nos beneficia para manter a liderança na retomada. Estamos trocando de ciclo econômico na nossa indústria.

Deixamos a crise pra trás?

Ano passamos o setor cresceu quase 10% e nós, ainda mais. Os números não chegam aos níveis de pré-crise, mas já é um avanço importante. Nós já anunciamos o início do terceiro turno de nossa fábrica em Gravataí (RS). Essa unidade vai estar em total capacidade no começo do ano que vem e isso graças à recuperação do mercado brasileiro.

Nas outras duas plantas de automóveis – em São Caetano, na Grande São Paulo, e em Rosário, Argentina– os turnos atuais já estão sendo completamente utilizados.

Na Argentina, o mercado bateu recorde histórico de 900.000 unidades produzidas e pode chegar a 1,1 milhão de carros em 2018. Ano que vem, o mercado brasileiro deve produzir entre 2,4 e 2,6 milhões de unidades. É um patamar importante, que não acontece desde 2014.

Brasil e Argentina chegaram a falar no passado sobre criar regras conjuntas para o setor. Quais as vantagens?

Nós vamos lançar este ano o primeiro modelo que vai ser exatamente o mesmo para os dois países. Hoje, o que eu vendo na Argentina tem 25% de partes diferentes do que o que eu vendo no Brasil. Eu tenho de escolher onde será vendido antes de produzir. Isso significa duplicação de parque, engenharia, inventário, caixa, recebíveis e, em última instância, se traduz em ineficiências.

A empresa anunciou que o Bolt, seu principal modelo de carro elétrico, deve começar a ser vendido no Brasil em 2019. Quais os planos da empresa para a região?

Temos de liderar a eletrificação aqui no Brasil e no Mercosul também. Estamos trabalhando para ter um veículo elétrico de volume. Nós poderíamos trazer vários dos produtos elétricos que temos no mundo e vender pequenas quantidades só para mostrar que temos a tecnologia. Mas estamos indo por um caminho diferente.

Queremos apostar em um carro de volume para ser a aposta certeira de eletrificação na região. Do ponto de vista de infraestrutura, o que as pessoas acham que vão ser limitações, eu não estou preocupado. Onde carregar não vai ser um problema. Não é algo tão difícil de fazer. Vemos uma evolução muito rápida em vários lugares do mundo.

O que nos preocupa é que ter um carro que o cliente realmente quer, com a autonomia que ele precisa, no preço que consegue pagar e que seja um projeto lucrativo pra a GM.

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