Carlos Ghosn tem prisão prorrogada por novas acusações
Promotoria do Japão voltou a determinar a detenção do executivo e conseguiu mais 48 horas para interrogá-lo sobre suspeitas por abuso de confiança
AFP
Publicado em 21 de dezembro de 2018 às 06h23.
O ex-presidente da Nissan Carlos Ghosn é alvo de uma terceira ordem de prisão por "quebra de confiança agravada", o que prorroga sua detenção por 48 horas e reduz as possibilidades de liberdade, no capítulo mais recente da trama judicial.
O então presidente da aliança de montadoras Renault-Nissan-Mitsubishi Motors foi detido no dia 19 de novembro mo aeroporto Haneda de Tóquio, sob a acusação de fraude fiscal, e desde então está em uma prisão no norte de Tóquio.
Sua prolongada detenção provisória motivou críticas ao sistema judicial japonês.
Ghosn deveria ser solto nas próximas horas com o pagamento de fiança, após um tribunal de Tóquio rejeitar, na quinta-feira, um pedido da Promotoria para prorrogar a detenção provisória, segundo o canal NHK.
Mas a defesa não contava com a insistência da Promotoria, furiosa, de acordo com a imprensa, com o pedido negado na véspera.
Assim a Promotoria voltou a determinar sua detenção e conseguiu mais 48 horas para interrogar o executivo sobre novas suspeitas, desta vez por abuso de confiança. O período de detenção pode ser prorrogado.
De acordo com um comunicado, Carlos Ghosn é suspeito de ter "falhado em sua função de presidente e de ter provocado um prejuízo a Nissan".
De modo concreto, a Promotoria o censura por ter "impunidade nas contas da empresa por perdas de investimentos pessoais", algo que ele nega, segundo a rede pública NHK.
A prorrogação da detenção visa obter informações sobre as novas suspeitas contra o executivo franco-brasileiro de origem libanesa.
O executivo de 64 anos foi acusado de ter omitido em suas declarações de renda às autoridades da Bolsa quase 5 bilhões de ienes (44 milhões de dólares) durante cinco anos, entre 2010 e 2015. Seu braço direito, Greg Kelly, também foi acusado.
Ghosn, que nega as acusações, também é suspeito de ter repetido a fraude, entre 2015 e 2018, totalizando 4 bilhões de ienes (35 milhões de dólares), o que havia provocado uma primeira prorrogação do período de detenção.
Além das acusações de não ter declarado sua renda, a Nissan afirma que seu ex-presidente utilizou ilicitamente residências de luxo pagas pela empresa ao redor do mundo.
A Nissan também é investigada como pessoa jurídica, já que a Promotoria suspeita da responsabilidade da empresa, que forneceu os relatórios incriminatórios às autoridades da Bolsa.
A detenção de Ghosn, que foi destituído da presidência da Nissan pouco depois, resultou de uma investigação interna da empresa.
O executivo também foi destituído da presidência da Mitsubishi Motors, mas Renault decidiu mantê-lo em seu cargo, uma situação que gerou uma crise na aliança entre as montadoras, criada em 1999.
A aliança Renault-Nissan nasceu em 1999 e em 2016, com a entrada da Mitsubishi Motors, se tornou o maior grupo mundial do setor automobilístico.