Caminhoneiros na pandemia: volume de carga transportada por rodovias aumentou 62% em 2020
Apesar de queda vertiginosa no segundo trimestre, o agronegócio, o setor de construção civil e o transporte de produtos industrializados contribuíram em peso para o resultado positivo
Karina Souza
Publicado em 27 de janeiro de 2021 às 09h30.
Última atualização em 27 de janeiro de 2021 às 09h59.
A necessidade do trabalho dos caminhoneiros é inegável em um país como o Brasil. Em média, 65% do transporte de cargas é feito por meio do modal rodoviário, que emprega 1,5 milhão de pessoas e representa de 6 a 7% do PIB Nacional. A dependência, que já era grande, ganhou ainda mais holofotes durante a pandemia. Um novo estudo feito pela FreteBras, plataforma que une caminhoneiros ao frete e cobre cerca de 95% do território nacional, obtido com exclusividade pela EXAME, mostra que a busca por serviços desses motoristas cresceu 62% em 2020, atingindo quase 500 mil cargas por mês – ou 6 milhões durante todo o ano passado.
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Em termos práticos, mais de 200 mil novos caminhoneiros se cadastraram no site ou no app da empresa para buscar por fretes no último ano. Ao mesmo tempo, a companhia viu a base de empresas cadastradas aumentar 30% em relação ao ano de 2019.
As plataformas são consideradas mais seguras em tempo de pandemia – já que motoristas não precisam negociar pessoalmente o frete, diminuindo o risco de contaminação pelo vírus.
Diante de um crescimento tão vertiginoso, a companhia decidiu analisar mais a fundo a situação atual em termos de preço médio do frete e comportamento dos principais setores que mobilizam essa indústria anualmente. Para isso, criou o Índice FreteBras de Preço do Frete (IFPF), cálculo que considera o preço total do frete por quilômetro rodado e por eixo do veículo que realiza o transporte.
Preço
A principal conclusão do índice é a de que o preço médio do frete fechou 2020 em R$ 3,93 km por eixo – o Centro-Oeste se destaca como a região que remunera acima dessa média, com R$ 4,73; e o Sudeste está na ponta oposta, com R$ 3,81.
Apesar da alta vertiginosa em volume de carga, notada pela plataforma da companhia, esse valor está igual ao registrado no terceiro trimestre de 2019 e é o menor valor registrado durante o ano de 2020. O pico esteve no segundo trimestre, com valor médio de R$ 3,99.
Recentemente, o reajuste da tabela de frete voltou a ganhar espaço no setor. Em razão do reajuste de 2,51% da Tabela do Piso Mínimo de Frete, realizado pela Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT), caminhoneiros voltaram a convocar paralisações por todo o país. Nesta terça (26), a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística, que afirma ter 800 mil motoristas em sua base, formalizou o apoio ao ato, marcado para 1º de fevereiro.
Comportamento por setor
Depois de um segundo trimestre bastante fraco em termos de demanda por causa da pandemia, o volume de cargas transportadas cresceu consideravelmente. Além do maior volume de compras eletrônicas, que exigiu novos esforços logísticos, especialmente com varejistas transformando lojas físicas em grandes centros de distribuição, três setores tradicionalmente fortes para o mercado de fretes fizeram a diferença em 2020: grãos, construção civil e produtos industrializados.
O transporte de grãos, mais uma vez, ocupou um lugar de destaque em volume de frete no país. Ao todo, caminhoneiros transportaram mais de 250 milhões de toneladas durante todo o ano, valor 4,6% maior do que o registrado em 2019.
Os estados que mais demandaram o transporte dessa carga foram, em ordem: São Paulo (16,7%), Paraná (15,6%), Rio Grande do Sul (13,6%), Minas Gerais (10,33%) e Goiás (8,83%).
Assim como no quadro geral, o preço se manteve estável, em R$ 0,14 por tonelada e por quilômetro rodado.
Na Construção civil, outro setor prioritário para os caminhoneiros, o cenário também foi positivo. A manutenção da taxa básica de juros em um dos patamares históricos mais baixos já vistos contribuiu para impulsionar a vontade de companhias do setor em investir.
Como resultado, o transporte de insumos para a construção aumentou 90% em 2020 (ante 2019). Nesse cenário, o cimento foi o produto mais transportado, com aumento de 108% em relação ao ano anterior.
Por fim, os produtos industrializados se destacam, na seguinte ordem: alimentos (38,4% do total), máquinas ou equipamentos (21,4%), carregamentos siderúrgicos (20,8%), papel e celulose (11,62%) e materiais para reciclagem (7,86%). Ao todo, as viagens com produtos industrializados tiveram aumento de 50,9% de 2019 para 2020.
Origem e destino
Ao analisar as principais regiões de onde o frete foi requisitado, São Paulo foi o estado campeão, responsável por 27% dos fretes. Em segundo e terceiro lugar, estão Minas Gerais e Paraná.Em relação ao aumento de frete individual por estado, os que mais se destacaram foram Minas Gerais, Bahia e Pernambuco, com mais de 70% de aumento na oferta de fretes.
Já ao analisar o destino, é impossível deixar de notar a importância dos portos. Em 2020, a cidade portuária de maior destino dos fretes durante o ano de 2020 foi Rio Grande do Sul (RS), com aumento de 74,6% nas ofertas de frete destinadas a ela em relação a 2019. O principal foco, aqui, foi o transporte de grãos, com ênfase no arroz.
Ao mesmo tempo, o porto de Itaqui, em São Luís (MA), registrou aumento de 108% no último ano, com foco principal em Alimentos e Siderúrgicos.
Mas afinal, quem são as pessoas que transportam essa carga?
Informações sobre o perfil dos caminhoneiros estão, quase sempre, dispostas de forma descentralizada. Com o intuito de trazer mais informações sobre essa categoria, a FreteBras compilou as seguintes informações: a idade média dos caminhoneiros é de 45 anos e eles rodam 8.500 quilômetros por mês. As jornadas são, de fato, longas: 11 horas por dia, seis dias por semana.
Entre os principais motivos para terem escolhido a profissão, a possiblidade de conhecer novas cidades e países é a campeã em respostas (37,1%), seguida por conhecer novas pessoas (31,3%) e horário flexível (27,5%).
E não é porque passam muito tempo na estrada que os caminhoneiros estão desconectados do que acontece à sua volta e no mundo. O celular é usado por 98% deles para acessar à internet e às redes sociais, sendo o WhatsApp a mais popular (98,1%).
Em relação às preocupações da categoria, o preço do combustível é a principal delas (51,3%). O descontentamento com esses e outros percalços levaram mais da metade (65,3%) a participar da paralisação em 2018.