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Calote no VLT do Rio pode afetar venda da SuperVia

Grupo japonês Mitsui, sócio do VLT, quer acertar dívida com a prefeitura antes de fechar aporte de 800 milhões de reais para comprar companhia de trens

Supervia: companhia de trens do Rio de Janeiro foi vendida pela Odebrecht para grupo japonês Mitsui (Marcelo Horn/Supervia/Divulgação)

Supervia: companhia de trens do Rio de Janeiro foi vendida pela Odebrecht para grupo japonês Mitsui (Marcelo Horn/Supervia/Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 22 de março de 2019 às 05h45.

Última atualização em 23 de março de 2019 às 12h30.

Uma dívida de 110 milhões de reais da prefeitura do Rio de Janeiro pode colocar um negócio de 800 milhões de reais que envolve o governo do estado em risco. Em reportagem publicada nesta quinta-feira, 21, pelo jornal O Globo, Márcio Hannas, presidente do consórcio que administra o VLT do Rio, afirmou que por falta de pagamentos o moderno sistema de bondes que há três anos atende a região central da cidade pode deixar de circular. Segundo Hannas, as dívidas com a prefeitura acumulam 110 milhões de reais.

Em nota, a prefeitura do Rio informou que, “diante de graves problemas encontrados no contrato de concessão do VLT, assinado pela gestão anterior, a prefeitura do Rio decidiu rever os termos dessa Parceria Público-Privada (PPP)”. O VLT custou 1,2 bilhão de reais, bancado pelo Ministério das Cidades (46%) e pelas empresas (54%). Pelo contrato assinado, caberia ao município pagar 270 parcelas pela operação do serviço e, ao final de 25 anos, passar a proprietário dos trens. Segundo o consórcio, as parcelas pararam de ser pagas em maio do ano passado.

O consórcio é formado pelo grupo CCR, pela Odebrecht Mobilidade, pela Invepar e pela Riopar Participações. O grupo japonês Mitsui, por sua vez, tem 40% de participação na Odebrecht Mobilidade, fatia que cria uma nova frente de negociações. No dia 8 de março a Mitsui anunciou um acordo com a Odebrecht para pagar 800 milhões de reais e passar de sócio minoritário a controlador da SuperVia, empresa que opera o serviço de trens metropolitanos do Rio de Janeiro.

Segundo EXAME apurou, a Mitsui vê o calote da prefeitura no VLT como um ponto de atenção para futuros investimentos no Brasil, o que no momento pode interferir diretamente na compra da SuperVia. Apesar de um serviço ser responsabilidade e do município e outro, do governo do estado, para os japoneses os dois negócios representam um velho conhecido de estrangeiros que decidem investir por aqui: o “risco Brasil”. Nos bastidores, o consórcio que opera o VLT e a prefeitura chegaram a um acordo para o pagamento de 40 milhões de reais em fevereiro. Mas o prefeito Marcelo Crivella desistiu do acordo logo após as tempestades que mataram seis pessoas na cidade, no início de fevereiro.

Procurada a prefeitura do Rio não comentou. A Mitsui afirma que “o processo de troca do controle acionário da concessionária está em curso”.

O prefeito tem sentimentos dúbios em relação ao VLT, um serviço segundo o consórcio aprovado por 92% dos passageiros. Nesta quarta-feira Crivella afirmou que o VLT é “uma porcaria”. Em fevereiro, porém, a prefeitura anunciou plano de retirar ônibus municipais da região central do Rio para privilegiar o VLT, que hoje atende 60.000 pessoas por dia. A SuperVia, por sua vez, atende 600.000 pessoas por dia e é um dos serviços mais mal avaliados do país — ficou em último lugar em qualidade de atendimento segundo o último ranking EXAME/IBRC.

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