Cade investiga supostas condutas anticompetitivas da Bayer e Monsanto
O caso teve início a partir de denúncias feitas durante a aquisição da norte-americana pela empresa alemã, em um negócio de 63 bilhões de dólares
Reuters
Publicado em 12 de março de 2020 às 21h07.
Última atualização em 13 de março de 2020 às 10h57.
A Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) instaurou nesta quinta-feira processo administrativo contra as empresas Bayer e Monsanto , que integra o grupo alemão, para investigar supostas condutas anticompetitivas nos mercados de sementes e biotecnologia.
Segundo nota do Cade, o caso teve início a partir de denúncias formuladas durante a instrução do ato de concentração que envolveu a aquisição da Monsanto pela Bayer, um negócio de 63 bilhões de dólares, que foi aprovado com restrições pelo Cade, em fevereiro de 2018.
De acordo com a superintendência do Cade, no Programa Monsoy Multiplica (PMM), da Monsanto, a forma de cálculo dos descontos gera incentivos para que os multiplicadores participantes aumentem a proporção de sementes Monsoy ou sementes com biotecnologia Intacta (de propriedade da Monsanto) em sua cesta de multiplicação, induzindo a fidelização.
Com a instauração do processo, disse o Cade, a superintendência do conselho vai avaliar se o programa tem potencialidade de gerar efeitos de fechamento de mercado para outros obtentores concorrentes da Monsoy ou de dificultar o desenvolvimento de obtentores concorrentes no segmento de sementes de soja.
A segunda conduta investigada diz respeito à concessão de incentivos comerciais, pela Monsanto, para que os obtentores desenvolvam cultivares de soja com biotecnologia Intacta. A apuração preliminar apontou que, no caso concreto, os incentivos concedidos pela Monsanto podem ter efeitos de fidelização.
Neste caso, a superintendência do Cade irá avaliar se a concessão desses incentivos tem o potencial de reduzir a disponibilidade de cultivares não-Intacta para o agricultor.
A terceira conduta investigada corresponde à previsão contratual, pela Monsanto, de que o multiplicador de sementes de soja adquira sementes matrizes Monsoy na proporção de pelo menos 15% de seus campos de produção, na safra subsequente ao contrato.
Apesar de o órgão do Cade ter constatado que a Monsanto não tem exigido o cumprimento da cláusula, a investigação apontou que a empresa teria benefícios econômicos caso o fizesse, enquanto os multiplicadores poderiam ter seus custos aumentados.
Para o órgão, a prática pode ter como efeitos a fidelização dos multiplicadores nas safras subsequentes e a limitação da liberdade de escolha do multiplicador.
Com a instauração do processo administrativo, as empresas serão notificadas para apresentação de defesa.
Ao final da instrução processual, a superintendência do órgão opinará pelo arquivamento ou pela imposição de sanções por infrações à ordem econômica, disse a nota do Cade.
Confira a nota enviada pela Bayer:
"Depois de um longo processo, o CADE decidiu por arquivar o inquérito em relação a eventuais condutas e por seguir a análise de uma minoria delas. A Bayer sempre cumpriu fielmente o que determina a legislação, prestando todo e qualquer esclarecimento necessário ao CADE. A Companhia segue confiante quanto ao resultado do processo administrativo, que confirmará que não há qualquer infração concorrencial."