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BR Pharma: a consolidadora que naufragou

Sem experiência em farmácias, Paulo Remy tem a missão de transformar uma empresa que tem quase 1 bilhão de reais em dívidas

BR Pharma anunciou, na noite de quinta-feira, a intenção de seu controlador de fazer uma oferta de aquisição de ações

BR Pharma anunciou, na noite de quinta-feira, a intenção de seu controlador de fazer uma oferta de aquisição de ações

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Letícia Toledo

Publicado em 20 de novembro de 2017 às 07h51.

Última atualização em 21 de novembro de 2017 às 12h57.

A decadente trajetória da empresa que prometia ser a maior rede de farmácias do país ganhou novos capítulos nesta semana.

A BR Pharma anunciou, na noite de quinta-feira, a intenção de seu controlador de fazer uma oferta de aquisição de ações (OPA).

O anúncio fez os papéis da companhia subirem 4,5% nesta sexta-feira, com a expectativa do prêmio que o controlador pagará para fechar o capital da empresa.

Nesta semana, a empresa também informou que teve um prejuízo recorde de 1,45 bilhão de reais nos primeiros nove meses deste ano, o resultado foi impactado pela falta de dinheiro para abastecer o estoque das lojas e, consequentemente, queda nas vendas. A dívida subiu para quase 1 bilhão de reais.

Criada em 2009 pelo banco BTG Pactual, a BR Pharma tem um novo dono desde abril deste ano, quando o banco vendeu o controle para a empresa de investimentos Lyon Capital pelo simbólico valor de 1.000 reais.

Com isso Paulo Remy, ex-presidente da construtora WTorre e fundador da Lyon, assumiu o comando da decadente BR Pharma.

Em rápida teleconferência com analistas, Leonardo Campos, diretor de relação com investidores da BR Pharma, mostrou o tamanho do desespero da empresa. Ele afirmou que está buscando financiamento bancário, renegociação com fornecedores, interessados em investir ou ainda em comprar ativos da companhia. Em outras palavras, qualquer coisa que possa socorrer uma empresa que tem patrimônio negativo de 1,15 bilhão de reais.

O roteiro seguido pela BR Pharma não é nada do que foi previsto pelo BTG quando decidiu comprar a rede Farmais de olho em um setor que crescia mais de 15% ao ano.

Enquanto nos Estados Unidos grupos como CVS e Walgreens tinham mais de 10.000 lojas, a maior rede do Brasil era a Pague Menos, com 350 unidades. A oportunidade de consolidar o mercado era clara, e o BTG foi o primeiro a perceber isso.

Foram sete aquisições. Além da Farmais, o banco comprou: a Guararapes, do Pernambuco, a Rosário Distrital, do Centro-Oeste, a Mais Econômica, do Rio Grande do Sul, a Sant’Anna, da Bahia, e a Big Ben, do Pará.

Com isso, a BR Pharma chegou a ter mais 1.200 unidades e vendas de 3,5 bilhões de reais. A abertura do capital da BR Pharma, em junho de 2011 por 465,7 milhões de reais, foi o maior símbolo do sucesso da primeira fase da empreitada.

Os problemas começaram logo depois. Em 2012, duas fusões de grandes redes – Droga Raia com Drogasil e Pacheco com São Paulo – deixaram a liderança distante da BR Pharma.

Enquanto as líderes se concentravam em São Paulo e no Rio de Janeiro, a BR Pharma era formada por redes pequenas e médias e distantes geograficamente, dificultando a integração e distribuição de produtos.

Para fechar as compras na velocidade que queria o BTG fez concessões que também atrasaram a integração – entre elas, manter os sócios à frente de suas respectivas empresas por alguns anos. Essa estrutura de comando criou dificuldades.

Os antigos donos não aceitavam executivos escolhidos pelo BTG e sobrava gente para palpitar nos negócios. A integração planejada nunca ocorreu.

“Eles colocaram banqueiros nas operações. Banqueiro é bom de emprestar dinheiro, não de administrar farmácia”, diz um concorrente.

Os banqueiros do BTG viram que não conseguiriam cumprir a meta inicial e começaram a vender as marcas separadamente.

Em novembro de 2015, a Mais Econômica foi comprada pelo fundo Verti por 44 milhões de reais. Em 2016, a Rosário foi vendida à Profarma, por 173 milhões de reais. No ano passado, o BTG tentou vender sua principal marca, a Big Ben, para o Grupo Ultra e as redes Farmais e Rosário para outros interessados. O banco não conseguiu chegar a um acordo.

Enquanto isso, a Raia Drogasil conseguiu integrar os negócios e é hoje o maior grupo do setor, com mais de 1.500 lojas. Quem conduziu a empresa nos últimos quatro anos foi Marcílio Pousada, que antes disso presidiu a rede de livrarias Saraiva por oito anos.

O executivo assumiu com a missão de integrar as marcas Raia e Drogasil. A empresa faturou 9,7 bilhões de reais nos nove primeiros meses deste ano. O valor de é de 27,8 bilhões de reais, ante os 512 milhões de reais da BR Pharma.

A dúvida agora é se Remy, que trabalhou numa consultoria focada em reestruturação de empresas antes da WTorre, conseguirá fazer a melhoria necessária. Atualmente, apenas três das cinco marcas do grupo têm lojas abertas, que totalizam pouco mais de 700 unidades. “A única solução é vender as marcas, não há como manter o grupo como está”, diz um concorrente. O problema é que as marcas estão se deteriorando mês após mês.

A venda no conceito mesmas lojas (abertas há pelo menos 12 meses) tem quedas de mais de 40% a cada trimestre. Até mesmo a Big Ben se deteriorou.

Nos nove primeiros meses deste ano a rede teve um prejuízo de 621 milhões de reais e atualmente tem patrimônio negativo de 206 milhões de reais.

Em seu relatório de resultados do terceiro trimestre, a BR Pharma fez uma baixa no valor de duas de suas redes, Santana e Big Ben, no montante de 815 milhões de reais. O valor dos ativos parece diminui a cada dia, Remy precisa resolver a crise antes que não sobre nada.

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