Biden ou Trump? 5 grandes implicações da eleição americana para o petróleo
De continuidade do fracking a flexibilização do acordo com o Irã, o setor poderá sofrer importantes impactos a depender do resultado do pleito nos EUA
Juliana Estigarribia
Publicado em 3 de novembro de 2020 às 13h58.
Com a proximidade do resultado das eleições americanas, o mercado global volta toda sua atenção para o país americano. Neste período, o setor de petróleo é aquele que vem apresentando mais oscilações, num horizonte em que as petroleiras podem sofrer grandes impactos, a depender da vitória do democrata Joe Biden ou da reeleição do presidente Donald Trump, do Partido Republicano.
As empresas de combustíveis fósseis ainda são responsáveis pela maior parte da matriz energética americana, com destaque para carvão e gás natural. No caso de Trump, são elas que respondem por uma fatia generosa das doações de campanha do republicano. Seu apoio ao setor é público e amplamente conhecido.
No caso de Biden, o candidato vem reforçando seu posicionamento a favor de energias renováveis em detrimento de combustíveis fósseis, o que pode significar um grande impacto negativo nas petroleiras.
Seja qual for o resultado do pleito, as petroleiras continuarão com um papel importante na economia dos Estados Unidos, mas a diferença será no seu protagonismo. Confira as 5 principais implicações da eleição americana para o setor:
1 - Descarbonização do setor elétrico
Biden colocou em seu programa de governo um plano de descarbonização do setor elétrico, que deve atingir seu auge em 2035. A ideia é um prazo de 15 anos para a transição do sistema para energias mais limpas, com foco em eólica e solar, o que deve atingir em cheio as petroleiras.
Por outro lado, se houver reeleição de Trump, a expectativa do mercado é que a transição para energias renováveis seja mais lenta, uma vez que o republicano apoia as políticas do setor e é amplamente favorável à expansão doshale gas.
"Resta saber como será a implementação desse plano de governo, caso Biden seja eleito", diz Marcelo Assis, chefe de pesquisa da consultoria especializada Wood Mackenzie América Latina na área de upstream.
2 - Acordo de Paris
Segundo o especialista, com a vitória de Biden os Estados Unidos podem voltar ao Acordo de Paris, o que obrigaria o país a rever suas políticas de emissões. Mais uma vez, as petroleiras sairiam no mínimo desfavorecidas -- e, no máximo, prejudicadas.
3 - Fracking
Não é segredo para ninguém o apoio de Trump às petroleiras, inclusive na questão do fracking -- polêmico sistema de exploração de petróleo utilizado nas operações de shale gas, com preocupações em torno de possíveis contaminações ambientais.
Biden se posicionou abertamente contra a atividade e falou de proibição do fracking nos Estados Unidos.
No entanto, Assis pondera que as permissões envolvendo grandes campos de exploração por fracking já foram concedidas. "Se Biden proibir o fracking, caso eleito, isso teria um impacto limitado na atividade."
4 - Veículos elétricos
A expectativa é que o segmento de carros elétricos ganhe tração em uma eventual vitória de Biden, com foco em políticas contra os modelos a combustão. Isso pode obrigar as petroleiras a acelerar o processo de transição rumo a um portfólio mais limpo, ao mesmo tempo em que haverá uma queda do consumo de combustíveis convencionais.
5 - Acordo com o Irã
Existe uma expectativa de o governo americano "abrandar" o acordo com o Irã em caso de vitória de Biden, o que pode representar um importanteponto de atenção para o setor, já que o país persa é o quarto maior produtor de petróleo do mundo.
Com isso, o já ocioso mercado global passaria a ter ainda mais oferta. O Irã é capaz de elevar rapidamente a produção e escoar volumes extraordinários de petróleo estocados na região do Golfo Pérsico.
Com uma eventual flexibilização das sanções econômicas impostas por Trump, e que foram intensificadas nesta semana, isso abriria caminho para mais de 2 milhões de barris por dia de exportações de petróleo a partir do Irã. Mais um ponto de atenção imprescindível para o setor globalmente.