Bud, Colorado, Corona e Stella: a avalanche da Ambev contra a Heineken
O sucesso da cerveja holandesa puro malte levou a maior cervejaria do país a um contra-ataque baseado na força de seu portfólio
Lucas Amorim
Publicado em 29 de outubro de 2019 às 06h00.
Última atualização em 29 de outubro de 2019 às 06h00.
Líder absoluta no mercado brasileiro de cervejas, a Ambev acredita ter nas mãos um trunfo para frear o avanço de sua principal concorrente no país, a holandesa Heineken .
Em conferência com analistas na sexta-feira, logo após anunciar resultados tidos como decepcionantes por analistas e investidores, Bernardo Paiva, presidente da Ambev, afirmou ter confiança de que a variedade de marcas da companhia para o mercado premium é um trunfo para os próximos trimestres. “O jogo no mercado premium é de portfólio”, afirmou.
Paiva fazia referência à variedade de marcas da Ambev para este segmento, composto por cervejas de alto volume mas em geral puro malte, que permitem a preços maiores para o consumidor. Ele citou nominalmente cinco marcas como as mais promissoras da companhia para o Brasil: Beck`s, Bud, Colorado Lager, Corona e Stella Artois. Segundo ele, a Bud vai seguir como uma “porta de entrada” para este segmento, e Corona, Beck's e Colorado Lager são as cervejas com maior crescimento da companhia. “Nosso segmento premium segue crescendo dois dígitos”.
A cervejaria anunciou nesta sexta-feira um lucro líquido de 2,5 bilhões de reais no terceiro trimestre, queda de 11,6% em relação ao mesmo período de 2018. O faturamento, por sua vez, cresceu 8%, para 11,9 bilhões de reais. A combinação fez as ações caírem 8% na sexta-feira e fecharem a segunda-feira em nova queda, de 0,35%. Ou seja: em dois dias a Ambev perdeu 26 bilhões de reais em valor de mercado.
A estratégia contrasta com a da principal concorrente no Brasil, a holandesa Heineken, que tem duas marcas fortes para competir no segmento premium: Heineken e Eisenbahn. Segundo EXAME revelou na sexta-feira, a Heineken, acostumada a gerir menos marcas em cada país em que atua, cortou seis das dez variedades da Eisenbahn para se concentrar nas linhas de maior volume. “É uma estratégia oposta à da principal concorrente”, diz um consultor do mercado de cervejas.
A cervejaria holandesa tem cerca de 20% do mercado brasileiro, com potencial de chegar a 25% em 2023, segundo o banco Bradesco BBI. Para isso, está investindo 985 milhões de reais para dobrar a capacidade de produção da Heineken. O anúncio veio após uma série de gargalos na produção da companhia no Brasil, diante da demanda acima do previsto.
Relatório do banco Bradesco BBI afirma que faltaram até as tradicionais garrafas verdes para envasar a cerveja. Este ano o Brasil virou o maior mercado mundial para a marca Heineken, à frente de Estados Unidos, França e Holanda.
Enquanto no segmento premium tanto Ambev quanto Heineken reportam crescimentos trimestrais de “dois dígitos” no Brasil, no segmento popular a fase é das mais difíceis. A queda nos volumes da Heineken, dona da marca Schin no Brasil, chegou a mais de 10% no terceiro trimestre. O segmento ainda responde por 80% da volume total da empresa no país. A Ambev também anunciou queda de 3% em seu volume total no terceiro trimestre, na comparação com o mesmo período de 2018.
Na conferência de resultados na sexta-feira, Bernardo Paiva, da Ambev destacou mais uma vez a variedade de marcas da Ambev como um diferencial no mercado popular. A empresa está investindo no chope Brahma e na Skol Puro Malte, e vem lançando marcas regionais, como Nossa (Pernambuco), Magnífica (Maranhão) e Legítima (Ceará). Elas levam ingredientes baratos como mandioca na formulação e podem custar até 40% menos que a Skol.
O portfólio da Heineken no segmento é mais amplo que no premium, com Schin, Bavária, Glacial e até a Amstel. Do sucesso delas depende os recursos para seguir investindo na maior aposta da companhia no país: a cerveja que dá nome ao grupo e que sofre uma avalanche da concorrência.